10/04/2020

Crítica do filme: '7 Ãnos'


As verdades íntimas de pessoas que pensamos conhecer. Dirigido pelo cineasta espanhol Roger Gual, 7 Ãnos mais parece uma peça de teatro com situações que se desenvolvem através dos argumentos de cada uma das pessoas envolvidas em uma trama que definirá o futuro de uma empresa e de cada um deles. Instigante e com ótimas críticas sociais, o filme navega entre a linha tênue entre o certo e o errado e nos mostra um certo eufemismo em argumentos pretenciosos de vilões capitalistas.

Na trama, conhecemos Vero (Juana Acosta), Marcel (Alex Brendemühl), Luis (Paco León) e Carlos (Juan Pablo Raba), quatro sócios majoritários de uma empresa em crescimento milionário que são convocados em pleno sábado, dia que não trabalham, para uma reunião emergencial onde um deles precisará assumir a culpa de um problema contábil e ir para a prisão durante 7 anos para poder salvar a empresa e a todos os outros. Sem saberem direito como tomar alguma decisão, o quarteto que se diz muito amigo contrata um mediador profissional para acompanhar os rumos dessa curiosa decisão.

Durante as horas que se seguem de maneira bastante acalorada, descobrimos traições, amores escondidos, pensamentos nunca expostos, além, de todo e qualquer tipo de argumento para ‘tirar o seu da reta’. É um jogo de egoísmo e egocentrismo onde duplas de tornam trios e de repente ficam sozinhos, em discussões que vão desde os primórdios da empresa até a necessidade de cada um deles estarem no presente e nos rumos que deveriam tomar. Lealdades são colocadas à prova a todo instante rumando a um desfecho para lá de simbólico. Bom filme, disponível na Netflix.

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Crítica do filme: 'Icare'


Os sonhadores sempre tentam dominar o mundo em que vivem. Escrito e dirigido pelo cineasta Nicolas Boucart, o média-metragem Icare, no original, indicado ao Magritte Awards de melhor filme não longa e um dos 10 curtas semifinalistas ao Oscar 2019 de Curta-Metragem de Ficção, brinca em forma de fábula sobre o conflito emocional entre a utopia e a distopia. Com poucas falas, usa de um simbolismo de imagens bastante simples e objetivo. Destaque também para a bela fotografia que acompanha essa história cheia de questões.

Acompanhamos nos curtos 27 minutos de projeção, um homem que acorda por viver de solidão, isolado em uma única casa numa ilha, em lugar não bem determinado. Ele é um inventor e através de analogias e pensamentos através de coisas que ouviu e/ou leu/aprendeu, acredita que apenas um jovem teria a capacidade de voar através de uma pequena engenhoca que inventara. Logo, ele consegue o candidato ideal para seu experimento.

As metáforas atravessam essa história que sendo atemporal por si só nos faz pensar na sociedade onde vivemos, nossos sonhos e as inconsequências dos atos que por si só não se validam pelo extremo viver. Entre sonhos e verdades através do modelo empírico do funcionar ou não sua invenção, o protagonista nos leva a pensar e a pensar...será que ele consegue voar?

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Crítica do filme: 'Minha Mãe é uma Peça 3'


A necessidade de atenção de uma mãe com os filhos já criados e suas descobertas sobre a esquecida arte do viver. Uma das grandes trilogias do cinema brasileiro contemporâneo, quando pensamos pura e exclusivamente em bilheteria (ingressos vendidos), Minha Mãe é uma Peça 3, baseado no estrondoso sucesso no teatro de Paulo Gustavo, é a continuação da história de uma família que o Brasil aprendeu a amar. Reunindo todos os personagens dos filmes passados e adotando curtos flashbacks entre arcos para sintonizar a emoção e pensamentos do presente, o filme dirigido por Susana Garcia (Minha Vida em Marte), pouco antes do fechamentos dos cinemas por conta da pandemia que domina o mundo, Minha Mãe é uma Peça 3 se tornou o filme mais lucrativo da história do cinema nacional.

Na trama, acompanhamos uma nova fase na vida da Dona Hermínia (Paulo Gustavo), moradora de Niterói no RJ, que vê seus filhos saírem de casa e começarem a construção de suas famílias, Marcelina (Juliana Xavier) grávida e Juliano (Rodrigo Pandolfo) prestes a se casar com seu namorado. Buscando fugir da rotina: farmácia, feira, casa, a simpática mãezona se mete nas conhecidas discussões sobre a vida e assim busca aprender a viver esse momento de sua vida.

Não há como negar que Paulo Gustavo é um grande comediante, conquista o público toda vez em cena, e sem dúvidas a Dona Hermínia é seu grande personagem da carreira, não só no cinema, mas no teatro, nesse último onde começou. Entretanto, nesse terceiro filme, a fórmula parece batida demais e se torna forçada a todo instante tentando buscar caminhos aleatórios para se fazer mais um filme. Outra coisa, porque será que muitos filmes nacionais precisam de viagens internacionais para contornar suas histórias? Há tanta necessidade de viajar assim para seus personagens? Falta uma generosa pitada de criatividade as vezes aos nossos roteiristas de ‘blockbusters internos’. Orçado em cerca de 8 milhões de reais, o filme arrecadou mais de 140 milhões somente em bilheteria.

Batido dentro de um liquidificador com uma fórmula adotada em outros filmes de comédia brasileira, Minha Mãe é uma Peça 3 usa e abusa de seu intérprete principal, com seus improvisos, para ser diferente e buscar alguma originalidade.

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09/04/2020

Crítica do filme: 'Nefta Football Club'


Nas linhas da ingenuidade, propósito e razão nunca desaparecem. Um dos indicados ao Oscar de Melhor Curta desse ano, Nefta Football Club usa da criatividade de um assunto comum com a fragilidade do olhar ingênuo. Sacada bastante interessante do cineasta Yves Piat que entre outros pontos incorpora à sua história a essência do futebol pelo olhar das crianças.

Ao longo dos quase 17 minutos de projeção, conhecemos rapidamente dois irmãos que estão sozinhos andando de moto por uma estrada deserta da Tunísia (próximo à fronteira com a Argélia) até que eu deles precisa urinar e acaba avistando um burro com o headphone e uma carga curiosa: um pó branco que, no modo deles enxergarem, parece sabão em pó. Tentando descobrir ao certo o que é aquele produto, o mais velho bola um plano para tentar negociar aquilo, enquanto o mais novo acaba tendo outros planos.

Todo curta bom precisa ser impactante em algum momento, pois são poucos minutos para se fazer o público se interessar pelo que acontece em tela. Nefta Football Club consegue reunir elementos que juntos constroem um desfecho com mensagem positiva, pra lá de emblemática, onde a pureza e a ingenuidade vencem qualquer tipo de caminho.

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Crítica do filme: 'O Despertar de Motti'


Um destino traçado é uma adaga no coração de quem quer respirar ares de liberdade e realizar suas próprias escolhas. Indicado ao último Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro pela Suíça, e lançado pelo streaming em diversos países (incluindo o Brasil por meio da Netflix), O Despertar de Motti conta as sequentes confusões de um jovem universitário que em busca de sua felicidade, resolve ir contra tudo que aprendeu com sua família, principalmente o casamento arranjado. Delicado e com ótimo tempo de comédia, o longa-metragem dirigido pelo cineasta suíço Michael Steiner é uma grande aula sobre tradições. Um ótimo achado no catálogo da toda poderosa do streaming (que deve estar lucrando horrores nesses tempos de coronavírus).

Na trama, conhecemos o tímido Motti Wolkenbruch (Joel Basman), um jovem exemplar que se dedica à faculdade de economia de tarde e pela manhã ajuda seu pai na contabilidade da empresa da família. De família Judia Ortodoxa, enfrenta o maior obstáculo da vida quando se apaixona por Laura (Noémie Schmidt), uma colega de faculdade que não é Judia Ortodoxa e isso deixará sua mãe e família com a pulga atrás da orelha. Mas Motti, movido por esse sentimento tão grandioso que temos como o amor, quer navegar e ser comandante de seu próprio destino, nada arranjado.

Em 94 minutos de filme somos testemunhas de uma grande transformação que passa o protagonista. No início tímido e com aspectos de fraquezas nas escolhas que passam pela sua frente, se torna um corajoso jovem em busca de uma felicidade que lhe faça se sentir bem e feliz. O conflito religioso/costumes é visto em vários filmes, de diversas formas, ano após ano e praticamente sobre todas as religiões e tradições que andam por esse nosso mundo. O que faz acontecer o destaque, nos bons filmes que abordam o tema, é ter uma personalidade própria e personagens carismáticos. Exatamente o que ocorre com essa fita.

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Crítica do filme: 'O Declínio'


A responsabilidade de todos é o único caminho para a sobrevivência. Disponível no catálogo da Netflix desde o finalzinho de março desse ano, O Declínio conta de maneira desapiedada a falta de limites da filáucia humana quando se enxerga em uma situação inquietante, onde cada escolha é vital. Ao longo dos intensos 83 minutos de projeção, somos colocados como testemunhas de até onde o ser humano pode ir para defender seu ponto de vista, flertando a todo instante com empáfia. A direção é do cineasta Patrice Laliberté, que debuta na posição nesse interessante projeto.

Na trama, conhecemos Antoine (Guillaume Laurin) um pai de família que logo percebemos é um aficionado em proteção e muito fã de um youtuber que fala sobre táticas de sobrevivências caso o mundo entre em parafuso por qualquer motivo. Querendo ir mais a fundo nesses ensinamos, que vão desde o manuseio de armas e armadilhas, até como estocar arroz por 20 anos, o protagonismo resolve ir ao treinamento pessoal desse youtuber, que é em uma área isolada cheia de neve no interior de Quebec. Chegando lá, ele e mais alguns alunos precisarão enfrentar uns aos outros quando, após uma aula de explosivos, um deles acaba morrendo acidentalmente. Sem saberem o que fazer, se chamam a polícia ou não, a loucura toma conta do lugar.

Tudo é muito rápido até se chegar ao clímax. De maneira bem objetiva e deixando rastros de sangue em muitas cenas, a trama se desenvolve com arcos curtos e que se blindam pelas inconsequências do instinto de sobrevivência que é instaurado. É quase como se o feitiço virasse contra o feiticeiro, pois, esse último, nunca pensou ou concluiu uma análise mais completa sobre a mente humana e como ela reage em determinadas situações extremas. O jogo de gato e rato se desenvolve quando as escolhas já estão feitas, o bem contra o mal? Talvez, mas cada um precisa chegar na sua conclusão. Uma fita interessante, para se pensar na sociedade e em tempos como o do coronavírus e todo o egoísmo que ainda vemos, principalmente dos que insistem em fugir de uma necessária quarentena.  

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Crítica do filme: 'A Odisseia dos Tontos'


A revolta dos atingidos pela canalhice de alguns. Lançado no circuito brasileiro no final do segundo semestre do ano passado, A Odisseia dos Tontos, novo filme estrelado pelo grande ator argentino Ricardo Darín, é antes de mais nada uma crítica social importante que gira em torno da enorme crise financeira vivida pela Argentina no início do século. Baseado na obra La noche de la Usina escrito pelo escritor Eduardo Sacheri, o projeto aborda o caos de maneira inteligência, com ótima trilha e generosas pitadas cômicas. Mais um bom filme de um dos maiores recordistas de público no Brasil, Darín.

Na trama, voltamos ao ano de 2001 em uma cidadezinha no interior da Argentina, quase província de Buenos Aires, onde um grupo de conhecidos resolvem investir todo o dinheiro que pouco tem em um negócio no local onde moram. Mas, um tempo depois de conseguirem arrecadar o suado dinheiro, acabam entrando em um golpe e perdem tudo para trambiqueiros. O tempo passa e o grupo volta a se reunir, pois, agora sabem onde está o dinheiro que é deles por direito, assim, farão de tudo para conseguir reaver a quantia.

La odisea de los giles, no original, esquece as consequências, exatamente por mostrar um grupo de pessoas sem nada a perder. Passados para trás em um trambique de marca maior, entendem que a única solução é irem à luta, custe o que custar. Circulando como background da história, a grave crise argentina e seu desenrolar para a classe média baixa e pobre ganham força a todo instante sendo válvula propulsora para tudo que acontece na história dos curiosos personagens. Líder do grupo, Fermín (Ricardo Darín) dita o ritmo da trama e seus dramas logo se transformam em objetivos para ele e seu ‘equipe’ de desesperados.

Vencedor do Prêmio Goya (Oscar Espanhol) de Melhor Filme Ibero-Americano, A Odisseia dos Tontos é mais um filme rico de críticas que tem no elenco o maior artista latino americano de nossa geração e mais uma dezena de ótimos atores e atrizes de um país que passa por crises mas sempre encontra na arte uma maneira de redenção.

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31/03/2020

Crítica do filme: 'The Farewell'


O crescimento do nariz de toda uma família. Escrito e dirigido pela cineasta chinesa Lulu Wang (cineasta e esposa de Barry Jenkins, diretor dos excelentes Moonlight e Se a Rua Beale Falasse) em apenas seu segundo longa-metragem, The Farewell (alguns o titulam como A Despedida), grata surpresa na temporada de premiações norte-americanas passada, explora um tema familiar complicado de maneira leve e argumentativa. Há delicadeza por todos os lados. Preenche com elegância os contornos culturais tendo como pano de fundo uma família que possui um problema em comum. Lançado no Festival de Sundance do ano passado, essa linda história, infelizmente, não ganhou as telonas brasileiras.

O filme gira em torno da ótica de Billi (Awkwafina, em grande atuação que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme de Musical ou Comédia), uma jovem chinesa que vive desde os seis anos nos Estados Unidos e certo dia recebe uma notícia terrível: sua querida e próxima avó está com Câncer de Pulmão avançado. Assim, os pais de Billi e os demais integrantes da família resolvem simular um casamento de um dos primos da protagonista para conseguirem reunir toda a família para uma espécie de despedida da querida vovó, essa última que não sabe que está com a doença.

Nas semanas que antecedem ao casamento fake, as reuniões de família e os debates sobre a China, Estados Unidos, sonhos, profissões, futuro e desejos preenchem o roteiro de maneira profunda e que explica muito os personagens envolvidos. Os pontos de vistas entre Oriente e ocidente são colocadas em prova sobre a questão do fardo emocional imposto pelo epicentro da história. Nesses momentos de clímax, vale mencionar a trilha sonora também, é belíssima, contorna os altos e baixos de maneira brilhante.

Tudo acaba girando em torno dos absurdos da mentira que causam conflito em toda uma família. Durante os arcos, os principais integrantes da família ganham forte espaço como se fossem pequenas pílulas emocionais. Esses conflitos entre os familiares são repletos de argumentos e acontecem diariamente. Nesses fortes diálogos repleto de personalidades distintas, entendemos melhor a força desse momento que estão vivendo e a dificuldade em esconder a verdade da mais velha da família.

Pela cena da vida real que antecede aos créditos finais, percebemos que a história é muito próxima da vida de Wang e esse belo filme, repleto de emoções e ternura não deixa de ser uma homenagem cativante.

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Crítica do filme: 'O Poço'


Uma das coisas que mais escutamos como desculpas para filmes não terem boas bilheterias, ou visualização (no caso dos lançamentos diretos em streamings), é que não acertaram a data de lançamento e acabaram fracassando. Nada disso pode ser associado ao filme O Poço, El Hoyo no original, lançado nos últimos dias no Netflix, pelo contrário. Mais exata na data impossível. Assim falemos do projeto, uma utopia de ideias já vistas em outros filmes (como em O Expresso do Amanhã, filme do diretor de Parasita, atual vencedor do Oscar Bong Joon Ho), até mesmo de formas diferentes, o filme tem força suficiente no seu clima de tensão imposto e fala através das pesadas e inconsequentes ações de seus personagens. Debutando em longas-metragens, o cineasta Galder Gaztelu-Urrutia, indicado ao prêmio Goya de Melhor Diretor Revelação, mostra competência na direção e deixa margens para argumentos e teorias sobre o desfecho desse impactante roteiro.

Na trama, conhecemos de maneira quase instantânea um homem chamado Goreng (Ivan Massagué em atuação espetacular) se encontra em uma situação peculiar: dividindo uma espécie de quarto com outra pessoa, num lugar onde a refeição desce por andar em andar bem no centro de todos os quartos. Assim, a história vai seguindo e nós vamos descobrimento ou pensando sobre o que seria aquilo que estão vivendo. Quantos andares tem esse lugar? Porque a comida é farta para uns e nada vem para outros? O que fazer nas situações extremas? É um experimento social? As pessoas que estão ali estão forçadas a isso? Ao longo dos objetivos 94 minutos o lado de cá da tela responde muito mais perguntas do que o próprio filme.

Mesmo seguindo linhas de rebate às causas sociais da realidade e que já estiveram em contexto em outras produção como também em High Rise (2015) de Ben Wheatley, O Poço consegue construir uma narrativa eficiente caminhando na estreita margem da tensão que aflora de maneira impactante ao longo do filme. A cada arco, vamos nos movimentando para dentro desse tabuleiro psicológico como se fosse uma espécie de rpg onde buscamos soluções para nosso ‘herói’ e sempre em busca de uma solução que nada fácil se apresenta. Comparando com o mundo real, e a pandemia do coronavírus que vivemos, o impacto é mais forte ainda. Lembra do que foi falado na introdução lá no primeiro parágrafo? A data de lançamento dele para causar conscientização nas pessoas em quarentena social pelo mundo serve de força para pensarmos cada vez mais nessa sociedade que vivemos onde uns não dão quase nada para os outros, onde o egoísmo prevalece. Por colocar o dedo bem forte na ferida, O Poço já merece destaque, a mensagem chega bem mastigada a todos que querem ver e ouvir.

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30/03/2020

Crítica do filme: 'Cascavel'


Quando tudo não passa de uma história para dormirmos. Disponível na Netflix desde o ano passado, o suspense Cascavel busca em metáforas nada profundas explicar até aonde uma mãe iria para salvar sua filha. Dirigido pelo cineasta Zak Hilditch, o filme é naufrágio em forma de roteiro insano onde nada explica nada, deixando o público à mercê de lapsos de pensamentos da realidade para tentar não ficar mais perdido que cego em tiroteio. Talvez, o pior filme da carreira da competente atriz britânica Carmen Ejogo.

Na trama, conhecemos a história de Katrina (Carmen Ejogo), uma mulher que está de mudança para algum lugar e dirige durante quilômetros tendo a bordo de seu carro somente sua filha pequena. Quando fura o pneu em uma estrada isolada de população, sua filha acaba sendo picada por uma cobra cascavel que aparece no meio do deserto lugar onde estão. Desesperada e sem saber o que fazer, ela olha para o lado e enxerga um trailer onde lá dentro, uma senhora bastante esquisita, diz que salvará a menina mas que ela seria procurada para dar uma outra vida em troca. Assim, Katrina embarca em um universo do achismo e loucura e fará tudo que precisa para proteger sua família.

Tem dias que realmente não sabemos escolher um bom filme para assistir. Sonolento, chato e com um final para lá de louco, Cascavel não agrada no começo, no meio e nem no fim. Se não fosse as tentativas de levar o filme nas costas da ótima Carmen Ejogo, acredito que seria uma experiência insuportável. O roteiro não facilita. Os arcos são mal definidos, deixando a loucura inflar dentro do que assistimos, nada é explicado nem na superfície. O duelo entre ação e consequência é demodê, remete a filmes de outras décadas mas sem um pingo de respiro consciente que outras histórias impunham.

Sem mais delongas, pior para nos cinéfilos que teimamos em ir até o final de um filme mesmo percebendo que nada mais acontecerá para mudar nossa opinião. Terrível filme.

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10/03/2020

Crítica do filme: 'Por Lugares Incríveis'


Como fugir da depressão com a ajuda de um par perfeito? Conflitos adolescentes, traumas, amizade, amor e descobertas, Por Lugares Incríveis, novo drama lançado pela Netflix é um projeto com altas pitadas de drama profundo onde aos poucos vamos tentar decifrar os complexos protagonistas. Baseado na obra homônima de Jennifer Niven, com direção de Brett Haley o filme possui assuntos intensos mas perde ritmo em alguns momentos, fato que deve ser melhor explorado nas linhas do livro. Mas nada que atrapalhe o nosso refletir sobre as questões que aborda.


Na trama, logo de cara somos testemunhas do primeiro encontro inusitado entre os jovens Violet (Elle Fanning) e Theodore (Justice Smith), a primeira está a beira de se jogar de uma ponte por não conseguir se livrar de pensamentos de uma tragédia e o segundo passava pelo local durante suas diárias corridas. A partir desse ponto as duas almas se conectam, principalmente pelo esforço de Theodore em entender o porquê daquela situação que conheceu Violet. Aos poucos, a jovem vai se abrindo e nisso vai nascendo uma grande amizade que chega em seu clímax quando resolvem ser uma dupla para realizar um trabalho que consiste em visitar lugares incríveis de Indiana.


O caos emocional é um dos problemas de toda uma nova geração. Por Lugares Incríveis é um prato cheio para psicanalistas, psicólogos, psiquiatras e até mesmo sociólogos. O entender o ser humano é sempre uma ação extremamente complicada, ainda mais em jovens ainda em formação intelectual e emocional, o filme navega nessa corrente de maneira profunda a seu modo.  As lições chegam de todos os lados: há como viver em meio ao caos emocional e encontrar saídas para não deixar de ser feliz? Como lidar com os sentimentos do próximo? Como buscar ajuda para situações que não consegue entender? Há bastante reflexão, principalmente no ato final.

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09/03/2020

Critica do filme: 'Jurado 8' (Juror 8)



A grande dúvida entre a condenação e a absolvição pelos olhos de quem vive em uma sociedade. Lançado em novembro do ano passado no Japão e com remotíssimas chances de chegar até o circuito exibidor brasileiro (talvez pela falta de faro de pequenas e medias distribuidoras), Jurado 8, (Juror 8, no original), baseado em fatos reais, conta um pouco do início do júri popular na Coreia do Sul, abordando um julgamento complicado e mesclando drama profundo com pitadas cômicas. A fórmula dá certo e somos testemunhas de um apanhado de argumentos em volta de um grande júri. Interessante fita dirigida pelo cineasta Seung-wan Hong debutando na função.

Na trama, somos colocados no ano de 2008 onde acontecem os preparativos para o primeiro julgamento no país com a participação de um júri popular formado por oito pessoas completamente diferentes. Após essa seleção, o julgamento de um homem com problemas psicológicos acusado de matar sua mãe é o caso. Assim, argumentos de defesa e acusação se entrelaçam nas dúvidas simples desse corpo de jurados. Quase terminando em um resultado rápido e na visão deles óbvio, o jurado 8 levanta uma questão importante e o julgamento se prolonga com todos os recursos dessas oito pessoas em busca da verdade sobre o caso.

O filme possui várias óticas para analisarmos. A juíza do caso busca a todo instante ser paciente com os inusitados pedidos dos jurados e no fundo compreende que é necessário para o mais próximo do acerto do resultado do julgamento. A ótica dos jurados é liderada pelo jurado número 8, um jovem que acabara de tentar patentear um produto, maior pensador das dúvidas do processo que estão. O filme mostra também o enrolado início desse modelo jurídico com o júri popular, momentos que são transformados em sutis pitadas cômicas e até certo ponto bastante críticas representadas principalmente pelos que estão ao redor da juíza.

Jurado 8 deve agradar não só quem estuda direito mas também a todos que curtem bons filmes com inúmeros argumentos que nos fazem pensar muito sobre o que acontece nos jurídicos pelo mundo.

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08/03/2020

Crítica do filme: 'Luce'


Como prever um futuro perfeito já que a trajetória para se chegar até lá são repletas de surpresas e de individuais interpretações? Exibido no aclamado Festival de Sundance e deixando ótimas resenhas por onde tem sido exibido, Luce, baseado na peça teatral assinada pelo também roteirista do filme J.C. Lee e dirigido pelo cineasta nigeriano Julius Onah (O Paradoxo Cloverfield) é um poderoso drama com pitadas generosas de tensão onde somos recheados de argumentos para nos posicionarmos quanto as importantes questões que o filme aborda. Podemos afirmar que Luce é um dos filmes que mais trazem debates para o lado de cá da telona dos últimos anos, que absurdamente não foi exibido nos cinemas brasileiros.

Na trama, conhecemos Luce (Kelvin Harrison Jr. em ótima atuação), inteligente, atleta e aluno preferido de sua escola que fora adotado por seus pais, Peter (Tim Roth) e Amy (Naomi Watts), aos sete anos quando o país em que morava era caótico. Luce cresceu como americano, e se tornou brilhante. Mas tudo isso é colocado em xeque quando Harriet (Octavia Spencer) uma professora de história revela uma preocupação sobre uma redação feita por Luce, o que leva a família perfeita a conflitos onde vamos descobrindo aos poucos que nada acaba sendo perfeito.

Invasão de privacidade, trinca conflituosa entre professores, pais e alunos, o reconhecimento de que os problemas existem em um lar precisam ser resolvidos de alguma forma coerente. Luce preza pelo clima de tensão ao mais alto nível, tudo é desconfiança nesse filme. Um caminho legal para tentar entender tudo que é solto nas ações é enxergar pela ótica dos pais, ponto central da trama. Com a desconfiança da professora na mesa, Amy e Peter trocam nos papéis de defender ou buscar a verdade sobre seu perfeito filho. É um retrato bastante introspectivo de uma família, com atuações excelentes. A ótica da professora também é bastante impactante, a intimidação que é proposta de maneira nua e crua. Afinal, Luce é inocente? Ou longe disso? Belo filme!

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Crítica do filme: 'Você Não Estava Aqui'


A realidade nua, crua e bruta dando ar numa tela gigante para quem quiser ver e sentir. O novo trabalho do genial cineasta britânico Ken Louch é antes de mais nada um belo soco no estômago das hipocrisias trabalhistas em um mundo dominado por cães ferozes, muitas vezes, sem sensibilidade. Aos 83 anos, o veterano diretor parece que nunca perde a mão, não mede esforços e simplicidade para nos mostrar detalhes profundos de retratos que acontecem nesse lado daqui na tela, principalmente em um Europa em crise existencial talvez camuflada por notícias que não nos levam a fundo sobre o que pensar. Você não Estava Aqui é impactante até seu último suspiro.

Na trama, somos jogados para a realidade de uma família de classe média baixa britânica, onde o pai Ricky (Kris Hitchen), um torcedor entusiasmado do Manchester United, resolve investir em uma van de entregas para tentar mudar um pouco da realidade apertada financeira de sua família. A questão é que a partir desse ponto, acaba influenciando a todos em sua volta, sua esposa Abbie (Debbie Honeywood em uma atuação primorosa) é uma cuidadora que após vender seu carro para o investimento na van de Ricky vê sua agenda e rotina mudarem ocasionando em uma escassez maior ainda de uma coisa valorosa: o tempo. Assim, os dois filhos do casal também passam por transformações e a todo instante perguntamos, será que Ricky fez o certo em tentar dar um passo além do que já tinha? As certezas dessa resposta nos chegam forte quando entendemos melhor a empresa que fornece os conteúdos de entrega ao protagonista.

O universo próximo do trabalho, o sustento, com a falta de tempo para sua família. Os duelos que Ricky enfrenta são diversos e as coisas só pioram com a família desmoronando por falta de orientação dos que sustentam a casa. Atencioso e responsável, o protagonista retrata milhares de pessoas dia a dia que lutam bravamente para sobreviver em vez de viver. Com poucos prazeres e muita obrigação, Rickey é jogado em um universo onde as leis trabalhistas parecem que não existem aos que mais precisam. Ken Louch coloca o dedo na ferida, quase um filme denúncia sobre todo um retrato até bem amplo de uma sociedade que se importa pouco pelo próximo.

Uma observação importante também. Feliz em ver o circuito desse belo projeto ampliado até mesmo para cinemas de shopping. Importante filmes que nos fazem refletir estarem no máximo de lugares possíveis onde tem uma telona. Imperdível.

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