Não é não. Chega aos cinemas nas primeiras semanas de outubro um filme que mostra os desenrolares de uma denúncia de agressão sexual e os conflitos que surgem para todos os envolvidos e suas famílias. A Acusação, dirigido pelo cineasta israelense Yvan Attal é um profundo drama que aborda os olhares da lei, das famílias, da opinião pública, sobre um caso de estupro. Um filme impactante que deveria ser exibido em muitos lugares e com debates sobre suas reflexões.
Na trama, conhecemos Alexandre (Ben Attal) um arrogante, privilegiado, com sentimento de
superioridade, mimado, estudante francês de 22 anos que mora nos Estados Unidos
e estuda engenharia em Stanford que durante sua passagem pela França, para
visitar seus pais, um famoso apresentador de TV chamado Jean (Pierre Arditi) e uma ensaísta chamada
Claire (Charlotte Gainsbourg), é
acusado de estupro. Quem faz a acusação é Mila (Suzanne Jouannet), uma jovem de 17 anos que é filha de Adam (Mathieu Kassovitz), um professor de
literatura e Valérie (Audrey Dana), uma
protética dentária. Para complicar mais ainda a situação, Claire e Adam são
namorados. A situação é levada aos tribunais, onde as versões do fato são ouvidas
e julgadas pela lei.
De 20 minutos à perpetuidade. Uma séria acusação, um trauma
para toda uma vida. Quais os argumentos para se duvidar de uma jovem que alega
ter sofrido um abuso? O constrangimento é evidente, logo na denúncia Mila precisa
detalhar para dois policiais homens o que houve, depois é exposta no jogo das
lei, onde o advogado de defesa expõe intimidades e outros traumas. Presenciamos
um pesadelo sem fim de uma jovem que procurou a justiça para ajudá-la com sua
dor.
Vamos sendo guiados pelas óticas dos personagens, não só as
dos dois jovens, mas também de seus pais. Do lado de Alexandre, onde os parentes mais tem
aprofundamento, vemos o pai, figura pública, controlador, mulherengo, inclusive
se relaciona com a estagiária do seu trabalho, parece ter uma relação distante
com o filho mas sem deixar de lhe proporcionar uma vida confortável. A posição
da mãe nessa história é delicada. Ela é uma ensaísta que sempre defendeu a
condenação de qualquer tipo de abuso sexual e ainda por cima a acusação é feita
pela filha do seu atual namorado. Será suas atitudes algum tipo de reflexo de
sua criação?
Vidas despedaçadas, julgamentos sociais. Logo a trama se
caminha para um drama de tribunal onde o que realmente aconteceu se torna algo
em segundo plano pois fica evidente que uma agressão ocorreu, um ato
unilateral, uma ação sem consentimento. Pelo lado da lei, advogados travam
batalhas de argumentos, colocando em exposição a vida íntima de agressor e
vítima.
A palavra de um contra a palavra do outro. Houve
consentimento aos olhos da lei? Qual a verdade jurídica? A Acusação faz o espectador refletir sobre cada conflito que se
segue, mesmo com duas percepções de uma mesma cena, acompanhamos os rumos de um
veredito em relação à lei mas na parte moral a verdade é uma só.