A eterna fuga das variáveis incontroláveis que a vida coloca no caminho. Buscando traduzir em narrativa audiovisual um conto de fadas sensual que se tornou um dos livros de maior sucesso na Itália, o cineasta italiano Alessandro Genovesi tem a difícil missão de transformar em cinema uma obra com suas peculiaridades, de mais de 500 páginas, que explora um amor proibido e a repulsa a esse sentimento. O resultado é uma narrativa que paralisa sua criatividade no trivial, na receita de bolo de outras obras, nos levando para conflitos de uma piegas objeção ao amar com um desinteressante e mal explorado ar sombrio.
Na trama, conhecemos Nica (Caterina Ferioli, em seu primeiro trabalho no cinema), uma jovem
com muitos traumas, orfã aos oito anos, que logo é enviada para um lar adotivo,
o orfanato Sunny Creek, chefiado por uma insensível mulher que pratica abusos
psicológicos com todos que chegam. Nesse mesmo lugar, está Rigel (Simone Baldasseroni), um introspectivo
jovem que implica a todo instante com a recém chegada. A protagonista cresce, e
já adolescente, é adotada por um casal que perdeu o filho tempos atrás. Para
surpresa dela, Rigel também é adotado pela mesma família. Ao longo dessa nova
jornada na vida dos jovens, um laço vai se criando e verdades do passado
começam a serem descobertas.
Baseado no romance homônimo de Erin Doom (que também assina o roteiro), O Fabricante de Lágrimas estaciona em uma melancolia sonolenta, que
busca nas emoções de seus protagonistas retratar um caótico conflito ligado à
cicatrizes na alma. De forma nada profunda, escorregando nos clichês, esse
romance adolescente não consegue ter uma narrativa eficiente, fruto de uma construção
corrida que envolve traumas, dor, luto, tendo como foco Nica. Rigel é um mero
coadjuvante, apenas contorna a trajetória de seu par romântico, uma pífia
construção do personagem junto a uma desastrosa atuação de Simone Baldasseroni.
Um filme que poderia explorar, entre outras coisas, lidar
com o perdoar de quem você ama. As variáveis realistas, situações e
principalmente conflitos que podemos achar na realidade estavam todas ali. Algo
que poderia gerar muito mais reflexões. Todas são mal aproveitadas. A maneira
como demonstram os traumas, por exemplo, parece um jogo com peças faltando,
lacunas não respondidas, tudo isso num ritmo corrido sem deixar interpretações
para as emoções e alguns flashbacks que não dizem muita coisa. Se você parar
para pensar e chegar até o filme Crepúsculo,
não é nenhum absurdo, há semelhanças. E isso, não necessariamente, é uma coisa
positiva.
O ar sombrio e sensual nas descobertas do amor buscam trazer
um suspense que não se encaixa às generosas doses dramáticas que dominam os 103
minutos de projeção. A direção de arte nesse ponto até que acerta em alguns momentos,
há um clima imposto nesse sentido para revelações. Muito pouco para convencer,
os personagens mesmo dentro desse contexto não se tornam marcantes em nenhum
momento e isso é como uma flecha irreversível no coração da narrativa.
Top 1 da Netflix em muitos países desde seu lançamento
recente, e com canções das artistas mundialmente conhecidas, como: Olivia Rodrigo e Billie Eilish, em sua trilha sonora, esse longa-metragem italiano parte
do luto, chega na fuga das variáveis incontroláveis ligadas ao amor e encontra a
mesmice. Haja água com açúcar!