O despertar do desalento. Buscando um exercício complicado de fazer refletir sobre as margens de divergentes sentimentos ligados à figura de um pai aos olhos de dois meio irmãos que não se falam faz bastante tempo, o cineasta colombiano Rodrigo Garcia, diretor e roteirista desse projeto, apresenta um passeio fúnebre numa estrada da melancolia, passando por um enterro pra lá de inusitado, que para os olhares mais atentos se torna um recorte interessante sobre os muitos jeitos de enxergar a vida. O filme tá disponível lá no streaming da Apple Tv Plus.
Na trama, conhecemos Raymond (Ewan McGregor) e Ray (Ethan
Hawke), dois meio irmãos que não se veem faz algum tempo e sempre tiveram
em comum muitas mágoas com o pai. O primeiro é metódico, todo certinho, recém
separado, que trabalha no departamento de energia da cidade de Cincinnati no
estado de Ohio. O outro, um mulherengo, um viciado em recuperação, parece viver
seu cotidiano na leveza de não precisar de muito para viver, tem um fascínio
pela música, principalmente o trompete algo que está ligado de maneira muito
emotiva ao seu passado. Após saberem do falecimento do pai, recebem um último
pedido do falecido e assim resolvem embarcar em uma road trip que ativa
lembranças e apresentam surpresas do homem que achavam que conheciam por
completo.
Os irmãos, com o mesmo nome de batismo, vão aos poucos descobrindo
mais sobre a figura paterna que sempre detestaram, um homem que parecia
distante e cruel em muitos momentos de suas vidas. Durante a viagem, conhecem
Lucia (Maribel Verdú), o último amor
de seu pai, uma batalhadora, mãe, que faz bicos no Uber e como bartender.
Através do olhar dela, eles começam a enxergar que estão dentro de uma estrada
sem rumo para conseguirem quem sabe chegar ao perdão ou pelo menos a
compreensão.
A angústia de dormir entre sonhos e pesadelos. A solidão dos sentimentos, aquela mágoa guardada por anos,
aqui é vista como um enorme vulcão, prestes a entrar em erupção. Os
conflitantes sentimentos, da dor, da perda mas também da raiva e das más
recordações, acabam ditando o ritmo desse projeto que faz questão de ter uma
narrativa lenta, que explora o vazio existencial de peças de vidas que nunca
foram encontradas até então. A reconstrução dos personagens através desse jornada
para deixar pra trás o medo e a raiva acaba fazendo muito sentido com as
escolhas que se apresentam dentro das diferentes maneiras de enxergar a vida.