O passado que tentam apagar. Como justificar? Trazendo para reflexões questões sobre injustiças sociais, preconceitos, o cancelamento pelas redes sociais, em uma noite atrás de respostas pelas ruas de São Paulo, acompanhamos um homem que após um vídeo viralizar, acaba condenado por parte da opinião pública em uma situação envolvendo a morte de um policial. Dirigido por Iberê Carvalho e com roteiro do mesmo junto do uruguaio Pablo Stoll (cineasta que dirigiu e roteirizou o aclamado filme Whisky), O Homem Cordial mostra toda a angústia de uma noite de descobertas.
Na trama, conhecemos Aurélio (Paulo Miklos), o vocalista e rosto mais conhecido de uma banda de
rock que recentemente voltou aos palcos desde o final dos anos 90. Durante um
show, um vídeo viraliza, transformando Aurélio em um condenado por parte da
opinião pública em uma situação envolvendo um polícia. Logo o protagonista
sente a forte repercussão do caso e também a covardia do julgamento público.
Assim, ele embarca em uma noite de descobertas, tensão, busca por respostas,
onde vai entender mais de perto o caos social que passam imperceptíveis aos
seus olhos.
O protagonista passa por um processo de transformação na sua
ótica em relação a sociedade em que está inserido. Algumas lacunas são
preenchidas pela obviedade, não são ditas, nem mostradas, o espectador constrói
sua visão na maneira dele pensar: antes um roqueiro cheio de atitude cantando
em alto e bom som suas versões sobre a limitada visão que tinha sobre os
problemas sociais. Tudo isso muda com a situação que passa, percebe que o
buraco é muito mais embaixo.
Angustiante. Essa é uma palavra que caminha nas linhas do
roteiro. Dentro de um recorte profundo sobre as diferentes formas de olhar ao
próximo, muitos temas circulam nos menos de 90 minutos de projeção. A violência
policial, o pré-julgamento, a obsessão pela comunicação superficial dos fatos
que se transformavam em fake news nas mãos de quem usufrui da gangorra do
narcisismo descarado. Em plena luz do dia, ou numa noite qualquer, alguns
desses angustiantes temas circulam por situações em vários lugares de nosso
país.
Premiado em Gramado e Marsele, O Homem Cordial é um retrato
de nosso olhar desigual, de nossas imperfeições como sociedade trazendo aos
olhos do público um debates importantes.