A incrível capacidade humana do recomeço. Imagine um mundo onde você tem uma linda família, é estável financeiramente, e ainda por cima é campeão mundial de um esporte que você ama. Agora imagine que após sofrer uma lesão na cabeça, você não lembra de mais anda e precisa reaprender sobre tudo que gira em torno da sua vida. Journeyman: Fora de Combate nos leva para em torno desse recorte, de um homem que precisa se reconectar com o mundo que lhe foi tirado. De maneira angustiante em muitos momentos, mostrando as sombrias e difíceis fases de um recomeço o longa-metragem possui uma narrativa detalhista que vai emocionar até mesmo os corações mais frios. Escrito, dirigido e protagonizado pelo excelente Paddy Considine, o filme não é sobre segundas chances mas sim sobre o recomeçar.
Na trama, conhecemos o experiente pugilista Matty Burton (Paddy Considine), um homem que está em
um ótimo momento na sua vida pessoal, com a chegada de sua primeira filha, que
após a noite onde vence mais uma luta de defesa do título dos pesos médios, quando
chega em casa, sente uma forte dor de cabeça e desmaia. No hospital ele fica
durante um tempo, onde passa por cirurgia e acaba perdendo parte dos movimentos
e da memória. Quando volta para casa, sua esposa Emma (Jodie Whittaker) precisará lidar com difíceis tempos dali em
diante, durante a imprevisível recuperação do marido.
Há um detalhamento sobre o recomeço que nos mostra a ótica
da esposa sobre tudo que precisa passar durante a recuperação dele. A
agressividade é algo que se torna marcante, quase um paralelo de toda dor e
angústia que o atleta começa a nutrir dentro dele causando lapsos explosivos
gritantes. Emma a princípio lida bem com as situações, até se tornarem algo
constante que inclusive, algumas vezes, coloca ela e sua filha em risco. A
partir desse ponto, parece haver uma ruptura na relação da família, um
desencontro com a felicidade. Importante clímax acontece nessa conflituosa
altura dos acontecimentos.
As lembranças viram uma fortaleza nos piores momentos de um
presente imprevisível. A amizade com os amigos de muito tempo, que o conhecem
desde o início de sua trajetória no boxe, acaba sendo um alicerce, mesmo que a
princípio alguns deles não saibam como lidar com a nova situação que passa seu
amigo. O roteiro pontua com maestria o desenvolver dessa nova etapa da amizade. Há espaço também para uma intrigante e quase um contrassenso questão
sobre a culpa. Há culpados para essa situação chegar onde chegou? Há culpados
para quem não soube lidar a princípio com a situação?
Journeyman: Fora de
Combate atinge profundo nossas emoções, como se criasse reflexões em formas
de paralelos sobre os momentos difíceis que todos nós um dia já passamos e
precisamos de ajuda para enfrentar.