O luto que se mostra culpa. O descontrole no uso e medidas de segurança com o desenvolvimento da inteligência artificial leva à uma guerra dos humanos com as máquinas. Algo já muito visto? Sim! Mas em Atlas, novo filme da Netflix, protagonizado pela Jennifer Lopez, o olhar para o trauma, no luto que se mostra culpa parece ser um caminho certeiro que jogado em uma narrativa dinâmica e envolvente encontra um encaixe honesto, com um discurso bem construído. A direção é de Brad Peyton.
Na trama, ambientada em um planeta Terra 28 anos depois do
primeiro terrorista ligado à Inteligência Artificial fugir do planeta, conhecemos
a analista em contraterrorismo Atlas (Jennifer
Lopez) uma mulher de poucos amigos, adoradora de café e xadrez, que recebe
a missão de ajudar na busca e captura de Harlan (Simu Liu), o tal robô que virou vilão ao mudar seus códigos e logo
se tornou um genocida.
Com um rápido contexto, logo somos imersos a uma distopia
onde o medo e a insegurança tomaram conta da população mundial a partir de um
descontrole das tecnologias robóticas produzias pelo próprio homem. Esse ponto
é importante, com menos de 15 minutos entendemos perfeitamente as regras desse
tabuleiro imposto, onde o espectador navega pelo olhar de uma heroína com
muitos problemas no campo emocional. Essa fraqueza da personagem traz uma carga
poderosa de emoção para algumas cenas, nos epicentros dos conflitos que se
encontram em seu destino.
Bombas de íons, link neural, tempestades atmosféricas, robôs
domésticos, a junção do contraste entre o futuro e a tecnologia traça um raio-x
com críticas construídas para paralelos serem traçados na realidade de hoje.
Ampliando os campos de reflexões, as problemáticas do artificial está no centro
de tudo, desde os desafios para uma caminhada lado a lado com a humanidade, até
a junção, aqui exemplificado por uma mente analítica e o choque com a
habilidade de combate e a busca instantânea por dados.
O lado emocional de Atlas, e o grande segredo que esconde de
todos, acaba ganhando muito sentido quando analisamos suas escolhas e o fator
família associado. O papel crucial da criação de sua mãe, até as escolhas que
mudaram trajetórias, ruma esse projeto para uma imprevisibilidade onde existe
várias formas de se auto perdoar. O filme também pode ser considerado,
curiosamente, um filme sobre irmãos, mesmo que essa questão seja pouco
explorada, aí talvez o calcanhar de aquiles de um roteiro eficiente em boa
parte.
Com uma acertada mistura de reflexões mundanas com um
dinamismo muito encontrado em saga dos heróis nos video games, chegamos em cenas
de ação bem construídas, com bom uso dos efeitos. Atlas é empolgante em alguns momentos. Um dos melhores trabalhos de
Jennifer Lopez na última década.