O vai e vem de revelações inesperadas. Apresentando muitas surpresas pelo caminho, A Última Viagem, filme irlandês escondidinho lá no catálogo da Prime Video, usa o clima fúnebre e o flerte com a tragédia para contornar as linhas melancólicas de um roteiro que apresenta reviravoltas importantes mudando o sentido da trama. Esse é um filme sobre pais e filhos, relacionamentos, novas chances, recheado de personagens carismáticos.
Na trama, conhecemos Daniel (Michiel Huisman), um advogado tributário em ascensão na carreira morando
na cidade de Nova Iorque, que está indo para a Irlanda após a morte de sua mãe.
Durante o voo um senhor de idade ao lado da sua poltrona morre e de uma forma
bem inusitada Daniel fica responsável por levar o corpo dele para ser enterrado
ao lado de um parente na Irlanda do Norte. Durante essa jornada, o protagonista
busca se reconectar com o irmão autista Louis (Samuel Bottomley) e acaba conhecendo melhor uma funcionária da
funerária, a carismática Mary (Niamh
Algar).
Dirigido pela cineasta Aoife
Crehan, essa mirabolante jornada a princípio parece ter muitas questões
soltas em subtramas que vão ganhando camadas emocionantes ao longo da projeção,
nos levando até pontos familiares que usam os dilemas de outrora para trazer
entendimento sobre atitudes do presente. Sem adotar flashbacks a narrativa
mergulha nos desabafos e memórias de um protagonista que amadureceu
forçadamente protegido pela família. Há um enorme spoiler que vira o roteiro de
ponta a cabeça (e pra não estragar, sem menções por aqui). Essa carta na manga,
que realmente surpreende, dá um novo sentido para tudo que acompanhamos.
A composição dos personagens é muito bem feita. Mesmo de
forma bem objetiva, ultrapassando um pouco a superfície, entendemos o que
precisamos para juntar as peças de um momento cheio de turbulências em diversas
áreas para todos eles. Esse fato aproxima o público. Há clichês? Há. Mas nada
que nos distancie, pelo contrário nos leva até reflexões profundas. Grata
surpresa!