A Solidão e a Solitude. Filme de abertura do Festival do Rio 2022, Império da Luz é um interessante recorte de uma Inglaterra nos anos 80 onde conhecemos uma linda história de amor que tem um cinema como grande palco. A intensidade da paixão, a diferença de idade, o preconceito, o assédio, a literatura, o cinema, são vários os elementos reunidos nessa história brilhantemente escrita e dirigida pelo excelente cineasta britânico Sam Mendes. Emocionante em muitos momentos, com uma atuação digna de Oscar da fabulosa Olivia Colman, o filme nos leva a refletir também sobre a linha tênue entre a solidão e a solitude.
Na trama, conhecemos Hilary (Olivia Colman), uma mulher introspectiva que trabalha em um lindo
cinema de frente para o mar em uma Londres dos anos 80. O cinema em que ela
trabalha é administrado pelo Mr. Ellis (Colin
Firth), com quem a protagonista tem um caso. Certo dia, um jovem e super
carismático chamado Stephen (Micheal
Ward) é contratado para trabalhar no lugar e aos poucos vai se aproximando
de Hilary. Dessa aproximação, surge uma linda história de amor que terão alguns
intensos capítulos ao longo das duas horas de projeção.
O amor aqui é mostrado de forma intensa, com o equilíbrio
chegando de forma sutil através de gostos em comum pela literatura e as
maneiras diferentes de se enxergar a vida. A diferença entre as idades nos leva
a entender melhor os personagens, uma mulher sem muitas expectativas de
mudanças em sua vida com conflitos emocionais provocados por alguns traumas e
esse jovem sonhador, de atos bondosos, que se abala a cada novo episódio de
racismo que sofre em qualquer lugar. Ela, anda na linha tênue entre a solidão e
a solitude, mais do segundo, dentro de um estado de privacidade, quase um
isolamento involuntário. Ele, usa a solidão como fortaleza quando precisa mas
sem deixar de encaixar pitadas de esperança em sua estrada. Esses dois corações
se compreendem, se encaixam, fazendo muito sentido o sentimento que nasce entre
os dois mesmo com o destino batendo à porta, onde escolhas precisarão serem
tomadas.
No roteiro escrito por Mendes (primeira vez que ele dirige a
partir de um roteiro que escreveu sozinho), há uma tentativa de profundidade sobre
a época em que o filme é ambientado, o início dos anos 80, em uma Londres
repleta de ebulições em várias áreas, com os primeiros anos de Margaret
Thatcher como primeira ministra. O preconceito, o racismo, desses tempos é
sentido mais forte por um dos protagonistas, um carismático jovem, negro, que
sonha em entrar na faculdade de arquitetura mas sofre por cada ação de mentes
preconceituosas e violentas que andavam pela cidade.
A magia do cinema acaba encontrando seu cantinho em muitos
momentos por aqui, citações à grandes clássicos do cinema, o dia-a-dia de um
mercado exibidor sempre muito dinâmico naqueles tempos, os clientes malas, os
clientes legais, aquela ansiedade que todos nós sentimos quando esperamos muito
a estreia de um lançamento, a descoberta dos próprios funcionários pelo
grandioso universo de emoções que aparece quando assistimos a um filme.
Império da Luz nos
faz refletir sobre a sociedade de outros tempos e do atual, também sobre o
abstrato mundo do amor, do companheirismo, do querer o bem mesmo com obstáculos
pelo caminho. Sam Mendes emociona com sua obra. Todo bom filme nunca deveria
encontrar um fim em nosso refletir.