Mostrando postagens com marcador HBO Max. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador HBO Max. Mostrar todas as postagens

19/08/2023

Crítica do filme: 'Que Horas eu Te Pego?'


A imaturidade e os diferentes tempos em que se chega até a maturidade. Escrito (em conjunto com John Phillips) e dirigido pelo cineasta ucraniano Gene Stupnitsky o longa-metragem Que Horas eu te Pego? , que teve uma passagem relâmpago no circuito exibidor brasileiro, foca seu desenrolar na vida de uma mulher no início dos 30 anos sem muitas pretensões na vida, vendo seus problemas se amontoarem a cada dia. Água com açúcar e recheado de clichês, o projeto busca suas reflexões pelas entrelinhas se tornando uma aceitável Sessão da Tarde.


Na trama, conhecemos Maddie (Jennifer Lawrence), uma mulher que tem o fracasso como sobrenome, não conseguindo se desenvolver em nenhuma carreira e com a vida pessoal indo aos trancos e barrancos, estacionada numa acomodada bolha vendo o tempo passar sem sair do lugar. Certo dia, durante o verão nova iorquino, mais precisamente na cidade de Montauk, onde mora, responde a um anúncio feito pelos pais do jovem Percy (Andrew Barth Feldman) onde buscam contratar uma jovem para namorá-lo. Precisando da quantia oferecida, ela embarca nessa jornada e aos poucos começa a entender também o lado do jovem que precisa conquistar.


A narrativa busca traçar paralelos entre desilusões de duas gerações diferentes. O significado do fracasso e a necessidade do vencer em um mundo competitivo, impulsionado pela força capitalista onde que tem mais dinheiro tem mais possibilidades ganham força. As diferentes formas de amar, a amizade, se misturam na arte de aprender com o outro, aqui também se encontra um olhar interessante, mesmo que feito de maneira caricata, para os pais controladores. Longe de ser um estalo que chega em nossas vidas, a maturidade desperta mudanças significativas na forma de como o indivíduo enxerga a própria vida. Essa transformação acontece com a protagonista que aprende e ensina ao longo de todas as inusitadas situações que vive.


A fórmula de bolo, com direito a clichês e cenas exageradas feitas para causar reflexões através do entreter marcam Que Horas eu te Pego? que não chega a ser uma comédia descartável mas um filme que vemos e esquecemos que nem alguns da saudosa Sessão da Tarde.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Que Horas eu Te Pego?'

12/08/2023

Crítica do filme: 'Serpico' *Revisão*


Em uma de suas maiores atuações nas telonas, o astro do cinema Al Pacino protagonizou 50 anos atrás um impactante projeto que nos leva para um olhar sobre a corrupção em longa escala na polícia de Nova Iorque na década de 60/70. Dirigido pelo excelente cineasta norte-americano Sidney Lumet, Serpico joga a moralidade para a evidência, um escudo de um protagonista que enxerga no seu sonho de ser policial uma caótica realidade sem saída. Indicado para dois Oscars (Melhor Ator e Roteiro Adaptado), o projeto, baseado em fatos reais, traça um recorte social importante com fortes críticas sobre quem deveria prezar pelas boas ações e honestidade.


Na trama, conhecemos Frank Serpico (Al Pacino), um policial boa praça, honesto, correto, íntegro, presente na guerra da coreia, descendente de italianos, que desde seu início na polícia de Nova Iorque presenciou absurdos em ações de outros policiais. Com a força policial dominada pela corrupção em todos os níveis, sem perder seu lado da moral, com ele não existe posicionamento em cima do muro, se torturando pela sua causa, que abraça com poucos incentivadores, vê amores indo embora, e um rompimento abrupto com a felicidade de sua vida pessoal. Aos poucos, quase sempre realizando suas rotinas como policial à paisana, ele resolve encontrar soluções para denunciar tudo que enxerga em todas as delegacias que é designado, sendo um alvo fácil de corruptos.


Baseado no livro homônimo do jornalista Peter Maas, biógrafo do verdadeiro Serpico, a narrativa busca traçar com muita coerência a trajetória de um policial que ficou entre a cruz e a espada, sem saber em quem confiar, como se sentisse um peixe fora d’água lutando para não compactuar com a normalização do errado. A desconstrução do personagem acaba-o o tornando também um anti-herói pelos descontos em seus relacionamentos amorosos, machista, metido a garanhão, acaba rompendo linhas na vida pessoal, situação que afeta seu relacionamento mais duradouro jogando para escanteio qualquer felicidade a longo prazo. O medo e a infelicidade transbordam no olhar dos seus próximos.


A instituição policial, definida como principal arma de defesa de qualquer sociedade, aqui é colocada em xeque, com a normalização do errado, dos abusos, da ganância desenfreada. Como enfrentar o sistema sendo um dos poucos a lutar contra? Lumet consegue ir fundo no seu olhar crítico sobre o caos dessa instituição. O papel da imprensa chega forte no desfecho, uma ferramenta que se torna necessária para causar impacto e jogar ao mundo os absurdos de ações policiais principalmente o pagamento de propinas por toda a cidade.


Pra quem ainda não viu, ou gostaria de rever, o filme está disponível no ótimo catálogo da HBO Max.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Serpico' *Revisão*
,

Crítica do filme: 'Adeus, Lenin!' *Revisão*


Chegou aos cinemas 20 anos atrás um longa-metragem alemão que impactaria os amantes da sétima arte com um recorte profundo, inteligente, divertido e emocionante do final da década de 80 quando após a queda do famoso Muro de Berlim uma família se blinda de mentiras por conta de uma situação peculiar, transformando um quarto numa espécie de museu de recordações de um tempo que nunca mais iria voltar. Adeus, Lenin! dirigido por Wolfgang Becker, transforma sua brilhante narrativa em uma aula de história e também de amor, entre um filho e sua mãe.


Na trama, conhecemos Alex (Daniel Brühl), um jovem morador da Alemanha Oriental, que tinha o sonho de ser astronauta e vive em um modesto apartamento junto de sua irmã e sua mãe. Essa última é uma influente mulher nos tempos de socialismo só que sofrera bastante no campo emocional, principalmente quando o marido a abandonara e nunca mais deu notícias. Durante uma passeata, mesmo que sem participar dela, a mãe sofre um ataque cardíaco e entra em coma. Em paralelo o Muro de Berlim não existe mais e a a crescente ocidentalização chega para o lado ex-oriental. Após 8 meses em coma, a mãe acorda milagrosamente, assim é dito pelo médico que ela não deve passar por grandes emoções. Alex então tem uma ideia mirabolante que é esconder que o socialismo alemão acabou transformando o quarto da mãe em um museu de memórias sobre aquele tempo. Mas será que ele conseguirá mentir pra sempre?


As descobertas culturais de um ocidente logo ali. A narrativa é brilhante em mostrar os impactos da crescente ocidentalização na visão de Alex e sua família. Ele consegue um emprego como instalador de antenas parabólicas e por meio do olhar do próximo vai tentando se encaixar em uma realidade nova, repleta de variáveis que ele nunca imaginara. Essa troca de ideologia política e seus rápidos impactos sociais, culturais e econômicos, chega ao mesmo tempo em que o protagonista encara a chegada do primeiro grande amor, uma enfermeira soviética que cuida de sua mãe, uma jovem que o ajuda a lidar com as transições desse momento.


Com a mentira precisando ser executada, através das suas mirabolantes criações para não deixar a mãe saber que o socialismo acabou, Alex acaba percebendo aos poucos que as descobertas culturais de um ocidente logo ali era uma questão de tempo e acaba criando todo um contexto como se daquela forma fosse a que ele gostaria que o rompimento acontecesse.


Há um olhar sobre a relação entre pais e filhos muito tocante. Um amor de um filho por sua mãe, a construção de uma família em meio a questões políticas importantes, um futuro promissor mas mesmo assim incerto repleto de laços quebrados onde a memória se torna uma peça importante do lembrar.


Adeus, Lenin! é muito mais que uma grande aula de história, é um filme que transborda as infinidades do amor, dos laços familiares em um mundo em constante modificações.



 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Adeus, Lenin!' *Revisão*

05/07/2023

Crítica do filme: 'Frio nos Ossos'


Uma casa isolada, quartos trancados, uma família que vive reclusa em uma enorme fazenda, uma visita inesperada em uma noite de forte tempestade. Esses são alguns dos elementos de uma surpreendente trama onde relações familiares conflitantes são a base para descobertas e segredos escondidos. Dirigido pelo cineasta alemão Matthias Hoene e escrito por Neil Linpow (que também interpreta um dos personagens do filme) Frio nos Ossos busca detalhar ao espectador passados de perdas, conflitos, vingança e loucura através de personagens esgotados emocionalmente que parecem estar prestes a serem confrontados dentro de suas bolhas criadas como proteção.


Na trama, conhecemos uma mãe super ativa (Joely Richardson), ex-anestesista, que vive com sua filha Maisy (Sadie Soverall) e o marido (Roger Ajogbe) em uma enorme fazenda numa área rural da Inglaterra, um lugar longe de tudo e todos onde o hospital mais próximo fica à 160 quilômetros de distância. Certo dia, em uma noite de tempo horroroso, dois irmãos bastante suspeitos batem na porta da família, que mesmo em dúvidas, resolvem ajudar. O que acontece dali pra frente é um jogo psicológico proposto através das ações e consequências, onde aos pouco vamos, através de atitudes drásticas, conhecendo as verdades de cada um daqueles personagens. Nos perguntamos até os minutos finais: O perigo vem de fora ou está dentro da casa?


O roteiro gira em torno da tensão, da composição de ações desesperadas onde laços maternais são elos, dentro de visões particulares conflitantes em relação ao passado dos personagens. Esse último ponto apresenta chocantes momentos de tensão ao longo dos 90 minutos de projeção. Aqui as reviravoltas são substituídas por surpresas, tudo é muito bem explicado, quando entendemos um fato, não há dúvidas sobre ele, isso tudo dentro de clima nada amistoso e constante no ar, com um ritmo intenso.


Quando as peças mostram suas verdadeiras faces ao público, dentro desse tabuleiro cheio de angústia, um jogo psicológico é proposto através das ações e consequências, assim conhecemos melhor todos as interpretações dos fatos que se seguem pelos personagens. Não importa o ponto de vista que refletimos, é possível sair daquela bolha que torna a tragédia algo constante e também iminente? Escolhas são portas que se abrem o tempo todo, para cada um dos personagens. Tem o aspecto psicológico pronto para análises e debates, principalmente na figura da mãe interpretada magistralmente por Joely Richardson. Sua personagem inclusive não tem nome revelado, apenas sendo chamada de mãe a todo instante. E esse ponto, dos laços maternais, é a interseção que navega as brilhantes linhas do surpreendente roteiro.


Disponível no catálogo da HBO Max, Frio nos Ossos prende a atenção do espectador do início ao fim. É um daqueles filmes onde tudo pode acontecer, onde desconfiamos de todos os personagens dentro de uma pulsante narrativa.

 


 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Frio nos Ossos'

25/05/2023

,

Crítica do filme: 'Tina'


Se você não cura as feridas do passado, você vive sangrando. Como contar a história de uma das maiores cantoras da história? Ao longo de cerca de duas horas, dirigido pela dupla Daniel Lindsay e T.J. Martin, o documentário Tina nos mostra com detalhes a trajetória profissional e momentos chaves pessoais da inesquecível Tina Turner. A sensualidade, o carisma, a energia, o sucesso, a fama, se entrelaçam com seu passado, voltando décadas atrás, para memórias de enormes traumas, ligados ao abandono de seu pai e sua mãe quando criança até os longos anos em que foi abusada e violentada pelo ex-marido. Esse projeto é o raio-x completo da vida intensa de uma mulher poderosa que soube se reinventar depois dos 40.


Disponível na HBO Max, repleto de imagens e gravações de shows antológicos, além de fitas k7 antigas com gravações de inúmeras entrevistas de momentos importantes na carreira da cantora, o projeto indicado para três prêmios Emmys em 2021 nos leva num primeiro momento até a década de 50, no Tennessee, onde a jovem Tina se encontrou com suas primeiras referências musicais, no gospel, no blues, na música de B. B. King, assim logo conseguiu uma vaga para cantar no coral da igreja batista quando adolescente. Aos 17 anos, foi chamada ao palco pela primeira vez dando início assim à carreira profissional, ao lado do ex-marido Ike Turner. O sucesso veio ao mesmo tempo que a violência, nos momentos difíceis na primeira fase de sua carreira profissional, principalmente no relacionamento repleto de situações absurdas com Ike.


Essa corajosa mulher, que ensinou Mike Jagger a dançar e que nunca estudou dança, nem música, tendo como sua marca registrada a voz marcante, suas pernas saltitantes, sua impressionante presença no palco precisou se reinventar quando enfim se livrou do ex-marido. Nessa fase, tudo foi novo de novo para ela, empresário que nunca havia trabalhado, uma maior liberdade artística enfim assinando sua carreira conforme ela queria. Nesse momento, sua carreira logo atinge o ponto mais alto, com sucessos marcantes como o número 1 da Billboard na época: ‘what's love got to do with it’. Em meados da década de 80, no auge da carreira, assinou para participar do filme Mad Max - Além da Cúpula do Trovão.


A menina que tinha o sonho de lotar plateias pelo mundo, feito apenas conseguido por alguns na época, principalmente no disputado universo do Rock and Roll, chegou lá! Até mesmo o marcante show no Rio de Janeiro, para mais de 180 mil pessoas, no final da década de 80, foi lembrado no documentário. Em meio a shows e mais shows e uma enorme preocupação com a carreira, o lado mãe também ganhou espaço, os tempos longe dos filhos e todos os conflitos que viveu ao longo da criação deles.


Tina, nos mostra de maneira impressionante como essa impactante super estrela conviveu durante anos com conflitos que levou por toda sua vida mas sem deixar de brilhar um segundo quando subia no palco.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Tina'

21/03/2023

Crítica do filme: 'O Faixa Preta - A Verdadeira História de Fernando Tererê'


Os caminhos e conflitos para a glória. Chegou ao catálogo da HBO Max nesse mês de março uma das mais incríveis história de superação no esporte brasileiro, uma jornada que começa na origem humilde de um homem que colecionaria títulos no disputado universo do Jiu-Jitsu  mas que no auge da carreira enfrentou muitas dificuldades por conta do vício em drogas e logo após um transtorno mental que colocou em dúvida o seguir em frente na carreira. O Faixa Preta - A Verdadeira História de Fernando Tererê em pouco mais de uma hora e meia de duração, de forma bem objetiva, sem muita profundidade, molda sua narrativa em torno de um famoso fato dessa trajetória que abre e fecha o longa-metragem.


Na trama, ambientada nos anos 90, baseada em fatos reais, conhecemos Fernando Augusto da Silva, o Tererê (Raphael Logam) nascido e criado na favela do Cantagalo no Rio de Janeiro. Desde a infância se interessa pelo universo da luta e já adolescente consegue a chance de treinar em uma academia de Jiu-Jitsu. Ele desenvolve sua técnica sempre sobre os olhos de inspiradores professores e começa a competir profissionalmente virando campeão mundial por mais de uma vez. Só que no auge da carreira, com o nome consolidado entre os melhores da história, Tererê começa a se envolver com drogas pesadas levando tudo que construiu praticamente às ruínas. Nessa época ele até vendeu sua faixa preta por 5 reais. No meio disso, ainda descobre estar com esquizofrenia, uma doença sem cura. No fundo do poço, Tererê consegue se reerguer aos poucos, com a ajuda da família e dos amigos.


Um homem e suas batalhas. A vida de Tererê nunca foi fácil. Nascido no final da década de 70, sempre muito próximo da violência, por conta do lugar aonde nasceu, encontrou no esporte uma maneira de fugir daquela realidade. O filme busca mostrar os primeiros passos no Jiu-Jitsu, a importância das boas referências, os paralelos com a paciência e a disciplina dessa arte marcial oriunda da índia que se aperfeiçoou no Japão e criou raízes no Brasil por meio da família Gracie.


Nas partes onde os conflitos se escancaram aos nossos olhos, tendo conseguido muito e depois perdido tudo (academias, respeito, dinheiro, investimentos), vemos pontos de vistas diferentes sobre o mesmo drama, tererê jogado ao caótico universo das drogas e todo o sofrimento de amigos e família em busca de encontrar ajuda para ele. Essa história que vai da glória, ao desastre chegando na redenção tem um momento marcante que envolve outro grande lutador brasileiro, Alan Finfou, o homem que comprou a faixa preta de Tererê (seu primeiro mestre) e num ato inesquecível num campeonato europeu se tornou personagem importante na história do seu mestre.


Mesmo corrido em alguns momentos, principalmente na sua introdução, a narrativa modela seu desenvolvimento nos fortes conflitos pessoais do protagonista e suas lutas constantes dentro e fora do tatame. Dirigido por Caco Souza e com roteiro de Rangel Neto, O Faixa Preta - A Verdadeira História de Fernando Tererê é uma das mais impactantes histórias do esporte brasileiro, uma vida que merecia ter sua história contada na telona.



Continue lendo... Crítica do filme: 'O Faixa Preta - A Verdadeira História de Fernando Tererê'

19/03/2023

Crítica do filme: 'Navalny'


A luta contra a opressão em um país que tem o mesmo líder faz 23 anos. Vencedor do Oscar de melhor documentário em 2023, Navalny nos mostra parte da trajetória recente de um advogado e blogueiro na casa dos 40 anos que acaba sendo o grande opositor ao governo Russo e seu comandante Vladimir Putin. O projeto foca nas estratégias de campanha de Alexei Navalny, em busca de apoio, que usando a internet como uma verdadeira força, uma ferramenta de comunicação que o governo russo não consegue controlar, acaba ficando muito famoso em todo o planeta. Dirigido por Daniel Roher, Navalny possui algumas surpresas que acontecem no caminho e ditam o ritmo do filme até seu desfecho faltando em partes uma profundidade maior no passado do protagonista. Confrontado de relance nesse mesmo documentário sobre polêmicas em seu passado, apenas disfarça.


Pra entender melhor essa história, é preciso se ambientar com o sistema político russo, o semipresidencialismo, onde o poder executivo é partilhado entre o presidente eleito pelo povo e o primeiro-ministro. Até agora, no século XXI, o país só viu um presidente, Vladimir Putin, que está no cargo desde o ano 2000 após substituir Boris Iéltsin. E isso pode perdurar mais um tempo, já que Putin sancionou recentemente uma lei que lhe permite concorrer para mais dois mandatos.


Profissão mais perigosa do mundo? Ser político em uma Rússia comandada por uma mesma pessoa faz quase 20 anos realmente não é uma tarefa simples. Putin e seus comandados criam embates, barreiras, contra qualquer tipo de ascensão política e ainda se fortalecem por uma oposição cada vez mais fragilizada. Em 2024, novas eleições estão marcadas na terra da segunda maior potência nuclear do planeta. Será que algo vai mudar?


Assim chegamos em Alexei Navalny que começou a andar pela política quando em seu blog, muito acessado, começou a denunciar irregularidades em empresas estatais russas e logo subiu em palanques e passou a ser o mais conhecido rosto opositor à Putin. Ele foi inclusive banido de concorrer as eleições em 2018 por uma suposta condenação criminal no passado. Proibido de se expressar nos principais meios de comunicações de seu próprio país, o carismático político, pai de dois jovens, em seu canal com mais de 13 milhões de seguidores, virou sensação no meio político mundial e uma enorme dor de cabeça para o governo de um um país com a expectativa de vida apenas na casa dos 60 anos.


O documentário, rodado em tempos recentes, foca na aliança de Navalny com um jornalista búlgaro que mora em Viena e investiga crimes na Rússia. Ambos passam por uma angustiante jornada quando uma tentativa de envenenamento de Nalvany é realizada usando Novichok, um poderoso veneno criado pelos russos faz mais de 40 anos atrás. Com essa informação nas mãos, Navalny e sua equipe investigam o envenenamento, sequência surpreendente que logo vira o clímax do documentário.


Será então essa uma batalha igual que vemos toda hora nos filmes? Entre um herói e um vilão? Entre o bem e o mal? Não é bem assim e aqui mora o calcanhar de aquiles desse vencedor do Oscar: não conseguir criar um recorte mais profundo desse impactante protagonista que tem seus méritos na corajosa luta contra Putin mas que já foi criticado até mesmo pela Anistia internacional  por tristes falas em seu passado.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Navalny'

01/03/2023

,

Pausa para uma série: 'C. B. Strike'


O encontro da melancolia bruta e a objetiva razão. Buscando uma união entre características de vários detetives famosos do mundo da literatura para um moldar de um protagonista, um ex-veterano de guerra com um enorme trauma, imerso numa bolha de melancolia tendo à sua disposição apenas o seu modo de pensar limitado aos aspectos negativos de cada situação que aparecem em seu caminho, C. B. Strike, baseado nas obras assinadas por Robert Galbraith, pseudônimo da criadora do universo de Harry Potter, a escritora britânica JK Rowling , é um seriado que vai se construindo aos poucos sempre nos complementares contrapontos de seus intrigantes personagens. Ao longo de poucos mas intensos episódios por temporada, esse projeto é um prato cheio para os amantes de grandes mistérios.


Na trama, conhecemos Cormoran Strike (Tom Burke), um condecorado ex-membro do exército britânico que teve uma parte do corpo amputada. Ele é filho de um famoso artista (como quem não se dá bem). Tempos atrás resolveu abrir um escritório de investigações que atualmente, e também após o término com a ex-epsosa, vai de mal a pior. Tudo parece começar a mudar com a chegada de Robin (Holliday Grainger), sua nova assistente, uma jovem com grande vontade de trabalhar como detetive. Ambos embarcam em jornadas misteriosas buscando decifrar não só os crimes terríveis que aparecem pelo caminho mas também as mentes por trás.


Pouco falado no Brasil, o seriado britânico, produzido pela própria produtora de JK Rowling, Brontë Film and Television, possui muita eficiência em sua narrativa, trazendo para o público um raio-x de dois intrigantes personagens que mesmo sendo muito diferentes, se completam. Strike é amargurado, sempre tenso, parece ter um futuro incerto, bagunçado que nem seu escritório. Ele não é brilhante mas persistente, teimoso, características que transformam ele numa figura imprevisível e inconsequente. Robin por sua vez é a razão em pessoa, super organizada parece ter um apetite para investigar qualquer tipo de caso como se não houvesse problema em ser o braço direito de quem quer que seja.  Dessa relação, portas se abrem e ao longo dos episódios vamos vendo um clima de tensão que sempre está no ar.


Os casos são brutais e dizem muito sobre a psiquê humana. Desenhado a partir de um foco grande no motivo, nos porquês, até as surpresas de quem está por trás do executado, vamos acompanhando na visão dos protagonistas diversas batalhas emocionais que precisam enfrentar para chegarem em um veredito. Cada intrigante caso mexe demais com a relação deles, e a forma como cada um pensa sobre o outro. 


C. B. Strike é feita para os amantes dos grandes clássicos de mistérios, daqueles personagens inesquecíveis que sempre estão em nosso imaginário, como: Sherlock, Poirot, Maigret. Somado a isso, há uma análise profunda sobre os personagens, repleto de dilemas,  brilhantemente interpretados por Grainger e Burke. Todas temporadas estão disponíveis na HBO Max.


Continue lendo... Pausa para uma série: 'C. B. Strike'

18/02/2023

Crítica do filme: 'Jogada de Amor'


Devagar se vai ao longe. Dirigido pelo cineasta italiano Riccardo Milani e disponível no catálogo da HBO MAX, a comédia romântica italiana Jogada de Amor nos apresenta uma história de amor sobre um solteirão de quase 50 anos que adora inventar as mais mirabolantes mentiras para seduzir mulheres por onde passa e sua jornada de desconstrução após conhecer uma mulher paraplégica. A narrativa busca de forma leve e descontraída, sem ser vulgar, refletir sobre o preconceito e a acessibilidade em uma Europa que possui cerca de 120 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência.


Na trama, conhecemos Gianni (Pierfrancesco Favino) um mentiroso compulsivo, egocêntrico, arrogante, que adora desfilar seu carrão pelas ruas de Roma, dono de uma empresa de calçados com grande sucesso no mercado que gosta de contar vantagens para os amigos tão machistas quanto ele em relação as suas conquistas, todas elas baseadas em mentiras para embarcar em relacionamentos logo descartáveis. Certo dia, tentando seduzir a vizinha de porta do apartamento de sua mãe recém falecida, acaba conhecendo a bela violinista Chiara (Miriam Leone), que anos atrás, após um trágico acidente de carro, acabou perdendo os movimentos das pernas. Desse encontro, acaba nascendo uma relação que vai crescendo mas precisando enfrentar diversos conflitos pois Gianni à princípio mente dizendo também ser paraplégico.


Parece filme da sessão da tarde, enxergamos por todo seu percurso um conjunto de clichês de braços abertos com a narrativa. Mas isso não é um problema! A irreverência aqui, até um pouco exagerada, é verdade, busca conscientizar e acabamos entrando em reflexões sobre duas questões. O preconceito e a acessibilidade chegam com leves pitadas críticas, principalmente nessa segunda questão talvez pelo fato de 10 anos atrás, o país hoje comandado pelo presidente Sergio Mattarella fora condenado pelo TJUE (Tribunal de Justiça da União Europeia), Órgão que tem jurisdição sobre matérias de interpretação da legislação europeia, por não ter na maioria de seu território a aplicação de estruturas básicas de acessibilidade.


Eu andei pelas ruas do amor. E elas estão cheias de lágrimas. Com direito a Rolling Stones na trilha sonora, que chega forte em nossos ouvidos com a canção Streets of Love (que bem podia ser o título do filme), outro fator que assistimos ao longo das quase duas horas de projeção é a crise de meia idade que passam os dois personagens e suas lutas de confrontarem decepções de outrora e se jogarem na estrada de como é bom se sentir amado. Ambientado na sempre romântica e badalada capita italiana, que antigamente era o centro político e religioso da civilização ocidental, Jogada de Amor convence nossos corações sem esquecer de refletir sobre assuntos importantes da realidade.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Jogada de Amor'

12/01/2023

Crítica do filme: 'I Wanna Dance With Somebody - A História de Whitney Houston'


O eterno desejo de dançar com alguém que amamos. Dirigido pela cineasta norte-americana Kasi Lemmons (do elogiado Harriet - O Caminho para a Liberdade), I Wanna Dance With Somebody - A História de Whitney Houston é um filme homenagem, uma celebração à todos os fãs da espetacular cantora norte-americana Whitney Houston que faleceu de maneira triste e precocemente mais de uma década atrás. Dito isso, a narrativa, aqui no sentido de como é contado tudo que assistimos, busca mostrar uma história por meio das canções e se enrola completamente, sumindo com a magia do ponto mais alto de tensão numa narrativa aguardado ansiosamente por quem vai assistir sobre um filme da cantora conhecida como ‘A Voz’. Parece que estamos ligados na antiga MTV, vendo clipes musicais sem parar deixando lacunas a todo instante pelo caminho sem encostar na profundidade. No papel principal, a competente atriz britânica de 31 anos Naomi Ackie, que inclusive já venceu um BAFTA TV Awards por seu papel em sete episódios no seriado The End of the F***ing World.


Na trama, conhecemos Whitney Elizabeth Houston (Naomi Ackie), uma jovem nascida em Nova Jérsei, que desde cedo frequentava o coral da igreja do bairro onde morava com sempre com sua mãe ao lado Cissy (Tamara Tunie). Durante uma apresentação em um modesto bar, seu destino cruza com o do influente na área musical Clive Davis (Stanley Tucci) com quem logo assina seu primeiro contrato profissional. O início já é arrebatador e o sucesso chega de forma meteórica. Ao longo do tempo vamos acompanhando momentos chaves da vida da protagonista, sua íntima relação com a amiga Robyn (Nafessa Williams), seu relacionamento conturbado com o pai John Huston (Clarke Peters), seu casamento com o também cantor Bobby Brown (Ashton Sanders) e suas recaídas no universo do álcool e drogas.


Como afastar as tristezas se para ela tudo tinha sido feito certo até o momento. O filme se afasta de qualquer profundidade quando não busca refletir sobre as intensidades dos conflitos que cercaram a trajetória da cantora. Até começa dando esperanças em atingir além da superfície já com um abre alas mostrando a relação com a melhor amiga e também interesse amoroso Robyn. Mas aos poucos vamos entendendo que o roteiro foca na força das canções e esquece a história. Tinha tanto para se aprofundar... seja com as desconfianças com o pai, a relação pouco explorada no filme com a mãe (figura importante pra sua iniciação vocal), o conturbado relacionamento com o marido Bobby Brown, algo que volta e meia aparecia nas capas de algumas revistas sensacionalistas da época, ganha seu momento já rumando para os arcos finais que fez questão de não mostrar o desfecho triste de Whitney mas sim relatar algumas horas antes do fatídico dia.


Contar uma história tão complexa, de altos e baixos, e com alta exposição na mídia (como foi durante toda a carreira da homenageada) não seria algo muito fácil. O roteiro assinado por Anthony McCarten, indicado já para dois Oscars na carreira, na categoria roteiro adaptado (Dois Papas e A Teoria de Tudo) naufraga por caminhar na superficialidade, por não encontrar a força para se chegar a algum clímax de um filme que tem cerca de 95% de suas cenas com músicas utilizando o processo de sonorização de uma gravação prévia de trilha sonora (o playback) com a voz da Whitney Houston. E falando sobre curiosidade, Kevin Costner (o eterno Guarda-Costas) e Oprah marcam presença por imagens de arquivo.



Continue lendo... Crítica do filme: 'I Wanna Dance With Somebody - A História de Whitney Houston'

05/01/2023

Crítica do filme: 'É Apenas uma Fase, Amor'


Os desenrolares da frustração e as novas chances que o destino reserva. A simpática fita alemã É Apenas uma Fase, Amor, disponível no catálogo da HBO Max, aborda uma enorme crise em um relacionamento de anos, de um casal que para todos era perfeito, navegando de maneira divertida e também emocionante na constatação da infelicidade dentro de um conceito que explora o envelhecimento precoce de toda a geração X. Dirigido pelo cineasta Florian Gallenberger, vencedor do Oscar de Melhor Curta-metragem em 2001 com o filme Quiero ser (I want to be...).


Na trama, ambientada na cidade de Colônia, na Alemanha, conhecemos um escritor Paul (Christoph Maria Herbst), pai de três filhos, já batendo nos quarenta e poucos anos, que passa por uma fase de observação sobre a importância do sexo na sua vida o que também o leva a refletir sobre como era no passado. Sua esposa, Emilia (Christiane Paul), uma atriz que trabalha como dubladora, já dá sinais de esgotamento pela distância que os separam, diferente de outros tempos onde eram bem mais animados e grandes desbravadores das estradas da vida. Eles então enfrentam uma iminente separação que vão fazer com que essas duas almas repensem sobre tudo que viveram (e como querem viver) suas vidas a partir dessa ruptura.


O filme navega em cima de um conceito próximo de uma grande sessão de terapia onde vemos os personagens, cada qual na sua ótica, se redesenharem para seus destinos através da emoções conflitantes de um término. Os amigos que os cercam acabam sendo variáveis importantes dentro dessa linha de aprendizagem que eles passam, aos olhos deles, inclusive, esse casal era o mais perfeito exemplo de sucesso num relacionamento. Em ótimos diálogos, os personagens parecem que passam a se conhecerem melhor quando embarcar nas reflexões do olhar do outro.


A frustração é algo que caminha na trajetória desses carismáticos personagens. Na visão de Emilia, o sexo, a intimidade, ganharam outros contornos ao longo do tempo fatos que a fizeram se sentir deveras infeliz, quase em uma prisão, sem tempo de respirar. Paul, parece estar perdido nos recentes fracassos de sua escolha profissional, vive dos primeiros sucessos dele no ramo literário, uma estrela em ascensão que logo caiu em um marasmo onde não consegue mais emplacar grandes obras num mercado consumido pelas novas óticas, novas maneiras de enxergar o mundo tão dinâmico e cheio de variáveis, algo que se reflete na sua vida pessoal. Quando chega a ruptura, é bonito ver como os reflexos da dor de uma separação podem se tornar fortes laços para duas almas que não desistem de se reencontrar.



Continue lendo... Crítica do filme: 'É Apenas uma Fase, Amor'

04/01/2023

Crítica do filme: 'Reputação' (2020)


Os choques na maneira de enxergar o mundo. Remake de um ótimo filme francês (e sucesso de bilheteria), chamado O Orgulho, essa versão alemã dessa história de um conturbado relacionamento, ligado pelas linhas de ensino, entre um arrogante professor e uma aluna descendente de imigrantes marroquinos nos leva a enormes pontos de reflexões sobre uma Europa atual e a visão sempre polêmica sobre a questão dos imigrantes. Com mais profundidade que a versão original, o longa-metragem dirigido pelo cineasta alemão Sönke Wortmann mostra que um remake pode ser mais impactante que uma obra original. O filme está disponível no catálogo da HBO Max.


Na trama, conhecemos a esforçada estudante Naima (Nilam Farooq) que após muita luta conseguiu entrar na prestigiada Universidade de Frankfurt para estudar direito. Ela vive em um apartamento de classe média baixa com a mãe (que é uma bioquímica mas na Alemanha conseguiu outro trabalho) e os dois irmãos. Certo dia, logo em seus primeiros dias no novo curso, acaba chegando atrasada na aula do professor Richard (Christoph Maria Herbst), um homem arrogante, com um passado ligado à uma tragédia, que a trata de forma muito cruel à expondo na frente de todos os outros alunos. Um concurso de debates acaba sendo um elo que vai aproximar esses dois personagens, completamente diferentes.


Qual o papel do professor? Nessa jornada dramática de pouco mais de 100 minutos de projeção vamos pensando sobre essa pergunta constantemente através da força que tem o poder da palavra aqui na narrativa um objetivo de impactar os rumos de uma jovem de forma bastante significativa. Os meios de se chegar a esse objetivo é que a razão de outros debates, talvez um recorte na visão do mundo de duas pessoas que enxergam um elo em comum mas que tem visões e experiências completamente diferentes. O roteiro adaptado consegue ir de forma profunda nas calos da história alemã além de reunir diálogos para reflexões sobre diversos paralelos com religiões, diferentes culturas, preconceito, imigração.  



Continue lendo... Crítica do filme: 'Reputação' (2020)

15/12/2022

Crítica do filme: 'A Novata'


Os fortes traços do desequilíbrio dentro de uma obsessão. Indicado em cinco categorias no Spirit Awards 2022 (uma espécie de Oscar do cinema independente), A Novata, primeiro longa-metragem dirigido pela cineasta Lauren Hadaway, busca refletir sobre uma lógica dentro de uma diligência sobre o descontrole em se desafiar. Com uma impactante protagonista (interpretada de maneira brilhante por Isabelle Fuhrman), que muitas vezes mostra-se enigmática, a narrativa se joga no nada superficial rompimento com a razão que chega ao mesmo tempo de emoções que transbordam.


Na trama, conhecemos Alex (Isabelle Fuhrman), uma caloura de uma faculdade que se junta à equipe de remo da instituição. Sem ter muitos amigos e sozinha com o seu pensar em muitos momentos acaba entrando em desequilíbrio quando o exaustivo treinamento domina a vida dela que em busca de uma perfeição nos movimentos se vê em uma estrada em linha reta rumo ao desespero não sobrando espaço para mais nada.


Os prejuízos e sofrimento de uma busca por perfeccionismo tomam conta dos quase 100 minutos de projeção. O compromisso com a disputa se torna algo além da conta para a estudante atleta, o roteiro navega numa construção de personalidade narcisista, egoísta, talvez algo próximo de um Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva. Amargurada, com o passar do tempo some com qualquer tentativa em encontrar o equilíbrio, muito menos tranquilidade, moldando seu cotidiano em um caótico estado de espírito rumando seu corpo e mente para um abismo.


Relaxar é um privilégio ou um padrão? Essa pergunta é algo fixo durante tudo que enxergamos pelas lentes atentas de Hadaway. A narrativa busca reflexões sobre alguns porquês, assim logo em seu prelúdio é apresentado as facetas da obsessão. Mas a forma de enxergar o recorte do seu presente só é visto de maneira mais ampla nos arcos finais quando a protagonista já entrou em seus conflitos, seus altos e baixos emocionais. Pra quem curte psicologia, esse longa-metragem é um prato cheio!



Continue lendo... Crítica do filme: 'A Novata'

14/12/2022

,

Pausa para uma série: 'The White Lotus' (2a Temporada)


A continuação da investigação da natureza humana por meio dos fluxos e contrafluxos do moralismo. Seguindo a mesma direção do que foi o enorme ponto de encontro de reflexões sobre a natureza humana na primeira temporada, nessa nova página de sete episódios, novamente escrito e dirigido por Mike White, The White Lotus busca dessa vez um amplo olhar sobre o impulso, aqui uma variável estopim de feridas emocionais que são despejadas na trajetória dos personagens. O desejo, a sensualidade, as escolhas, as relações familiares, a sátira social, são alguns dos elementos que não deixam de ser uma marca dessa série antológica fenômeno de audiência e ganhadora de muitos prêmios.

Na trama, seguimos os passos de funcionários e hóspedes recém chegados a um resort de luxo na Itália ao longo de explosivos sete dias. Assim conhecemos uma família composta por Avô, Pai e filho que estão em uma busca pelas raízes italianas da família; duas amigas ambiciosas que topam quase tudo por dinheiro; a gerente do hotel que busca sair do armário; um quarteto de amigos que se veem envolvido em situações ligadas ao desejo; uma jovem assistente infeliz que precisa acompanhar sua chefe milionária a essa viagem e acaba ficando em dúvida sobre qual caminho seguir entre dois pretendentes amorosas. São muitos personagens, cada qual com seu drama e ao longo dos sete episódios vamos vendo conclusões bombásticas para cada uma dessas histórias.  


Pensando sobre o abstrato universo das emoções, há dois pontos interessantes para pensarmos sobre essa temporada: o estado absorto do ser humano e o impulso. No primeiro é uma característica das pessoas que se concentram na maior parte do seu dia voltados para os próprios pensamentos fato que pode ser um ponto de ebulição caso conflitos venham a surgir sem rápidas resoluções (como é o caso em uma das histórias). O impulso é quase uma característica marcante de todos os personagens, um elo de interseção que vira um dos pontos fixos da narrativa.


Tudo ainda continua muito misterioso e seguindo em um rumo para desfechos inimagináveis, são apresentados ótimos personagens e ainda reflexões sobre as atitudes de indivíduos dentro de uma cadeia de privilégios e os que estão fora dela. O lado sombrio do ser humano e a maneira como são vistos esses recortes podem ser alguns dos pontos que tornam The White Lotus um eterno laboratório reflexivo sobre as inúmeras formas de encontrar soluções para o caos emocional que pode vir a reinar em uma trajetória a partir de traumas, conflitos, onde o próprio indivíduo não consegue encontrar rápidas soluções transformando um aparente equilíbrio em um desenfreado olhar para emoções perdidas.



Continue lendo... Pausa para uma série: 'The White Lotus' (2a Temporada)

16/10/2022

, , ,

Crítica do filme: 'Living'


É preciso saber viver... Adaptação britânica de um filme chamado Viver do genial cineasta japonês Akira Kurosawa, Living é um emocionante drama que nos mostra o recorte final de uma estrada dentro de um universo de possibilidades que se abrem, quando enxergar-se outros sentidos para vida, na trajetória de um burocrata que busca servir de exemplo, sem tempo para raivas ou arrependimentos. O cineasta sul-africano Oliver Hermanus consegue chegar à sua obra-prima da carreira, emocionando o público ao longo de inesquecíveis 102 minutos de projeção. As atuações de Bill Nighy e Aimee Lou Wood (a Aimee de Sex Education) são estupendas! Living pode ser a grande surpresa do próximo Oscar!


Baseado fielmente nas linhas escritas na década de 50 por Kazuo Ishiguro e Akira Kurosawa (só trazendo os paralelos para a Inglaterra), na trama conhecemos o Sr.Williams (Bill Nighy), um homem que trabalha quase toda vida no funcionalismo público, mais precisamente no departamento de obras públicas. Esse homem de fala mansa, pacato, parece ter um cotidiano robótico, monótono, com as responsabilidades bem demarcadas e um relacionamento distante com os filhos. No dia em que recebe a notícia de que está com uma doença terminal e tem poucos meses de vida, praticamente vê o filme de sua vida passar pelas suas memórias e nos dias seguintes vai buscar novos caminhos para sua estrada, se envolvendo em novas relações interpessoais e experiências, mesmo com o pouco tempo de vida que ainda tem.


A visão do outro sobre a situação do protagonista é fundamental para que o filme encontre sentido aos nossos olhos. Os ótimos coadjuvantes que compõe a mesa de trabalho do departamento do Sr. Williams contribuem para uma rápida construção do maçante momento do seu dia a dia. Uma dessas personagens, a sonhadora e atenciosa Margareth (Aimee Lou Wood, em grande atuação) parece entrar em uma desconstrução quando passa a olhar de forma diferente para o chefe, num primeiro momento um zumbi, depois a delicadeza e a troca mútua o transformam em um realizador de momentos. Há um mutualismo nítido nessa relação, um chega com a atenção, o outro com exemplos de sua vasta experiência. Cenas emocionantes surgem nesses diálogos.


O protagonista se apega nas memórias para de libertar, no início é uma navegação sozinha, solitária. Partindo do cotidiano do trabalho, rotina bem construída pelo roteiro, vamos entendendo alguns porquês perdidos na personalidade tímida que muitas vezes não parece ter forças para um sonhar. A disciplina que se mistura com a mesmice, logo se transforma em agarrar o pouco tempo de vida que ainda tem. Ele experimenta a boemia, o presentear pessoas de bem, tirar do estado de indecisão uma obra de um parque que se concluída vai gerar futuras lembranças em outros. Em falar em lembranças, é exatamente por aí o início de seu despertar. Uma das cenas mais lindas de 2022, esse homem sentado em um balanço, sabendo que já se vai, uma emoção que transborda para nossos corações, quanta coisa é dita apenas com o olhar. Nesse momento (e em tantos outros) brilha o veterano Bill Nighy. Não há palavras para definir essa atuação.


Living chega com muita força na corrida ao próximo Oscar, em algumas categorias. O projeto, que ainda conta com uma belíssima trilha sonora assinada pela compositora francesa Emilie Levienaise-Farrouch, nos faz refletir constantemente sobre como vivemos a nossa própria vida. Imperdível!

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Living'

25/09/2022

,

Crítica do filme: 'Não se Preocupe, querida'


Um experimento dentro de uma manipulação existencialista. Nessa frase podemos definir tudo que vemos nas pouco mais de duas horas de projeção do projeto da cineasta, e também atriz, Olivia Wilde, Não se Preocupe, querida. A perfeição e a harmonia de tudo ao redor da protagonista chama a atenção do espectador desde o primeiro minuto e aos poucos vamos entendendo melhor uma série de mistérios que se sucedem nesse curioso projeto que encosta em alguns pontos com a sensação do universo das séries de 2022, Ruptura.


Na trama, conhecemos Alice (Florence Pugh), uma dona de casa, feliz, que vive em um bairro repleto de harmonia, onde a felicidade parece reinar 24 horas por dia. Seu marido Jack (Harry Styles) é um engenheiro que trabalha em um lugar misterioso mas que lhe proporciona uma vida bastante estável. A rotina de Alice é dialogar com vizinhas, pegar o bondinho do bairro onde moram e ir até uma escola dança. Uma rotina completamente dedicada ao marido e ao seu estilo de vida nos anos 50. Até que certo dia ela começa a ter algumas alucinações e começa a olhar ao seu redor de outras formas achando brechas nessa vida perfeita. Assim, a protagonista embarca em uma jornada de descobertas que vão muito além do imaginava.


Uma utopia? Sim, podemos dizer que a trama gira em torno disso. A tecnologia encosta nessa questão, do criador e da criatura também apresentando os contextos do livre-arbítrio ou não. É uma escolha estar ali naquele lugar? Para alguns sim. A partir daí vamos vendo claramente uma protagonista buscando soluções contra uma vilania que surpreende não deixando muitos porquês soltos mesmo que personagens mal explicados se somem à trama principal. É como se estivéssemos em um tabuleiro de xadrez onde o jogo se inicia quando a protagonista entende em partes seu grande conflito.


O filme objetiva refletir sobre a crítica social, as maneiras encontradas de viver a perfeição. Só que a realidade sempre vai deixar conflitos e por aí vamos entendendo alguns complexos personagens que se envolvem em uma trama que vai do drama ao suspense psicológico em instantes. A condução de Wilde para esse liquidificador que envolve utopia, experimento e os enigmas dos calcanhares de aquiles do ser humano é muito interessante, nos faz pensar sobre tudo aquilo que nos é apresentado.  Esse é um ótimo filme para debater com os amigos pois várias interpretações podem ser vistas.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Não se Preocupe, querida'

13/09/2022

Crítica do filme: 'Joe Bell'


As segundas chances que não temos mas que de alguma forma nos fazem refletir sobre as oportunidades que não voltam mais. Nos mostrando a história de um homem em uma saga de dor e reflexões Joe Bell nos atinge profundamente colocando no centro das atenções um assunto que cada vez mais acontece e trazem consequências tristes, em vários lugares do mundo: o bullying. Dirigido pelo cineasta nova iorquino Reinaldo Marcus Green, o longa-metragem está disponível no catálogo da HBO Max.


Na trama, conhecemos Joe Bell (Mark Wahlberg), um homem atingido por uma enorme tragédia. Seu filho mais velho Jadin (Reid Miller) cometeu suicídio após uma série de situações constrangedoras que passou provocado pelo preconceito de muitos por ele ser gay. Buscando reunir forças nesse momento tão difícil para qualquer pessoa, ele resolve botar em prática um projeto onde vai caminhar por diversos estados norte-americanos conscientizando a população sobre o bullying.


Os diálogos imaginados, contra os pensares de outrora. O arrependimento é um sentimento, totalmente abstrato mas que aqui é personificado pelos diálogos entre pai e filho durante a caminhada do protagonista. Joe busca com seu objetivo refletir sobre o que poderia ter feito de diferente para que seu filho não tomasse a atitude que tomou ao mesmo tempo que encontra uma saída para sua forte tristeza que é a conscientização para ajudar outros e outras que possam estar passando pela mesma situação de Jadin. Mas isso acaba tendo um preço, Joe se distancia do resto de sua família, a esposa e o outro filho, se fechando em uma bolha que nunca sairia.


A culpa é um fator chave para explicações de alguns porquês. Aqui entramos na polêmica do preconceito, na forma como o pai machista enxergava o filho assumidamente gay, uma quebra de relação, mostrada em algumas cenas bem detalhadamente, que seria um dos fatores para a depressão e desespero de Jadin. Na escola, o bullying constante vai minando os sonhos e a felicidade de um jovem que apenas quer ser feliz.


Esse filme deveria ser exibido em escolas e debatido entre alunos e professores. Nos faz refletir sobre a nossa sociedade. Os preconceitos de muitos ainda enterram sonhos de outros.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Joe Bell'

06/09/2022

,

Crítica do filme: 'Os Bons Companheiros' *Revisão*


As amizades influentes e a inconsequência que beira a falta de referências. Adaptação do livro Wiseguy, de Nicholas Pileggi, Os Bons Companheiros é um dos grandes clássicos do cinema quando pensamos em filmes de máfia. Dirigido por Martin Scorsese o filme nos mostra a estrada tumultuada de um homem, desde a adolescência, até seus inconsequentes atos ao longo de anos. Ao longo de cerca de 30 anos vamos acompanhando a ascensão e a queda de três homens que convivem com a violência a cada dia que se encontram. O projeto não deixa de ser um recorte do mundo dos mafiosos sob o ponto de vista dos mesmos, já que é baseado em fatos reais.


Na trama, conhecemos o jovem Henry Hill (Ray Liotta) que sempre sonhou em fazer parte do grupo de gângster que dominavam as ruas do bairro onde morava. Começando lá embaixo na hierarquia ao longo do tempo foi crescendo e seu destino acaba se chocando com o de James Conway (Robert De Niro) um experiente criminoso e do explosivo e altamente inconsequentemente Tommy (Joe Pesci). O trio arma diversos atos criminosos e se envolvem cada vez mais com o crime, principalmente quando chega forte o tráfico de drogas na cidade. Mas essa amizade fica em xeque quando conflitos começam a surgir para os três.


O que é a amizade para alguém que é um criminoso? Existe lealdade eterna em um grupo mafioso? O recorte nas fases de vida do protagonista nos ambientam na situação de um bairro pobre nos Estados Unidos dominada pelos mafiosos ítalo-americanos que já foram objetos de retratos em outros poderosos filmes sobre o tema. Aqui, acompanhamos a origem da ascensão de um jovem que tem o curioso sonho em ser um gângster. Isso é oriundo do tamanho do fascínio que esses criminosos exalavam sempre com muito dinheiro, carros novos e muita influência e respeito. Nessa parte, logo no início dessa jornada, refletimos a todo instante sobre referências.


Durante anos, crimes diversos, contrabandos, são vistos como mais um trabalho qualquer para Henry e seus sócios, uma banalização de atos que vão na contra mão de uma sociedade honesta que não parece existir ali naquele meio de mafiosos. As alianças tomam conta da trama quando conflituosas ações começam a surgir em desequilíbrio, principalmente com a chegada das drogas pesadas que tornam a exposição da organização algo cada vez mais evidente somado ao massivo reforço nas ações policiais para coibir o tráfico.


A personalidade dos intensos e muitas vezes violentos personagens vão se moldando e se construindo ao longo do tempo e também pelo tamanho dos problemas que enfrentam nas operações. Em certo momento as iminentes traições saem de trás da cortina mostrando que os elos, que para alguns eram fortes, podem ser quebrados e o sentido de liberdade não seria o mesmo para sempre. Henry Hill viveu intensamente por três décadas no grupo criminoso e virou testemunha chave em vários processos contra uma enorme rede criminosa, fato que o levou a viver o restante de sua vida no programa de proteção à testemunha das autoridades norte-americanas.


Os Bons Companheiros é um raio-x completo sobre várias fases na vida de um homem que se jogou para a inconsequência a partir do fascínio em exemplos errados da sociedade.




Continue lendo... Crítica do filme: 'Os Bons Companheiros' *Revisão*

04/09/2022

Crítica do filme: 'Marcas da Violência'


As verdades de um desconstrução. Baseado em uma história em quadrinhos homônima da DC Comics, assinada pela dupla John Wagner e Vince Locke, Marcas da Violência explora vários sentidos para o que podemos entender como violência. Na figura de um pai de família, super querido pela comunidade onde mora, o roteiro nos leva em direção a uma desconstrução, um lado sombrio que a mente humana é capaz de esconder. Dirigido pelo experiente cineasta canadense David Cronenberg, o filme esteve na competição pela Palma de Ouro no ano de seu lançamento mundial.


Na trama, conhecemos Tom (Viggo Mortensen), um pacato dono de uma cafeteria que vive feliz com sua esposa Edie (Maria Bello) e seus dois filhos em uma cidadezinha no interior dos Estados Unidos. Um dia, uma dupla de criminosos resolvem entrar na cafeteria de Tom nas últimas horas de uma noite, gerando o caos no lugar e Tom acaba, de forma surpreendente para todos no local, matando os criminosos. Ele logo vira celebridade na cidade, aparece na televisão, e tem a vida completamente mudada quando dias depois chega na cidade um homem dizendo que Tom na verdade é um violento membro de uma organização criminosa. Assim, aos poucos vamos entendendo melhor as lacunas dessa surpreendente história.


Aqui o foco é a mente humana. Explorando os caminhos que a vida nos leva para nos descontruirmos de uma identidade violenta mas que sempre deixa vestígios de um passado intenso o filme detalhadamente nos leva para a dúvida: será que Tom é uma outra pessoa e não aquele pacato homem dono de uma cafeteria? Mas e se ele for uma outra pessoa, ele realmente passou por uma mudança e virou um homem de bem?  Para responder a essas respostas, passamos pelas dores e caos que vira a vida dos integrantes de sua família, dentro disso os enormes conflitos com sua esposa Edie que parece perder seu marido a cada nova revelação. Nesse momento brilham os atores Viggo Mortensen e Maria Bello, baita atuação dos dois.


O refletir sobre a violência aqui chega perto da revelação chave dessa história, mesmo reunindo porquês não tão explicativos, o roteiro passa por cima de detalhes e sendo bem objetivo explora o depois para mostrar o antes, de forma bastante inteligente com uma total desconstrução de um personagem protagonista que nas mãos de Cronenberg vira brilhante.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Marcas da Violência'

20/08/2022

Crítica do filme: 'Colmeia'


O empreender dentro de um universo que tem o conservadorismo, machismo, e um banho de sangue que respira aqueles ares. Escrito e dirigido pela cineasta Blerta Basholli, Colmeia, indicado do Kosovo para o Oscar de Melhor filme Estrangeiro na última edição, nos apresenta a saga de uma mulher, que está com o marido desaparecido desde a guerra do Kosovo, para tentar sua própria fonte de renda mesmo com os incisivos tons conservadores que compõem a complicada região do vilarejo onde mora. O projeto, baseado em fatos reais, também mostra situações e gera reflexões sobre o famoso conflito que se iniciou no final da década de 90 quando Kosovo decidiu lutar pela sua independência (independência essa que é reconhecida por muitos países, mas pelo Brasil não).

Vencedor de três importantes prêmios do prestigiado Festival de Sundance em 2021, A Colmeia nos mostra a trajetória de Fahrije (Yllka Gashi) uma mulher guerreira e batalhadora que está com o marido desaparecido por conta da guerra. Ela, precisando ter dinheiro para sobreviver junto aos filhos e o sogro que mora com ela, resolve empreender com a ajuda de outras mulheres. Fato esse que gera uma enxurrada de preconceitos e até mesmo assédio de vários tipos, principalmente dos homens da região.


A caminhada de Fahrije e tudo que enfrenta como obstáculo pelo caminho acaba sendo uma jornada paralela para entendermos uma região marcada pela sociedade patriarcal. Mesmo com a globalização, com a evolução do mundo, algumas regiões do mundo insistem em olhar somente para o homem, esquecendo das mulheres. Fahrije se coloca à disposição para ser um exemplo, enfrentando o medo, o preconceito sendo uma força que surge para mulheres da região. O empreender ilumina sua estrada, seu produto feito de pimentões vermelhos e temperos, conhecido na região dos Balcãs como Ajvar, se torna seu maior trunfo contra a todos que querem sua derrota. Há muito a se refletir sobre a trajetória de luta dessa impressionante personagem.


O comovente relato das buscas incessantes sobre os homens que estão desaparecidos desde a Guerra de Kosovo nos leva a pensar sobre a complicada geopolítica da região que gera debates em todo o mundo. Familiarizando a alguns, e relembrando a outros, que muitos países não reconhecem Kosovo como país (inclusive o Brasil), fato esse que gera correntes argumentativas diversas até hoje.  


Colmeia está disponível na HBO Max, um poderoso projeto que nos faz refletir sobre muitos assuntos relevantes.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Colmeia'