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17/07/2016

Crítica do filme: 'A Odisseia de Alice'

Acreditar em si mesmo leva a um destino infinito. Acreditar que falhou pode ser o fim da sua jornada. Assim, é preciso recomeçar. Escrito e dirigido pela atriz e diretora francesa Lucie Borleteau, A Odisseia de Alice é uma jornada em busca do saber amar, do conquistar ser reconhecida em sua profissão e também do saber esquecer e seguir em frente. A poderosa protagonista, interpretada pela excelente e bela atriz grega Ariane Labed (vencedora do último prêmio de melhor atriz no Festival de Locarno), é o centro de todos esses conflitos e emoções que vão ganhando um certo charme libertário, com uma pegada feminista, ao longo dos intensos 97 minutos de projeção.

Na trama, conhecemos a jovem engenheira Alice (Ariane Labed), uma mulher de menos de 30 anos que trabalha na marinha mercantil. Entre uma viagem e outra, algumas que duram meses em alto mar, ela acaba reencontrando um dos grandes amores de sua vida, o capitão Gael (Melvil Poupaud). O problema é que Alice deixou em terra seu noivo, Felix (Anders Danielsen Lie - do excelente Oslo, 31 de Agosto) por quem tem grandes sentimentos. Ao longo dos dias, Alice precisará descobrir realmente para quem deseja entregar seu coração, ou se simplesmente prefere viver um dia de cada vez sem compromissos.

Alice, mesmo analisando de maneira trivial, é uma personagem bastante complexa que chega até certo ponto esconder os sentimentos de si mesmo. Há um conflito dentro dela, praticamente um triangulo isósceles onde duas posições mudam de posição constantemente. Lutando pelo reconhecimento em um lugar de trabalho onde vive cercada de homens e poucas mulheres, a protagonista coloca sua profissão em primeiro lugar.

Fica bem claro logo nos primeiros minutos de filmes que estamos prestes a sermos testemunhas de uma trajetória inconsequente de quem não sabe como amar. Há um sentimento bem forte de egoísmo da personagem principal. Alice é adepta da liberdade e, por causa de sua imaturidade nos relacionamentos, nunca pensa como o coração dos outros pode ficar por conta de suas atitudes. Ela sofre, chega próximo do amar mas prefere ser inconsequente. É uma escolha.


Com uma fotografia belíssima e ótimas atuações do simpático elenco, A Odisseia de Alice estreou no circuito brasileiro algumas semanas atrás de vem ganhando diversos elogios da crítica e dos cinéfilos. Merecido, é um belo trabalho.
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26/03/2016

Crítica do filme: 'Desajustados'

O homem nasceu para lutar e a sua vida é uma eterna batalha. Escrito e dirigido pelo cineasta francês Dagur Kári (diretor do ótimo O Bom Coração) Fúsi, no original, é uma grande fábula moderna sobre a solidão e o ato simples de recomeçar a vida. Muito definido em seus arcos, o roteiro navega com muita suavidade para dentro dos sentimentos do protagonista que são lapidados por características bastante peculiares e muito bem executadas pelo ótimo ator Gunnar Jónsson.  Desajustados é um daqueles filmes que entram no circuito de maneira discreta e surpreendem a gente.

Na trama, conhecemos o solitário Fúsi (Gunnar Jónsson), um ser humano que leva uma vida monótona em uma cidadezinha europeia. Fúsi trabalha no departamento de cargas e bagagens do aeroporto de sua cidade e quase diariamente sofre Bulliyng de alguns colegas de trabalho. O protagonista mora com sua mãe e seu padrasto, e certo dia, o segundo matricula Fúsi em uma aula de dança onde ele acaba conhecendo Sjöfn (Ilmur Kristjánsdóttir) e essa pode ser a grande chance dele descobrir uma nova vida.

O protagonista é repleto de curiosidades que fazem dele um ser humano único.  Se diverte jogando uma espécie de war com bonequinhos (Possui na sala de casa um modelo em miniatura da Batalha de El Alamein - durante a Segunda Guerra foi nesse campo de batalha que os aliados derrotaram pela primeira vez os nazistas), janta  no mesmo restaurante toda sexta-feira, quase toda noite liga para a rádio local e pede um heavy metal pesado para o apresentador do canal, além, de gostar de comer algo parecido com Nescau misturado no leite pela manhã, possuir um relacionamento até certo ponto distante com sua mãe e possuir uma capacidade fora do normal de agüentar as inúmeras pancadas que a vida lhe dá. 

Detalhista, a câmera do diretor faz questão de transportar o espectador para qualquer variável que se apresente na trajetória do protagonista. A solidão é muito bem desenvolvida nesta linha do detalhe. Na cena do restaurante, onde a lente da câmera aponta para o guardanapo e talheres que são retirados, já que Fusi jantará novamente sozinho, é delicada e abre espaço para o segundo ato. A questão dos detalhes aponta ainda para uma inteligente analogia entre um campo de batalha e as dificuldades do nosso dia a dia.

Nomeado para alguns prêmios internacionais, Desajustados, diretamente da Islândia, chega ao circuito brasileiro nesses próximos dias e merece muito ser conferido.

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06/12/2015

Crítica do filme: 'Taxi Teerã'

As pessoas do cinema são pessoas em quem se pode confiar. Com estreia no saudoso 65º Festival de Cinema de Berlim (onde ganhou o prêmio de melhor filme), neste ano, o novo projeto do criativo diretor iraniano Jafar Panahi (O Balão Branco), Taxi Teerã, pode ser considerado um conjunto instigante de histórias, espontâneas ou não, que contém muito da cultura e censura de um país que vive fechado em tradições antigas. Vencedor também do prêmio Fipresci, da Federação Internacional de Críticos de Cinema, este longa metragem é um daqueles que você não pode deixar de assistir.

Uma sobrinha tagarela que não faz idéia de que está sendo filmada, um camelô especializado em clássicos do cinema estrangeiro (que não são permitidos no Irã), uma professora e um profissional autônomo que discutem arduamente sobre as punições aos crimes no país em que vivem, uma dupla de senhoras totalmente devotas de suas peculiares crenças, entre outros. Ao longo de 82 minutos de projeção, vamos acompanhando uma série de personagens e assim conhecendo melhor o Irã, através do olhar clínico de Jafar Panahi.

Pelo Táxi de Jafar, vamos sendo impactados pelas diferentes e ricas histórias que vão sendo contadas. Utilizando somente seu dinâmico olhar e uma câmera escondida, bem ao estilo ‘Táxi do Gugu’, o mundialmente conhecido cineasta de 51 anos traz ao público relatos/depoimentos chocantes. Em Duas das partes mais marcantes, ficamos atentos e surpresos. Em uma cena rápida e intensa, entra um homem ferido no táxi acompanhado de sua desesperada mulher que pede para Jafar fazer um vídeo como se fosse uma espécie de testamento do marido ferido. Em outra parte, fala-se muito do que o Sr. Panahi já sofrera, a censura, quando sua sobrinha (de longe, a melhor personagem do filme) declama uma lista de regras impostas por sua professora de cinema para que um filme, no Irã, seja ‘distribuível’.


Quando chega em seu surpreendente desfecho, já bate instantaneamente uma saudade de alguns personagens que acabamos de conhecer. Gugu Panahi nunca deixe de andar com seu táxi por aí. Entendemos melhor o mundo pelos seus olhos.
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12/10/2015

Crítica do filme: 'Eu Estava Justamente Pensando em Você' (Comet)

O tempo e o seu começo, meio e fim. Qual a diferença entre sonhos e lembranças? Porque parece ser tão impossível tentar te esquecer? Escrito e dirigido pelo cineasta norte-americano, estreante em longas-metragens, Sam Esmail (criador de um dos seriados mais aclamados por crítica e público nos últimos anos, Mr. Robot) Eu Estava Justamente Pensando em Você parece uma peça de teatro, com vários cenários, diálogos inteligentes beirando ao tragicômico e dois atores em grande harmonia em cena.

Na trama, acompanhamos a história de amor profunda entre Dell (Justin long) e Kimberly (Emmy Rossum), um jovem casal que se conhece de maneira inusitada e durante um certo período de tempo, vive intensamente todos os bons e terríveis momentos que uma rotina à dois pode oferecer. Indagações sobre a forma de viver, sobre o amor, o pensar os 5 minutos depois de um grande acontecimento, as inseguranças que geram um possível relacionamento. Michel Gondry adoraria conhecer essa história (se já não o fez), as referências a filmes deste grande diretor são inúmeras. Como nos filmes de Gondry, neste lindo trabalho com ar poético, sonhamos enquanto estamos acordados vendo a história passar pelos nossos olhos.

O ‘pra sempre’ assusta a todos nós, mas não é por causa disso que vamos desistir de lutar por ele. Nas passagens temporais (que podem gerar mais de um tipo de interpretação, como várias fases de um relacionamento ou até mesmo imaginarmos os dois pombinhos em diversas situações isoladas, sem nenhuma pré-ligação), argumentos cheios de referências vão decifrando para o público a personalidade intrigante dos protagonistas.


Chuvas repentinas, segredos escondidos e alguns descobertos, passagens de meteoritos. O roteiro é um grande quebra-cabeça emocional/temporal onde o espectador precisa de paciência e se deixar levar para poder compreendê-lo.  Eu Estava Justamente Pensando em Você não é um filme fácil, longe disso. É um trabalho que analisa profundamente uma relação de amor igual ou parecida a muitas outras. Se você já viveu um grande amor, sofreu por amor ou buscar encontrar seu eterno amor, você pode gostar demais dessa fita.
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25/03/2015

Crítica do filme: 'Eden'



Após o ótimo Adeus, Primeiro Amor (2011), a jovem cineasta francesa Mia Hansen-Løve volta as telonas para apresentar um um recorte da juventude francesa nos anos 90. Muito bem centralizado, Eden é profundo em sua análise sobre a cena underground européia, mostrando o cotidiano, seus dramas e dilemas dos eminentes DJ’s do futuro, aqueles que adoram misturar máquinas com vozes. Assim, navegando nas baladas da juventude, vários passagens de tempo vão se tornando importantes interseções do bom roteiro assinado pelos irmãos Mia Hansen-Løve e Sven Hansen-Løve. 

Na trama, conhecemos um grupo de jovens que gostam de se reunir para festas que varam à noite em uma França exposta no início dos anos 90. Ao longo da trama, um dos personagens se torna o protagonista, Paul Vallée (Félix de Givry), um estudante de literatura que abandona tudo para se dedicar integralmente ao universo das festas. Assim, vamos acompanhando todos os bastidores do cenário jovem parisiense. 

Com uma trilha sonora inspirada, com mais de 40 músicas originais doadas ao filme, o local dos prazeres (significado da palavra Eden) mostra, em muitos momentos, reflexões sobre os sonhos de uma juventude que acreditava em seus ideais. Entre a euforia e a melancolia, o desgaste com a não realização completa de seu sonho, leva o protagonista a uma jornada rumo ao fundo do poço provocando sempre um certo preconceito e desconfiança de sua família.

Sem esconder as drogas e os vícios que assombraram, assombram e assombrarão a juventude deste planeta, o grande ponto alto desta fita francesa é tentar transformar o personagem principal em um espectador e avaliador de sua própria trajetória, o que aproxima o público da história. O complicado é dizer se o filme conseguirá atingir a todas as idades, existem cenas não muito detalhistas sobre as idéias e ideais dos jovens da outra década, talvez só quem viveu por aquele tempo possa realmente entender por completo as razões e conseqüências que sofre o personagem principal e alguns dos coadjuvantes.
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23/03/2014

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Crítica do filme: 'The Lunchbox'



As pessoas entram em nossas vidas por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem. E vem da Índia o filme mais delicado do ano até o momento. Escrito e dirigido pelo cineasta indiano Ritesh Batra, em seu primeiro longa-metragem na carreira, The Lunchbox teve uma estreia surpresa no circuito carioca nesta última semana o que fez com que editorias especializadas em sétima arte corressem em pleno fim de semana para as salas de cinema para poder dizer ao público o que esperar dessa surpreendente história. Mesclando comédia, romance e um drama muito bem estruturado, o filme merece aplausos de pé de todo mundo que ama cinema.

Na curiosa história, conhecemos dois personagens que sofrem por amor, cada um à sua maneira. Saajan Fernandes (interpretado pelo excelente Irrfan Khan) é um homem solitário que está prestes a se aposentar depois de 35 anos na mesma empresa. Já Ila (Nimrat Kaur) é uma mulher que se sente muito sozinha, pois, é rejeitada pelo marido que a trai constantemente.  Quando um equívoco no sistema de entregas de refeições de Mumbai - os Dabbawallahs – acontece, todo almoço preparado por Ila para seu marido vai para Saajan. Assim, essas duas almas carentes por um grande novo amor, constroem juntos um mundo paralelo de amizade, carinho e afeto através de bilhetes deixados nas marmitas nas quais as comidas são entregues. Até que certo dia eles resolvem se conhecer pessoalmente.

A narrativa é sensível, gostosa, leve, engraçada, conquista o primeiro do primeiro ao último minuto com elegância e competência. Nos sentimos nos delicados filmes de Fellini, nas conturbadas situações nos dramas de Truffaut, nas boas e delicadas cenas cômicas de diversas comédias francesas. Ritesh Batra consegue encontrar uma fórmula muito interessante de direção e roteiro encaixando cada personagem de maneira harmoniosa com a história. Esse filme é um daqueles que você paga para ver de novo.

The Lunchbox chega ao circuito nacional para dizer definitivamente aos preconceituosos de plantão que o cinema indiano pode ser espetacular e não necessariamente precisa de dancinhas esquisitas no final de suas histórias. Mas e se tivesse dancinhas? Qual o problema? É da cultura alegre deles, isso é louvável. Vai dizer que vocês nunca pensaram em dançar junto com o elenco ao final de Quem quer ser um Milionário?

O filósofo alemão Schopenhauer costumava dizer que o destino embaralha as cartas, e nós jogamos. Não é verdade? O filme mostra exatamente isso. Há uma ação do destino mas quem dá o final da história são ações dos personagens. Esse ótimo longa-metragem indiano merece ser conferido por todo mundo que acredita nos seus sonhos. Às vezes, o trem errado vai para a estação certa. Nunca deixe de acreditar nisso!
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