10/10/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #123 - Michel Gutwilen


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é um grande cinéfilo e crítico de cinema dos sites Plano Crítico e Plano Aberto, além de já ter colaborado para mais 4 veículos neste curto período desde que iniciou na área, em 2019. Michel Gutwilen é um ávido apaixonado por teoria cinematográfica e que vê a atividade crítica com relação a ela tal como a engenharia é a ciência física aplicada. 22 anos, também estudante de Direito-UERJ e já esteve no Festival de Cannes após ser selecionado para o programa “Cannes por 3 Dias”, oferecido a jovens de 18-28 anos.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Estação Net, Espaço Itaú e Cine Casal (Barra Point). Sendo bem direto, são só nesses lugares que eu tenho a chance de ver uma Naomi Kawase da vida ao invés de entrar em um cinema de shopping e me deparar com 20 sessões para Vingadores. Ainda que inseridos em uma lógica mercadológica, são os lugares que ainda valorizam o cinema de uma maneira mais artística, realizam mostras de grandes autores, se importam com trabalhos autorais. Ou seja, são uma luta contra o cinema tocado a modo industrial.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro não lembro, mas vou responder sobre filmes no geral que me fazem lembrar que o cinema é um lugar diferente. O cinema maneirista, o famoso “cinema hiper estilizado”. Qualquer filme de um Hitchcock, Brian de Palma ou um Dario Argento da vida. Claro que valorizo muito os grandes diretores realistas como Rossellini ou Nelson Pereira, mas são os primeiros citados que despertam na minha mente uma paixão pela arte. São eles que me lembram que a Arte é uma possibilidade criativa, livre e autônoma, não tendo uma obrigação de reproduzir o mundo mimeticamente. Se a história do Cinema é a história de sua origem, seriam, resumidamente, os discípulos de Georges Méliès, e não dos Irmãos Lumière.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

É uma complementação da minha resposta anterior. Alfred Hitchcock. Meu filme favorito dele também considero o maior filme da história do Cinema, Um Corpo que Cai (Vertigo). Nenhuma outra obra mexeu sensorialmente comigo a nível imersivo, de literalmente me deixar em um estado de transe, quase hipnótico, enquanto assisto aquilo que acontece em tela. Filmes que chegaram perto disso foram Suspiria (Argento), Verdades e Mentiras (Orson Welles), Apocalypse Now (Coppola) e Cidade dos Sonhos (David Lynch). O Belo (segundo o conceito de Kant) pelo Belo, a arte que se justifica por si só. Cinema, para mim, é isso. Vou citar rapidamente outros grandes diretores, além dos 5, e minhas obras preferidas: James Gray (Amantes); Naomi Kawase (Shara); John Carpenter (Fuga de Los Angeles); Michael Mann (Miami Vice); Agnès Varda (Cléo de 5 às 7); Fritz Lang (Vive-se Só Uma Vez); Clint Eastwood (Coração de Caçador); M. Night Shyamalan (Sinais); Carl Theodor Dreyer (O Martírio de Joana D’Arc); Federico Fellini (Noites de Cabíria); Pedro Costa (Casa de Lava); Peter Tscherkassky (Outer Space); Glauber Rocha (O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Atualmente eu diria que é Rio, 40 Graus (1955), do Nelson Pereira dos Santos. Como carioca, fico impressionado com a forma que o Nelson usa o Rio de Janeiro em prol da sua narrativa, sendo praticamente um personagem vivo. O filme é quase como uma “tour turística” pelos principais pontos da cidade, mas em nenhum momento isso soa forçado, estando eles inseridos organicamente na narrativa. Além disso, filmes com histórias e tramas paralelas nunca são fáceis de fazer, mas o jeito como o diretor conduz a transição entre os núcleos é muito incrível e natural. O personagem do núcleo A está em cena, aí um personagem do núcleo B passa ao fundo e repentinamente passamos a acompanhar ele. Muito genial. Aliás, a técnica raccord talvez tenha tido aqui uma das suas utilizações mais marcantes da história do Cinema, que foi a cena do jovem pobre sendo atropelado enquanto as pessoas comemoram um gol no Maracanã.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Aproveito esta resposta para uma provocação. Ser cinéfilo, para mim, não é quem viu 20.000 filmes, mas quem se entrega passivamente aos filmes e deixa sua emoção tomar conta. Esquecer que você é você durante a sessão de cinema. Infelizmente, está cada vez mais comum um certo tipo de “cinefilia” (sim, as aspas), que mais parece pessoas querendo emprego na área de continuísta do que verdadeiros apreciadores de Arte. Pessoas que tratam o cinema como um jogo de 7 erros, que procuram erros de continuidade, os furos de roteiro mais bobos possíveis. É um tipo de gente que entra tensa no cinema, já pronta para ser um robô que vai caçar os “erros” do filme. Para mim, qualquer tipo de espectador que não se importe com este tipo de bobagem e tenha uma relação com a Arte mais sensorial, e menos racionalizada, já é uma cinéfila. 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não sei se tenho uma opinião formada, até porque faz pouco tempo que adentrei neste meio, mas vou replicar uma “zoação” que vejo falarem na internet: “Enquanto programadores de grandes multiplex acham que o cinema brasileiro se resume a de Pernas pro Ar, certos programadores de salas culturais acham que o ‘cinema de arte’ se resume aos irmãos Dardenne e Festival Varilux”. Brincadeiras a parte, eu honestamente não estudei tanto a função exata do programador e também não sei até que ponto dá para culpá-lo e não fatores externos, tais como: o filme X não ter sido comprado por nenhuma distribuidora; pressão de exibir obrigatoriamente o filme Y; impossibilidades financeiras etc. 

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não. Acho uma tristeza que muitos colegas de crítica tenham uma relação banal com uma sala de cinema, ao invés de tratá-la como um Templo Sagrado. Sim, eu sou purista. Não à toa, existem diversas teorias cinematográficas que estudam justamente a relação psicológica entre o Cinema (lugar físico) e o espectador. Existe toda uma relação de poder e dominação inconsciente que uma sala exerce no ser humano, explicados por vários fatores: o tamanho da tela maior do que o ser humano; a luz que é projetada por trás de nós (uma ameaça que não vemos); o campo de visão limitado pela escuridão; o fato de estarmos em uma sala com pessoa que não conhecemos, etc. Tudo isso potencializa a imersão do espectador com a obra, que seria o objetivo final do cinema. Já no ambiente caseiro, a imersão total pode até acontecer, mas exige bem mais esforço por parte da pessoa. Eu mesmo tenho dificuldade de ver um filme de mais de 1h40 em casa sem me dispersar, enquanto no cinema veria um Lav Diaz de 4h facilmente. Nunca será a mesma coisa.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Vitalino/Lampião; Sertânia (Geraldo Sarno); SuperOutro (Edgard Navarro);O Som da Terra a Tremer (Rita Azevedo Gomes); O Tempo e a Maré (Tsui Hark); Coeur fidèle (Jean Epstein); O Demônio da Argélia (Julien Duvivier); A Culpa dos Pais (Vittorio de Sica); Grisbi, Ouro Maldito (Jacques Becker); O Fim de um Longo Dia (Terence Davies); A Sombra da Forca (Joseph Losey); Trágico Alibi (Joseph H. Lewis); Bastardos (Claire Denis); Meantime (Mike Leigh); O Pensionista (Alfred Hithcock); História de Melancolia e Tristeza (Seijun Suzuki); Marrocos (Josef von Sternberg); Perigo Extremo (Isaac Florentine).

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Bem, na altura desta minha entrevista, os cinemas já abriram aqui no Rio de Janeiro, então não resta muito o que fazer. Vejo muitos comentários ideológicos nesta resposta, mas pouca gente sendo prática e trabalhando com o mundo real. Obviamente, sou contra, EM teoria, mas andem pelo Rio de Janeiro para compreenderem a situação. Praia lotada, bares cheios até em dia de semana, academias e shoppings abertos, até boate disfarçada de bar já tem. Já está absolutamente tudo errado, a situação fugiu do controle e não há como botar novamente essas pessoas para dentro de casa. Logo, o ramo cultural vai ser o único bonzinho que vai se ferrar sozinho enquanto todo mundo já finge que o COVID não existe aqui na cidade? Pode ter certeza que se tiver uma segunda onda, o Cinema é o menor dos culpados, diante de tantas irresponsabilidades já sendo feitas.    

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Recentemente estava lendo Teorias do Cinema, de Andrew Tudor, e lá ele diz que o Eisenstein lamentava muito que os primeiros teóricos do cinema gastaram grande parte de sua energia tentando provar (para ignorantes) que o Cinema era sim uma Arte, ao invés de usarem seus intelectos para pesquisas mais produtivas. Pois bem, eu lamento que a gente ainda tenha que provar para as pessoas que o nosso cinema brasileiro, tanto o de ontem como o de hoje, é riquíssimo. Para ficar só em 2020, que ainda nem chegamos no fim, mas já tiveram as obras-primas Sertânia (Geraldo Sarno) e Vaga Carne (Grace Passô, Ricardo Alves Jr.), o excelente Cabeça de Nêgo (Déo Carodoso), além dos ótimos A Morte Branca do Feiticeiro Negro (Rodrigo Ribeiro); Meu Nome é Badgá (Caru Alves de Souza), Vento Seco (Daniel Nolasco); É Rocha e Rio, Negro Leo (Paula Gaitán).

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Gosto do uso da frase “artista” na pergunta, porque ela é justamente perfeita para quem quero responder. Grace Passô é diretora, atriz, roteirista. E excelente em todas as funções. Ou seja, uma verdadeira artista. Resumindo, a mulher é braba. Não perco nada que sair daqui pra frente. Estou também ansioso pelos próximos trabalhos do André Novais Oliveira e do Kléber Mendonça Filho. Aliás, vamos ver se os veteranos Geraldo Sarno e Neville D’Almeida ainda lançarão algo (Neville havia dito que sim, na exibição de Mangue Bangue aqui no Rio de Janeiro).

 

12) Defina cinema com uma frase:

Assim como a pergunta 5, faço aqui uma provocação a partir de 3 frases. 1) “Cinema é uma arte AUDIOVISUAL, com linguagem técnica e teoria próprias”. Infelizmente, muitos colegas críticos parecem esquecer do básico do básico, só comentando sobre aspectos de roteiro, que é importante sim, mas apenas um dos tantos elementos que compõem uma obra. 2) “Cinema é um FIM em si mesmo, não um MEIO.” Igualmente, muitos colegas também só enxergam o cinema se ele encaixar dentro de sua cartilha política ou for um “filme importante para os dias atuais”. Um filme não deve nada a realidade e não têm nenhuma função social (desculpa, Eisenstein). Aceitem o Belo pelo Belo. 3) “Cinema, assim como todas as artes, é uma união entre FORMA e CONTEÚDO, que juntas formam uma unidade, a mise-en-scène”. Infelizmente, muitos colegas também tratam o Cinema e a Crítica como cartela de bingo, na qual vão falando dos elementos fílmicos de maneira separada, sem nunca pensá-los de maneira conjunta. Afinal, o que diabos é uma “boa fotografia”?     

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Cabine de imprensa do brasileiro Vaga Carne (com a maravilhosa Grace Passô), ainda em 2020. O primeiro minuto de filme era, propositalmente, só a fala de Passô, enquanto a tela do cinema estava preta. Bem, eu entendi logo de cara que isso fazia parte da experiência, mas uma crítica já bem veterana (que não conheço, mas parece ser uma fofa) não sacou muito bem e ficou gritando “A IMAGEM NÃO TÁ APARECENDO! ALGUÉM BOTA A IMAGEM”. Confesso que fiquei me segurando para não rir da situação.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras…

Olha, eu dei tantas respostas gigantes nesta entrevista, que acho que o Raphael vai me perdoar por ser direto aqui: não vi e estou com preguiça de assistir só para responder a entrevista. Inclusive, é do meu ano de nascimento.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Por incrível que pareça, não. Eu sigo uma certa visão, não só de cinema como para toda a arte, que a intenção do seu realizador não importa, mas sim que seu objeto existe no mundo de maneira autônoma a partir do momento que é finalizado. A interpretação do espectador é livre. Claro que em um mundo utópico penso que todo diretor deveria estudar teoria da arte, pelo menos saber o conceito de mise-en-scène, mas, sendo bem direto, nada impede que uma grande obra saia das mãos de uma pessoa que nunca viu mais de 10 filmes na vida e apenas filmou seu dia-a-dia com o celular na mão. De certo modo, aí está a beleza da arte, não? 

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Der ewige Jude (Fritz Hippler), que em inglês é The Eternal Jew. Um filme bizarramente nazista, manipulador de diversas mentiras sobre os judeus e disseminador de estereótipos. Diferente de outras atrocidades ideológicas, mas que trouxeram importantes trabalhos técnicos para a história do Cinema, como D.W. Griffith e Leni Riefenstahl, esse filme ainda é porcamente dirigido.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Vou abrir uma longa margem para a interpretação de documentário, ok? Mentiras e Verdades (Orson Welles); Méditerranée (Volker Schlöndorff, Jean-Daniel Pollet); Uma Visita ao Louvre (Jean-Marie Straub, Danièle Huillet); Os Catadores e Eu (Agnès Varda); Di Cavalcanti (Glauber Rocha); Jogo de Cena (Eduardo Coutinho); Close-Up (Abbas Kiarostami); Cantos de Trabalho (Humberto Mauro); O Sangue das Bestas (Georges Franjus); Noite e Neblina (Alain Resnais); Titicut Follies (Frederick Wiseman); Um Homem com uma Câmera (Dziga Vertov). Além disso, este ano vi dois documentários fantástico no Festival Ecrã que fiquei completamente chocado: Não Haverá Mais Noite (Eléonore Weber) e Assistindo A Dor dos Outros (Chloé Galibert-Laîné).

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Sim, mas só acho que faz sentido em sessões com o diretor, de festivais, pré-estreia e estreia, visto que o objetivo é mostrar o contentamento com o filme. Inclusive é válido gritar “bravo, bravo”. Já não acho que faz tanto sentido fazer isso numa sessão de terça-feira com mais 5 pessoas na sala, mas não me incomodarei se alguém fizer.   

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O sensacional O Selvagem da Motocicleta (Francis Ford Coppola). No entanto, segue o adendo que eu ainda não vi Olhos de Serpente (Brian de Palma), justamente de um dos meus diretores preferidos.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Por incrível que pareça, um site já não mais ativo, que é a Contracampo. Meio que não tem erro, né? As melhores críticas dos melhores críticos do Brasil estão lá. Os textos de lá são uma Bíblia de estudos para mim, neste início de jornada. Dito isso, também sou fã das Revistas Cinética (a sucessora da Contracampo), Multiplot!, Foco e do site português À Pala de Walsh. São os lugares que eu leria um texto já na certeza que vou aprender algo antes mesmo de clicar na crítica.

 

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09/10/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #122 - Clara Oliveira


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.


Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de recife. Clara Oliveira tem 20 anos, é estudante do segundo período de Cinema e Audiovisual, apaixonada por suspenses, comédias românticas e terror. Faz parte do portal de entretenimento Oxente, Pipoca? (Instagram @oxentepipoca), onde também comenta sobre filmes e séries.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

As salas Cinemark do Shopping RioMar, por mais que não sejam as que eu mais visite (já que são longe da minha casa). Tenho a impressão que é o cinema que mais tem opções de filme na programação, e costuma ir além dos mais comerciais, lançando alguns independentes que normalmente não são exibidos nas outras redes. Algumas vezes era o único passando um filme que eu queria muito ver.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Talvez Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1, foi o primeiro filme da saga que consegui assistir no cinema e a experiência é muito diferente de ver em casa. Estar em uma sala rodeada por pessoas vivenciando a mesma coisa que você é especial. É um daqueles momentos que eu daria tudo pra voltar no tempo e repetir exatamente como foi da primeira vez. O fato de ser um dia de estreia com todos reagindo ao filme ao mesmo tempo, vibrando, gritando e chorando cria uma memória que vai muito além do filme em si.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Tenho que ficar entre Christopher Nolan e Greta Gerwig. Do Nolan seria Inception, que foi o primeiro filme de sua filmografia que assisti e acabou mudando a maneira como eu enxergava o cinema e todas as possibilidades de contar uma história. Amo os outros longas do diretor mas esse ainda é incomparável pra mim. Da Greta eu diria Little Women, a forma como ela passa sentimentos reais pro filme me pega muito. As personagens são profundas e a história é linda, além de ser uma adaptação perfeita do livro.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Sei que é clichê ser nordestina e responder O Auto da Compadecida mas eu não conseguiria escolher outro. Foi lançado no ano em eu nasci, cresci assistindo esse filme em todas as oportunidades que tinha e continuo rindo das mesmas piadas. São muitas memórias afetivas e provavelmente é o filme brasileiro favorito da maior parte da minha família também.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser apaixonado pela forma única que o cinema tem de contar histórias e estar sempre interessado em descobrir coisas novas. Sou extremamente contra a noção de superioridade que alguns ditos cinéfilos tem por não gostar de filmes "mainstream". Não existe um jeito certo de experienciar o cinema, filmes diferentes impactam pessoas diferentes, e eu acho isso maravilhoso.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Pelo fato de serem empresas o interesse maior se torna o lucro, os filmes com atores mais famosos ou de companhias mais conhecidas sempre vão ser priorizados, por isso acaba não havendo muito espaço para apresentar outras produções.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Duvido muito, mesmo com a popularização das televisões e dos streamings as salas de cinema continuam gerando bilhões em bilheteria todo ano. Assistir a um filme no cinema acaba se tornando um evento, e não é uma sensação que dá pra replicar em casa.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Um Contratempo. É um filme espanhol lançado em 2016, do gênero suspense. Segue a história de um homem que acorda em um quarto de hotel, com sua amante morta ao seu lado, e ao se tornar o principal suspeito do crime decide contratar uma advogada para reconstituir o que aconteceu e criar sua defesa. O diretor Oriol Paulo criou uma narrativa que deixa o espectador vidrado desde o início e continua surpreendendo quanto mais avança. Está disponível na Netflix.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

É uma questão que depende muito de cada cidade, em locais onde os casos realmente estão controlados acho válido.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

É incrível para quem está por dentro das produções e conhece os lançamentos menores. A qualidade do cinema brasileiro realmente não é um problema, a falta de visibilidade no mercado para a maioria dos filmes é. Acho que falta oportunidade pro espectador médio conhecer produções fora do eixo Globo Filmes, por exemplo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 

João Miguel. Ele é maravilhoso em todos os seus papéis e sempre traz algo a mais para os filmes de que participa.

 

12) Defina cinema com uma frase:

É a arte de transformar sentimentos em filmes.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Fui numa sessão de Homem-Aranha: No Aranhaverso em que uma criança na fileira da frente passou o filme inteiro virando de 5 em 5 minutos pra mãe pra perguntar "Quando é que ele vai virar o homem-aranha?"

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Uma pérola do cinema nacional.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Pra dirigir um filme não, pra dirigir um filme bom, talvez. É bem mais fácil entender o que funciona e o que não funciona em uma obra audiovisual quando você tem um conhecimento mais expandido sobre. Não basta querer contar uma história, é preciso entender a forma como isso se transpõe pro cinema.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Acho que um que realmente me tirou do sério a ponto de não aguentar mais e passar cada minuto torcendo pro filme acabar foi Missão: Impossível 2. Eu digo isso sendo fã da franquia, que tem alguns filmes impecáveis, como Missão: Impossível - Efeito Fallout, lançado em 2018. O segundo, entretanto, é uma bomba de proporções inimagináveis, não tem qualquer tipo de substância e é só ação em cima de ação, além de reciclar um mesmo plot twist até dizer chega. Assisti em março desse ano e se me perguntar já não lembro de quase nada.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Difícil lembrar de todos para fazer uma comparação válida, mas o melhor que vi esse ano (e acabei reassistindo mais duas vezes) foi Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar. Está na Netflix e é sobre a população de Toritama, município do interior de Pernambuco, sua relação com a produção de jeans na cidade e a exploração a qual são submetidos e muitas vezes nem percebem. O documentário é muito humano, no final você sente que realmente conhece e entende aquelas pessoas. Recomendo demais.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Sim, principalmente em dias de estreia. A vez mais longa provavelmente foi assistindo Bacurau no Cinema São Luiz, no mesmo dia que Kléber Mendonça Filho e o elenco estavam lá, no andar de baixo. Acho que fiquei uns 5 minutos batendo palma, e outras pessoas ao meu redor ainda continuaram por um pouco mais de tempo.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Acho que A Lenda do Tesouro Perdido. É bem "sessão da tarde" e eu não consigo não achar divertidas essas narrativas de aventura que envolvem um monte de pistas. Se a franquia tivesse um 3º filme eu assistiria com certeza.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

CinemaBlend, os críticos tem um gosto bem parecido com o meu, então fica mais fácil escolher o que assistir.

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08/10/2020

Crítica do filme: 'A Walk on the Moon'


Os indecifráveis códigos do amor. Debutando como diretor de longas-metragens no ano de 1999, com esse trabalho, o ator, produtor e cineasta Tony Goldwyn (o vilão do filme Ghost) tem o mérito de através das linhas do roteiro assinado pela ótima roteirista Pamela Gray, encontrar delicadeza e maturidade para mostrar conflitos e escolhas de uma mulher que faz reflexões sobre a vida de maneira introspectiva, tendo que optar ou não pela inconsequência e as certezas que encontra nas suas atitudes. O projeto conta com duas atuações fantásticas e emocionantes dos artistas Diane Lane e Liev Schreiber. Um filme que poucos conhecem e que merece ser encontrado.


Na trama, ambientada no verão do recheado ano de 1969 nos Estados Unidos, conhecemos Pearl (Diane Lane) e Marty (Liev Schreiber) um casal que vive seu cotidiano dentro da mesmice e que passa parte da estação mais quente do ano em uma espécie de retiro com outras famílias conhecidas. Ela é dona de casa enquanto ele conserta televisores para viver. Eles formam um belo casal, cheio de harmonia mas algo não está muito certo aos olhos de Pearl. Quando a protagonista conhece o caixeiro viajante, vendedor de blusas, Walker Jerome (Viggo Mortensen), desejos escondidos e uma vontade de imaginar e viver coisas diferentes da mesmice que vive ganham contornos dramáticos quando ela passa a ter um caso com Walker.


Uma mulher em crise existencial? Seria muito simplista de nossa parte analisar o filme sobre uma ótica tão sem argumentos. Em Walk on the Moon, um filme atemporal, observamos a todo instante Pearl deixar escapar a infelicidade como migalhas nos diálogos reflexivos com o marido. Vivendo dentro de um contexto, anda pela corda bamba das tradições em contraponto aos desejos escondidos. Os diálogos sobre sonhos não concretizados da protagonista e a sogra é algo profundo, um sentimental jogo de quebra cabeça, uma das sequências mais profundas e impactantes desse filme. Mas não é só com o marido que Pearl vive problemas, os conflitos com a filha deixam de ser coadjuvantes e se tornam cada vez mais explosivos. Vale o destaque também para a atuação da ganhadora do Oscar pelo filme O Piano, Anna Paquin.


Inconsequência, liberdade limitada, woodstock. Com uma trilha sonora maravilhosa e bastante influente dentro dos contextos da história, Walk on the Moon mostra um recorte atemporal de uma família com problemas no casamento, na relação pais e filhos, e como a maturidade pode ser fator importante para entendermos melhor as escolhas que fazemos.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #121 - Alan Ferreira


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, nascido em São João de Meriti, morador há 2 anos de Rio das Ostras. Formado em Letras pela UERJ desde 2008, Alan Ferreira é professor das redes estadual e municipal. Apaixonado por cinema desde moleque e tendo sofrido para dar asas a sua cinefilia numa região com pouco acesso à cultura como a Baixada, sempre se preocupou em, para além das suas aulas de Português, oferecer aos alunos da escola pública a oportunidade de conhecer um pouco da linguagem cinematográfica e o que de melhor se produziu mundo afora.


Em 2012 surgiu a chance de ter uma estrutura adequada para a criação de um cineclube e uma oficina de cinema no CIEP onde trabalhava através do projeto CINEAD (Cinema para Aprender e Desaprender) da UFRJ. Com o equipamento adquirido, criou-se o Núcleo de Audiovisual Ofélia Ferraz (NAV), cujo nome homenageia uma professora que teve nessa mesma escola e que sempre o incentivou a ampliar seus conhecimentos sobre cinema. No espaço, realizaram-se entre 2013 e 2018 sessões de grandes filmes como Laranja Mecânica, Taxi Driver e Estômago seguidas de acalorados debates, além das já mencionadas oficinas utilizando o aprendizado adquirido no CINEAD, que renderam inúmeros exercícios e quatro curtas amadores. Caso queiram dar uma olhada, há uma página no Facebook com o nome do espaço na qual você encontrará os registros de todas as atividades realizadas, inclusive os curtas. Hoje, estuda formas de conseguir fazer algo semelhante onde mora atualmente.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Na cidade onde vivo atualmente só há um cinema e ele é dominado pelos blockbusters. Quando morava na Baixada Fluminense, onde nasci e cresci, costumava pegar o metrô para curtir a programação dos cinemas da Voluntários da Pátria em Botafogo. Adorava ir ao Odeon também!

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Velocidade Máxima. Foi numa das minhas primeiras idas ao cinema. Imagine uma criança de 12 anos que sempre adorou andar de ônibus vendo um voar tal como a bicicleta do Elliot em E.T. naquela sequência da falha na rodovia... Foi uma epifania! Lembro de tê-lo visto num cinema de rua da minha cidade, São João de Meriti, cuja sessão fazia dobradinha com a de Duro de Matar: A vingança. Por módicos 10 reais, vi cada filme duas vezes e, quando dei por mim, tinha passado o dia inteiro no cinema.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Essa é uma das perguntas mais cruéis para qualquer cinéfilo. São tantos que acho maravilhosos: Kubrick, Bergman, Welles, Buñuel, Tarkovski, Ozu, Tarantino... Mas, não posso fugir de escolher o primeiro a me fazer enxergar o cinema como linguagem: Alfred Hitchcock. Meus filmes favoritos do mestre são Um Corpo que Cai e Psicose.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Central do Brasil. Foi o filme que me mostrou a força do cinema brasileiro e que ele não devia (nem deve) nada para qualquer outro do mundo. Revi recentemente e essa maravilha segue emocionante.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é ajoelhar-se regularmente diante do verdadeiro deus do tempo.

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Tirando os chamados "cinemas de arte", infelizmente, não. Creio que majoritariamente levam em conta aspectos financeiros, vendo-o apenas como um negócio.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. Como muitos já disseram, o cinema já teve sua morte decretada várias vezes e ele sempre se prova como uma experiência inigualável.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Talvez para a galera cinéfila ele não seja tão desconhecido, mas eu gostaria muito que o grande público descobrisse e celebrasse o colombiano O Abraço da Serpente. É lindo demais!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. Acho uma temeridade diante de números ainda tão alarmantes. Como sempre, é o tal aspecto financeiro falando mais alto.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

A qualidade de nosso cinema é altíssima! Só pegando a última década, encontramos filmes como Temporada, Divino Amor, Bacurau... obras tão diferentes e igualmente fantásticas. Enquanto professor do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública, sempre fiz questão de apresentar aos meus alunos a riqueza do cinema brasileiro e destruir essa visão estereotipada que muitos ainda carregam. Não esqueço das reações a joias como O Menino e o Mundo e Estômago em nossos cineclubes.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

São tantos... Mas escolherei dois, um em cada extremidade da câmera: Kleber Mendonça Filho e Matheus Nachtergaele.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Não me atreveria. Só posso agradecer ao cinema por ter deixado minha vida menos miserável.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não tenho tantas. Certa vez, um grupo de ex-alunos combinaram de ir ao cinema e me chamaram. Era uma oportunidade para revê-los e assistir a um filme que me despertou muito interesse: Homem-Aranha no Aranhaverso. Chegando lá, percebo que o galerão que confirmou presença se resumiu a um casal recém-formado. Não sei foi coincidência ou se foi planejado por mentes malignas que queriam o respaldo de algum responsável. O fato é que só eu vi o filme, pois eles estavam mais interessados em aproveitar as duas horas da sessão para se conhecerem melhor. Eu tossia o tempo todo. Rs

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Uma obra que ainda não tive o prazer de assistir, mas que por ter proporcionado emprego a diversos profissionais de nosso tão maltratado audiovisual e pela mística criada, já merece previamente meu carinho.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não creio que seja propriamente necessário. Mas se eu, que não sou nenhum profissional da área, sempre vi cada filme como uma aula, imagino que um cineasta devesse pensar assim também. Acho que as chances de se aprender mais sobre o ofício aumentam quando você tem curiosidade pelo que já foi feito. E trabalhando com algo tão apaixonante, como não querer ver tudo? É, no mínimo, estranho...

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Não conseguiria apontar o pior, pois minha memória não costuma guardar experiências ruins. Um que me aborreceu bastante recentemente foi O Professor, com Johnny Depp.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Edifício Master do Eduardo Coutinho. É inacreditável o que ele conseguia extrair das pessoas que se sentavam à sua frente.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Só em sessões de festivais, quando tal prática é até normal. Quase puxei uma salva de palmas ao final da sessão de Arábia. Mas como sou tímido, me contive.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

A Outra Face. Deliro com aquilo!

 

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07/10/2020

Crítica do filme: 'Collective'


O bom jornalismo está em muitos lugares, a fonte desse é a verdade. Prêmio de Melhor Longa-Metragem Documentário da Competição Internacional na edição 2020 do Festival É Tudo Verdade, Collective, de Alexander Nanau é um filme forte e corajoso. Um documentário investigativo mostrando quase em tempo real as chocantes descobertas e os desdobramentos de um fato que desencadeou uma crise feroz no Ministério da Saúde da Romênia. Um grupo de jornalistas tenta apurar e noticiar todas as portas que se abrem conforme vão avançando no caso. Detalhado e argumentativo, somos testemunhas de um golpe completo de um estado disfuncional, sua corrupção e seu sistema de saúde repleto de esquemas gananciosos.


Indiferença mata! Dilua a corrupção! Uma tragédia com mais de duas dezenas de mortos em uma boate na Romênia. Outras dezenas são levadas a hospitais romenos para cuidarem na maioria dos casos das intensas queimaduras que sofreram. Com a morte de muitos desses que foram para os hospitais, a partir de uma denúncia, um absurdo esquema é descoberto. Diluição de desinfetantes que são comprados pelos hospitais, o que prejudica a conter avanço/ação de fortes bactérias. Uma investigação mais profunda sobre o caso é de uma editoria de esportes, o que coloca em xeque também parte da imprensa.


Chocante. A ganância, o poder. Há um clima tenso durante todo o filme, que abre em vertentes que mostra a investigação de incansáveis jornalistas, uma troca no comando do ministério da saúde, um pai em luto e uma sobrevivente tentando buscar levantar sua vida após o trauma que viveu. Fugindo um pouco do foco, ou por outro ponto de vista até mesmo indo bem além da superfície, ou em outro abrindo portas de mais sujeira no sistema de saúde romeno ou até mesmo nas entrelinhas destacando a força do papel da imprensa, Collective é um filme importante e merece ganhar debates pelo mundo.  

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #120 - Allan Deberton


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de fortaleza. Allan Deberton é produtor, diretor e roteirista, formado em Cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Diretor de curtas premiados, seu primeiro longa Pacarrete, estreou no 22th Shanghai Internacional Film Festival. No Brasil, foi o grande vencedor do Festival de Gramado 2019, ganhador de 8 Kikitos, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção. Premiado Melhor Diretor no 24th International Film Festival of Kerala (Índia).


Obs: Grande Allan. Seu primeiro longa-metragem, super elogiado por pessoas que admiro e sigo que escrevem sobre cinema, é um dos que está anotado para eu assistir. Ainda não consegui assistir. Para um cinéfilo, não conseguir assistir ao filme que quer muito ver é uma tristeza danada rs. Mesmo ainda não tendo visto seu primeiro, já no aguardo do segundo (prometo assistir mais rapidamente)! Siga em frente em nosso universo audiovisual, precisamos de pessoas como você para a nossa maravilhosa cultura sempre vencer sobre qualquer argumento sem fundamento de quem não acredita que ela seja importante.


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Cinema do Dragão. Programação requintada e espaço para todos e todas. Quando tem filme no Dragão já sei que é bom. Curadoria impecável de Pedro Azevedo.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O Casamento de Muriel, de P. J. Hogan. Assisti mais ou menos na mesma época de Louca Obsessão de Rob Reiner. Estava viciado na "Videoteca Caras", na época. Foi uma oportunidade de, ainda garoto, prestar atenção em enquadramentos, narrativa e, principalmente, às performances. Um pouco sobre cinema que fui conquistando aprendizado sem perceber.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Vittorio De Sica. Ladrões de Bicicleta.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Central do Brasil, de Walter Salles. Me fez chorar, me fez conhecer o Brasil, me fez torcer pelo cinema brasileiro e querer estar dentro dele.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ter o cinema como combustível.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito não. Vejo cada coisa estranha em cartaz... e tanto filme incrível inacessível. Sei que isso também depende das distribuidoras e dos títulos que tem e dos que não tem disponíveis. Acho que tudo tem como melhorar.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Gloria, de Sebastian Lelio.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Já reabriram. Rezar pra dar certo.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Gosto de pensar da diversidade que, de alguma forma, parece ser só nossa. É múltiplo e rico e a qualquer momento, do nada, pode surgir um jovem talento. Gosto muito de pensar nosso cinema descentralizado, dando vez e espaço para histórias e contadores do Brasil adentro.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Walter Salles.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Viajar para outro mundo, mesmo que seja o nosso.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Assistindo Tudo pra ficar com ele, uma comédia romântica com Cameron Diaz. Assisti sozinho, fugindo de uma aula da faculdade (eu estudava Contábeis na época). Tinha uma cena musical "Ele é grande demais pra caber aqui", sobre um pênis grande de alguém e as protagonistas imaginando isso e tendo orgasmo a la broadway. Todo mundo na cena cantava alegremente em busca deste pênis enorme. Se eu fiquei em choque imagina uma mãe de uma menina de 13 anos que estavam ao meu lado.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca assisti, mas acho a cena que viralizou um clássico. É coisa de gênio.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Me ponho nesse grupo. Queria ver mais filmes.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Dirty Dancing remake pra tv com Abigail Breslin.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Ailen Wuornos: The Selling of a Serial Killer.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Já. É frequente quando a gente está em festivais, lugar de descobertas. Muitas das palmas foram sinceras.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Adaptação.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #119 - Eduardo Gomes




O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Petrolina. Eduardo Gomes tem 31 anos, é formado em Comunicação Social – Jornalismo em Multimeios pela UNEB, e tem pós em Comunicação em Midia Digital pela Estácio de Sá. Servidor público da justiça do trabalho, não exerce atividades ligadas à sua formação. Entusiasta do cinema, aprendeu um pouco na faculdade, já lia livros, fazia cursos, mas ainda não se especializava de fato, talvez no futuro, depois que terminar toda sua lista de filmes pendentes para assistir. Tem manias que as pessoas não entendem: 1) de ir a um cinema local por onde ele viaja. 2) Assistir a filmes, se possível, apenas uma vez. Gosta de se apegar à sensação única que teve ao ver a obra pela primeira vez. É o criador do instagram @cinechato.

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O único cinema de Petrolina prioriza blockbusters (dublados). Do outro lado da ponte, Juazeiro-BA, temos a Cinemark que tem uma programação muito parecida. Tirando esse circuito comercial, temos o Espaço Cultural Janela 353, que é um espaço para o cineclube, para peças de teatro e debates. A programação desse espaço é a minha favorita, pois prioriza o cinema nacional,  independentes, clássicos ou até populares com maior foco em temáticas sociais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Minha experiência a filmes é muito ligada à infância com meu pai em videolocadoras, essa fase que foi a que definiu meu amor pelos filmes. Depois disso, a primeira experiência de peso que me recordo foi Matrix. Quando vi 200 pessoas reagindo ao mesmo tempo às cenas de Neo, veio a epifania de que também amava aquela experiência, a qual me permitia o sentimento de comunidade e imersão.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Martin Scorsese. Taxi Driver.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cidade de Deus, sem piscar. Primeiro por ser uma obra que eu revisitei pelo menos umas 3 vezes durante minha vida e em cada uma delas tive uma percepção diferente e em escala crescente de admiração. A primeira viagem foi apenas da história, fiquei empolgado do início ao fim. A segunda visita à obra, anos depois, já foi possível perceber o trabalho de direção, fotografia e montagem impecáveis. A terceira vez foi marcada por perceber como ela foi importante para o cinema nacional e como bebeu de referências de outras obras importantes do cinema.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É amar filmes (ou séries, porque não?). Eu não posso dizer que é quem ama o cinema ou quem estuda a 7ª arte. Ser cinéfilo para mim é mais simples. Meu pai já era cinéfilo antes de pisar no cinema pela primeira vez e eu já era cinéfilo antes de saber o que era um travelling. Ser cinéfilo está mais ligado à paixão pelas obras e sua relação pessoal com elas do que qualquer outra coisa.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maior parte das salas de cinema estão inseridas num circuito comercial, portanto as pessoas que as administram devem entender de estratégia de vendas, mas isso não as impedem de entenderem de cinema, mas acredito não ser uma regra. Existem as salas de cinema que priorizam um viés mais cultural, mas não posso dizer que eles entendem mais ou menos de cinema.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito, no máximo uma reformulação. Estamos passando com o cinema em paralelo a mesma crise que o rádio teve com a chegada da televisão. Quem vai ouvir rádio, podendo ver as pessoas numa tela? Quem vai pagar 60 reais para ver 1 filme, podendo assinar a Netflix por R$ 21,90 e ver um catálogo inteiro num só mês? As experiências são distintas em ambas as situações.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Dans La Maison, um filme de 2012 de François Ozon.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

É o último lugar de todos que deveria reabrir junto com as academias ou qualquer outro lugar que necessariamente precise estar com muitas pessoas e fechado para funcionar.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Em processo de evolução, como em todo lugar. O cinema brasileiro é diversificado e também não é uma curva ascendente. Aquarius, Bacurau, Democracia em Vertigem e A Vida Invisível  revelam que estamos em excelente forma, mas ainda faltam investimentos e incentivos na área, tanto do governo, como da iniciativa privada.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Wagner Moura.

 

12) Defina cinema com uma frase:

É a imersão coletiva numa jornada que nos aproxima do outro.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Certa vez fui com meu pai ao cinema assistir a algum filme de ação. Umas 3 fileiras para baixo havia uma dupla de amigos jovens que já havia assistido ao filme e estavam comentando sobre o que ia acontecer antes da cena aparecer na tela. Meu pai, um senhor que nunca se estressa, me pediu para segurar a pipoca, ele se levantou e foi lá reclamar com esses adolescentes porque estavam estragando a experiência dele. Desde então dou mais valor à palavra Spoilers.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Capacidade indescritível de se produzir lixo não reciclável.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Como disse acima, ser cinéfilo está mais ligado à paixão. Diretor de cinema é um emprego, nem sempre trabalhamos com o que amamos, mas isso não impede de ser extremamente bons no que fazemos.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Jack e Jill (Cada Um Tem a Gêmea Que Merece).

 

17) Qual seu documentário preferido?

13ª emenda.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Diversas vezes. Parasita foi o último.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O Senhor das Armas.

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06/10/2020

Crítica do filme: 'Os Espetaculares'


Os velhos clichês de um humor com potencial. Tentando decifrar uma janela do universo da comédia, Os Espetaculares, dirigido por André Pellenz e com roteiro assinado por Sylvio Gonçalves possui arcos muito curtos e objetivos. Despretensioso e com muitos clichês, é uma produção honesta desde o primeiro minuto em sua jornada em busca de analisar, mesmo que superficialmente, o universo do Stand Up Comedy, seus bastidores e as pessoas que fazem desse módulo do humor ser tão divulgado e apreciado pelo público. No elenco principal, destaque para o comediante Rafael Portugal. O projeto também conta com a participação especial do cineasta Neville d'Almeida

Na trama, conhecemos Ed (Paulo Mathias Jr.), um artista especializado em Stand Up Comedy que vive de pequenos shows em uma casa de espetáculos. Divorciado, é pai de um garoto de 12 anos (DJ Amorim). Quando as coisas começam a dar errado e ele perde o emprego, uma oportunidade acaba chegando: participar de um concurso de comédia em trio que paga ao vencedor o valor de um milhão de reais. Assim, para conseguir participar do concurso, vai atrás de outros dois parceiros de palco, chegando até Italo (Rafael Portugal) e Sara (Luisa Perissé). Procurando entender um ao outro, precisarão superar as discordâncias e apresentarem seus melhores números.

Família, sonhos, projetos para uma carreira. Se formos analisar o contexto do filme, é repleto de boas intenções em mostrar o atrás das cortinas de um ramo da comédia que vem crescendo cada dia que passa com o avanço tecnológico das lives e streamings. Mas o longa-metragem, que já estreou em streamings, em alguns momentos soa repetitivo, há um esforço para tentar acertar nas piadas. Os diálogos mostram muitas sequências sem graça, frutos de clichês sonolentos encontrados em diversos filmes todo ano.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #118 - Léo Francisco


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é uma das pessoas mais legais e carinhosas do universo audiovisual brasileiro. Léo Francisco é jornalista cultural, cinéfilo, assessor de imprensa, podcaster, fã de filmes da Disney e desenhos animados num geral. Escreve sobre cinema e Disney há mais de 18 anos e começou a trabalhar com assessoria de imprensa em 2010 passando pelas principais empresas independentes do Brasil. É criador do site Cadê o Léo?! (http://www.cadeoleo.com.br/), lançado em 13 de julho de 2002, também tem um podcast chamado Papo Animado e um canal no YouTube, ambos falando sobre entretenimento.

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Então, tudo depende da vontade do que assistir nos cinemas. Quando quero ver algum grande lançamento, gosto muito de assistir no Cinepólis do JK, nas salas IMAX ou 4DX. Quando quero assistir mais um filme independente, prefiro prestigiar cinemas de rua como Espaço Itaú Augusta ou Reserva Cultural, mas também gosto de cinemas de shopping que trazem programação bem variadas como PlayArte Bristol (da Paulista), que além de bem localizado tem filmes bem variados, e como o Espaço Itaú Frei Caneca, que também traz filmes de todos os gêneros. Esses são os que eu mais gosto de ir no meu dia a dia. Que saudades de ir ao cinema nesses dias de pandemia. :)

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

 Lembro muito de quando fui assistir LILO & STITCH (da Disney) e na semana seguinte SPIRIT: O CORCEL INDOMÁVEL (da DreamWorks), na época de seu lançamento original nos cinemas, em 2002. Eu era adolescente e tive um estalo, percebendo que era com isso que queria trabalhar. Com arte e entretenimento. Me sinto muito feliz e satisfeito de poder trabalhar com filmes que levam cultura para as pessoas. Além disso, é mágico ver a cara das pessoas saindo de um cinema com os olhos brilhando após por algumas horas serem levadas a lugares mágicos e diferentes, que muitas vezes elas não poderiam ir normalmente. É mágico.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Acho que vou ser a primeira pessoa a sair um pouco do óbvio. Eu teria que citar três diretores que eu amo o trabalho. Primeiro, a dupla de cineastas e roteiristas Ron Clements e John Musker, que durante a década de 90 me apresentaram animações incríveis como A PEQUENA SEREIA, ALADDIN e HÉRCULES, e me fizeram me apaixonar por cinema. E claro, recentemente eu adoro o trabalho do Brad Bird, que nos apresentou o emocionante GIGANTE DE FERRO e RATATOUILLE.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Outra pergunta difícil de escolher um só. Eu diria LISBELA E O PRISIONEIRO, uma das raras comédias românticas nacionais, que não caem no besteirol de sempre. Tem um excelente roteiro, bons personagens e uma trilha sonora única. E como não se apaixonar por Lisbela, que ama cinema como nós e vive como se fosse um filme.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Confesso que não me considero um cinéfilo. Eu acho que preciso de muitos mais anos e filmes para chegar no nível dos grandes cinéfilos. Hoje, me considero um apaixonado pelo cinema e pelo que faço.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não sei dizer, acho que atualmente as redes de cinema tentam trazer o que mais dá público para cada região. Infelizmente, muitas vezes, por medo de perder dinheiro, acabam não tentando arriscar e perdem a oportunidade de lançar um bom filme, pois não acreditam no seu potencial.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não. Cinema tem cada vez mais se tornado uma experiência. Ver o filme em casa é uma experiência, ver numa sala com tela IMAX é outra. Assistir em 4DX é outra. Ver o mesmo filme no cinema com plateias ou amigos diferentes, também pode nos trazer experiências diferentes. Já fui numa sessão ano passado, onde durante o filme, chefes de cozinha traziam pratos baseados no filme, uma outra experiência completamente diferente. Hoje, com a pandemia, temos a volta dos drive-ins, um novo/velho método, que é uma experiência completamente diferente de ver numa sala fechada. Cinema não é apenas ver o filme. Cinema é muito mais que isso.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Hoje, um filme PEIXE GRANDE E SUAS HISTÓRIAS MARAVILHOSAS. Uma animação MARY & MAX: UMA AMIZADE DIFERENTE.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Claro, cinema para boa parte da população é apenas entretenimento e não é essencial. Mas temos que lembrar que para outros, meu caso e também de muitos conhecidos, é trabalho e dependemos dele para sustentar nossas famílias. Sinto um pouco de falta de empatia e pensar no próximo. Praticamente tudo está reabrindo aos poucos e de forma segura. Os cinemas estão reabrindo aos poucos em vários países do mundo também e provando que se formos com segurança, não tem problema. Acredito que os exibidores brasileiros estão trabalhando para atender de forma segura o público. E vamos pensar, você conseguiria ficar de março até a vacina sair sem trabalhar e receber seu salário? Infelizmente, nosso governo não está ajudando a população e os mercados de trabalho como deveria. Mas esse é o meu ponto de vista e respeito quem não acha ainda seguro ir ao cinema.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Claro, se a gente sair um pouco da caixa dos grandes blockbusteres que apostam nos mesmos formatos para ganhar dinheiro fácil, você encontra filmes incríveis nacionais, que acabam sendo lançados em circuitos menores ou chegando direto em digital. Tem muito lixo sendo produzido, mas tem muita coisa boa também (tanto blockbuster como independente também). É só saber procurar. :)

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Xuxa! Mentira! Eu amo a Xuxa, mas ultimamente não vou ao cinema por causa de artistas brasileiros ou internacionais. Um bom trailer, uma campanha que desperte minha atenção ou até mesmo a indicação de um amigo é o que tem ultimamente me feito escolher um filme para assistir.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Experiência de me desligar da minha realidade por algumas horas e mergulhar num novo mundo.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Tenho tantas histórias maravilhosas profissionais e pessoais com cinemas. Acho que a mais traumática até hoje foi quando estava trabalhando no lançamento de um filme nacional e realizaríamos uma exibição especial do filme com a presença do diretor e do elenco para um debate. Na hora de liberar o acesso, as pessoas que não conseguiram o convite invadiram o cinema. Era uma sala de 300 pessoas e tínhamos mais de 500 dentro da sala. Foi um sufoco convencer as pessoas a saírem, tanto que rolou até polícia na sessão, para conseguirmos controlar a situação. O importante, foi que a sessão aconteceu, mesmo com 2h de atraso, e todos amaram o filme. Mas foi bem cansativo. rs

 

 

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca assisti inteiro, apenas a cena final dela soltando o passarinho e dançando o hino chamado “Pau Que Nasce Torto/ Melô Do Tchan”. Como não amar as décadas de 80 e 90 e tudo que foi produzido. rs

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acredito que não. Como falei, não me considero cinéfilo e sei muito sobre cinema com a experiência que vou ganhando dia após dia.

 

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Tantos, acho injusto citar apenas um. Os outros ficariam com ciúmes.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Confesso que preciso ver mais documentários na vida, mas recentemente eu assisti Axé: Canto do Povo de um Lugar e gostei muito. Divertido, informativo e respeitoso.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Sou assessor de imprensa, quantas pré-estreias de filmes nacional já tive que puxar palmas nas salas, pois o público estava tímido. Rs Brincadeira! Não me lembro, provavelmente já, mas teve um filme “recente” nacional, que eu quis abraçar os envolvidos. Eu saí tão mexido e encantado com DE ONDE TE VEJO, do Luiz Villaça, com a Denise Fraga e o Domingos Montagner. O filme mexeu comigo no dia e senti que a mensagem da história era para mim.

 

 

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Confesso que não sou muito fã do ator, mas gosto dos filmes da franquia A LENDA DO TESOURO PERDIDO, da Disney, que lembram e muito os filmes do Indiana Jones. São sempre os primeiros filmes que me vem a cabeça, quando falam do Cage.

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05/10/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #117 - Chico Fireman


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é um dos grandes cinéfilos que temos em nosso país. Chico Fireman é jornalista e crítico de cinema, nascido em Maceió, foi adotado por São Paulo há 13 anos. Filiado à Abraccine, escreve no blog Filmes do Chico desde 2003 e integra o podcast Cinema na Varanda há 5 anos.


Obs: Grande Chico. Sou um grande fã. Pena que nunca nos vimos pessoalmente mas espero algum dia poder conversar sobre cinema com você tomando um café pelos cinemas brasileiros. Continue sendo essa força cultural tão enriquecedora para todos nós que amamos a sétima arte.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Minha sala favorita é a sala BNDES da Cinemateca Brasileira. Acho meio mágico lá. Tenho uma cadeira "minha", lá do lado esquerdo, a Brigitte. A Cinemateca me remete à própria história do cinema, me sinto em casa e dentro desta história. É uma lástima, um pecado, o que fizeram com aquele lugar. Mas em relação à programação, o Cinesesc dá um banho em qualquer outra: lançamentos exclusivos, mostras pra mergulhar, clássicos recuperados.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu já acompanhava filmes mais de perto desde o fim dos anos 80, mas Drácula de Bram Stoker me impressionou de um jeito que eu pensei: quero morar aqui.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Isso é complicado. Tenho muitos. Meu filme favorito é Aurora, do Murnau, mas não sei se ele é meu diretor favorito.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bandido da Luz Vermelha porque ele é pura desconstrução e ainda assim é um filme delicioso de assistir. Ver na Cinemateca foi uma das minhas grandes experiências numa sala de cinema.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É amar. Que brega, né? Mas é exatamente isso.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

Não, até porque existem muitos outros interesses. Mas os que eu frequento, sim. 

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não, mas talvez, não sabemos o que a tecnologia nos oferecerá e como vamos nos relacionar com ela. O cinema é uma arte relativamente nova que já se adaptou a diferentes plataformas. Essa pandemia mostrou como tudo pode ser adaptado.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Um só? O brasileiro Compasso de Espera, único filme de um dos maiores nomes do teatro brasileiro, Antunes Filho, que, no fim dos anos 60 (só foi lançado em 1973), trata de um Brasil e de um mundo mais próximo do Brasil e do mundo de hoje em dia do que a gente possa imaginar.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que produzimos muitos bons filmes que nem sempre encontram os caminhos que merece para chegar a seu público.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Difícil responder isso. Tento ficar atento aos filmes autorais que vem sido lançados. Me estimulam dos cinemas de Kleber Mendonça Filho, Karim Aïnouz, do pessoal que veio do Alumbramento, Filmes do Caixote, Filmes de Plástico. São muitos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Definirei com palavras. Cada uma pode ser uma definição pro cinema:

 

Sertânia.

 

Inferninho.

 

Vento Seco.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não é bem uma história; é mais uma cena. Acaba a sessão de Uma Noite em 12 Anos, sobre a prisão do Pepe Mujica, pouco tempo antes do primeiro turno das eleições presidenciais, com as pesquisas indicando a volta de uma época medieval. As luzes acendem e todas as dez ou quinze pessoas que estavam ali, desconhecidos entre si, olham uns pros outros, silenciosamente, olhos marejados, como se estivessem se abraçando. Foi um momento muito tocante pra mim.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Vontade de fazer cinema. Estamos até hoje falando dele.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho estranho, mas o que é ser cinéfilo, afinal?

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O pior vai ser quando não puder mais ver filmes, então, que venham os ruins porque pelo menos eles existem.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #117 - Chico Fireman

Crítica do filme: 'Never Rarely Sometimes Always'


Nunca, raramente, as vezes, sempre. Seu coração pode estar partido hoje mas amanhã à luz da manhã. Ganhador de prêmios esse ano nos Festivais de Berlim e Sundance, um dos filmes mais comentados desse ano atípico para a civilização mundial, Never Rarely Sometimes Always, escrito e dirigido pelo cineasta nova iorquina Eliza Hittman, traz ao público um recorte de um tema polêmico, o aborto, de maneira dura e necessária para gerar a reflexão de todos nós do lado de cá da tela. A protagonista, interpretada por Sidney Flanigan (em seu primeiro filme como atriz) é o retrato de muitas mulheres espalhadas pelo mundo, as escolhas que ela tem e as decisões que toma em um mundo de informações instantâneas mas tão distante para pessoas que ainda estão aprendendo sobre a vida. É um filme com cenas fortes, onde se expressa toda a dor e conflitos da protagonista. Impressiona a captação das emoções pelas lentes sensíveis de Hittman.


Na trama, conhecemos Autumn (Sidney Flanigan), uma jovem introspectiva de 17 anos que trabalha como caixa de supermercado enquanto termina a escola e que está passando por uma situação complicada e difícil, se sentindo sozinha, muito por medo de contar à família, medo das reações dos que giram ao seu redor. Buscando entender melhor a situação que vive, vai em busca de soluções que acha as que tem que tomar, ouvindo especialistas em clínicas femininas. Como mora no interior dos EUA, resolve embarcar em uma viagem para Nova Iorque, junto com sua prima e única confidente Skylar (Talia Ryder) para tomar decisões complicadas e tentar seguir em frente com sua vida.


As causas da reclusão emocional e suspiros de alegria pela música, um cruzamento de sentimentos. Uma série de problemas ligados às emoções estão contidas na vida da personagem principal, não só provocado pela situação da gravidez que se encontra. O filme abre espaço para outros temas que machucam as mulheres, principalmente sobre o assédio, exemplificado no da própria protagonista e o no da prima, os exemplos são muitos que assim como no filme nessa nossa sociedade ainda muito machista. Deixando claro argumentos profundos e contextualizados sobre dores e escolhas Never Rarely Sometimes Always possui 100 minutos de muitas histórias, não só desse recorte. Um filme importante para debates cada vez mais intensos e necessários sobre os temas abordados. Um belo trabalho da diretora e roteirista Eliza Hittman.

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