Como resolver os conflitos de almas perdidas querendo sair da escuridão? Percorrendo a década de 60 e entrando que nem uma avalanche na de 70, em terras norte-americanas agitadas pelo crescente e influente universo musical, a minissérie Daisy Jones & the Six explora o caótico relacionamento entre dois líderes de uma banda ficcional que após um enorme sucesso, realizam um emblemático último show e resolvem se separar, nunca mais se apresentando juntos. Baseado na obra homônima da escritora Taylor Jenkins Reid, com um roteiro que teve consultoria de Kim Gordon, da banda Sonic Youth, o projeto, no melhor estilo documentário (mesmo não sendo um!), apresenta dramas contundentes, laços que se quebram, traições, euforias, dilemas em um total de 10 episódios, alguns desses com uma narrativa que abre um olhar mais forte para as subtramas de forma novelesca e outros (como o excelente último episódio) onde brilha a força da harmonia dos protagonistas.
Na trama, conhecemos os integrantes da Daisy Jones & the Six um ex-famoso grupo musical que vendeu
milhões de cópias mas ficou marcado também por um último show feito no final da
década de 70 em Chicago. Anos depois, os integrantes se reúnem por meio de
depoimentos isolados para contar o que houve naquele dia e as razões da banda
nunca mais se reunir novamente. Assim, por flashbacks, acompanhamos um pouco
sobre a criação da banda e tudo de importante que houve no tempo que faziam sua
primeira e única turnê pelos Estados Unidos, com uma lupa maior para os líderes
da banda Billy Dunne (Sam Claflin) e
Daisy Jones (Riley Keough), duas
almas em conflitos permanentes que vão desde o forte interesse amoroso que
possuem um pelo outro até os caminhos quase sem volta de vícios.
Dois caminhos, uma mesma estrada. O sonho de ser um músico
de sucesso percorreu toda a juventude de Billy, optou pela música em vez da siderurgia
ou a guerra, se casou e viu seu mundo que rumava à perfeição dar uma virada com
a chegada da enigmática Daisy. Essa, mesmo tendo todo o conforto que o dinheiro
do pai comprava, é uma alma solitária que amava música desde pequena, viveu
desperdiçando seu talento musical presa à traumas e até mesmo a falta de
carinho dos pais.
A narrativa novelesca que se apresenta, de forma detalhista
em muitos momentos, se molda através dos conflitos desses dois, principalmente
na questão do triângulo amoroso com Camila (interpretada pela ótima Camila Morrone), esposa de Billy, indo
até mesmo em questões existenciais e embates emocionais. Há espaço também para
o cenário musical de um Estados Unidos pulsante, repleto de jovens correndo
atrás do sonho de serem famosos. Também não há o esquecimento de críticas
profundas sobre a indústria fonográfica, principalmente sobre machismo e assédio.
Há episódios que se perdem em enxergar determinada situação
sem apresentar um todo e isso provoca uma certa confusão quando tentamos
entender alguns porquês. Nesses momentos a melancolia e a aleatoriedade tomam
conta como se a espinha dorsal de todo o roteiro fosse caminhando por caminhos
simplistas e previsíveis. Mas a força da história deixa margens de interesse,
desde o episódio piloto queremos saber o que houve com essa banda ficcional que
fora vagamente baseado na Fleetwood Mac,
banda formada em Londres no final da década de 60. Até mesmo o figurino dos
protagonistas da série forma inspirados nas roupas de Stevie Nicks e Lindsey
Buckingham, dois integrantes da banda.
Daisy Jones & the
Six já está com todos seus episódios disponíveis na Prime Video. É um ótimo
passatempo para quem curte reflexões sobre sonhos e histórias de amor que podem
ou não ter um final feliz.