29/12/2023

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Crítica do filme: 'Vidas Passadas'


A incontrolável contramão do destino. Debutando na carreira de diretora, a cineasta sul-coreana Celine Song não podia ter começado com um melhor pé direito. Seu filme transborda sentimentos conflitantes aos olhos de duas almas que parecem complementares mas que o momento certo de se encontrarem muda completamente os rumos de seus destinos. Vidas Passadas é uma poesia em forma de cinema, onde declamações marcantes são vistas, sentimentos borbulham, nos levando de forma avassaladora para o núcleo do sentimento mais profundo que existe.

Na trama acompanhamos em algumas passagens de tempo a relação de amizade e quem sabe até mesmo amor entre Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo). No início amigos de escola, com a imigração da primeira para um outro país ficam distantes, voltando a se encontrar pela internet mais de uma década depois. Após mais uma pausa, sem conseguirem dar aquele passo necessário na relação, se reencontram mais uma década depois, já adultos e estabelecidos profissionalmente, ela uma escritora em Nova Iorque casada com o também escritor Arthur (John Magaro), ele um engenheiro ainda na Coreia do Sul. Um último encontro pelas ruas da cidade mais famosa do mundo, contemporânea, acontece, onde precisam lidar com o que o tempo e o destino tem para oferecê-los. Será o suficiente?

Uma amizade? Um possível amor? A narrativa navega de forma dinâmica e nada melancólica pelos caminhos turbulentos dos encontros e desencontros onde a saudade, palavra forte mas que só tem real significado na nossa língua, acaba virando uma variável constante mesmo na contramão do destino. O roteiro se fortalece com diálogos profundos (alguns fabulosos), na linha ‘pés no chão’, longe de qualquer fantasia, próximo do real, aproximando do espectador as reflexões sobre as inúmeras formas de amar. Há um elemento também forte por aqui, a lembrança. Por ela, conseguimos entender a força que essa relação não definida (e pra que definição né?) ganha novos capítulos com o passar do tempo.

Nessa relação que se estabelece à distância, em distantes linhas temporais, dentro de um discurso que nunca perde o sentido sobre o que se propõe a falar, era necessário uma dupla de artistas que entendessem as interrogações dos borbulhantes sentimentos. Isso acontece. O elenco é fabuloso, Greta Lee e Teo Yoo se completam em cena elevando a qualidade do projeto.

Tendo a força do destino como algo inalcançável, como é na realidade, seja pelas ruas de Nova Iorque ou de qualquer cidade do mundo, Vidas Passadas deixa enormes lições sobre algumas verdades do viver.