Uma eterna busca por respostas sobre alguém que achávamos que conhecíamos. Um dos filmes mais dilacerantes que chegaram ao circuito exibidor nos últimos anos, Aftersun nos mostra lembranças de uma mulher sobre um feriado que passou com o pai anos atrás, na época que tinha ainda 11 anos. Há conflitos nesse pai que são aparentes, parece a todo instante controlar-se de algum pensamento, alguma tristeza profunda, algo que o filme se dedica aos detalhes. Depressão? Sim, podemos pensar nessa variável. Escrito e dirigido pela cineasta escocesa de 35 anos Charlotte Wells, em seu primeiro longa-metragem da carreira, o filme muitas vezes acontece no detalhe, quando percebemos a importância daquele momento, tudo isso somado a uma narrativa que deixa nosso refletir respirar. Um trabalho primoroso que vai demorar para sair de nossos corações.
Na trama, conhecemos Sophie (Frankie Corio), uma jovem bastante esperta, curiosa, de recém
completos 11 anos, que vai passar férias com o pai Calum (Paul Mescal), que é separado da mãe, na Turquia. Desde a chegada ao
local, Sophie registra tudo com uma câmera, as alegrias, as discussões, as
dúvidas, as descobertas, os marcantes momentos daquele curto período. Percebemos
logo que são lembranças, memórias, com uma carga alta de sentimentos vindos de
vários lados.
Durante o filme você se vê perguntando constantemente: o que
aconteceu com esse pai? Tudo aqui é importante para você buscar entender as
peças embaralhadas da personalidade dele, que tem 30 e poucos anos, e reúne em
sua vida algumas frustrações nas quais está preso emocionalmente. Tudo parece
ter um significado, como se fosse uma pontinha do iceberg do que dizia
internamente, no caos das emoções mais profundas. Por exemplo, a prática do Tai
Chi Chuan com o objetivo de meditação e terapia nos mostra uma busca por algum
ponto de equilíbrio, algo como se fosse uma segurança para um descontrole
dessas tristezas e frustrações constantes.
Rodado em locações na Turquia, vagamente baseado na
experiência pessoal da diretora Charlotte
Wells, em um feriado que ela passou com o pai, esse projeto, que demorou
quase uma década para acontecer, também gera reflexões sob a perspectiva de Sophie,
nos dois momentos de sua vida que parecem entrar em choque em buscas de
respostas na tentativa de decifrar o pai, que nos seus momentos introspectivos
se fechava sem possibilidades de diálogos.
‘Eu falei demais?’ ‘Eu não disse o suficiente?’ ‘Eu acho que
pensei ter visto você tentar.’ Impressionante como a música Losing my Religion, uma das música da
trilha sonora, composição da banda R.E.M.
, encaixa como uma luva no que assistimos em tela. Há culpa? É saudade? Não há
perspectivas de respostas até o desfecho, os arcos conclusivos parecem vir com
mais força chegando com alta carga emocional em um clímax interpretativo e
repleto de significado, principalmente sobre a importância para a personagem
daquelas memórias. Quando deciframos o valor daquelas recordações, nossos
corações ficam apertados, como um abraço que nunca termina, uma música que
nunca para de tocar.