06/01/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #237 - Marina Santana


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Irecê (Bahia). Marina Santana tem 30 anos, faz curso superior de Manutenção Industrial, pelo Instituto Federal da Bahia. É apaixonada por música, filmes e língua inglesa. Nas horas vagas gosta de ler e estudar. Seus gêneros favoritos de filmes são suspense, drama e ação. Os que menos gosta são ficção científica e comédia besteirol.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Infelizmente em minha cidade ainda não tem cinema. Ano passado iria inaugurar um, porém foi suspenso por conta da pandemia, é uma pena.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Piratas do Caribe 4 - Navegando em Águas Misteriosas.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Tim Burton e meu filme favorito dele é Big Fish.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Central do Brasil. Além de ter uma história emocionante, eu adoro filmes que retratam viagens e mostram diferentes povos e lugares.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinéfilo pra mim é alguém que gosta de assistir a filmes, mas não se sente obrigado a conhecer todos os estilos, diretores, técnicas, etc. Eu acho que o que importa é se sentir bem quando você procura um filme para ver.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Esta informação eu não sabia!

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Eu acho que não vão acabar, porém acredito que vão ficar mais escassas.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Tomates Verdes Fritos. Não sei se muitos não o viram rs, mas eu acho lindo demais.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho meio complicado, uma vez que, mesmo sabendo de cor os protocolos de segurança, tem muita gente que insiste em desobedecê-los. Eu acho que seria mais seguro esperar a vacina, de fato.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Bom, não tenho visto muitos filmes nacionais ultimamente, então não posso opinar.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Wagner Moura.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Arte que nos faz descobrir o mundo sem sair de casa.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Então, como fui poucas vezes, não tenho nada de extraordinário para contar.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Devo ser a única baiana que nunca vi rsrs.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Como eu havia falado, acho que ser cinéfilo não é ser obrigado a saber de tudo sobre cinema. Acho que o fato de alguns diretores não serem cinéfilos (no sentido literal da palavra) já demonstra que para fazer cinema não é preciso ser uma enciclopédia ambulante sobre o assunto. Mas claro que deve haver algum conhecimento e estudo acerca disso, senão qualquer um poderia ser cineasta.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Grande Hotel (1995). Aquele filme com vários diretores, dentre eles Tarantino e Robert Rodriguez. Acho horrível. Até hoje tenho pena do grande Tim Roth naquele papel tão besta.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Amy (2015).

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

A Outra Face.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Adoro Cinema.

 

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #237 - Marina Santana
, , , , ,

Crítica do filme: 'O Amor de Sylvie'


A vida é muito curta para desperdiçarmos com coisas que não amamos. Escrito e dirigido pelo cineasta Eugene Ashe, produzido pela Amazon, O Amor de Sylvie é uma linda história de amor entre dois amantes do Jazz, que vivem realidades diferentes ao longo do tempo em uma grande cidade norte-americana em meados das décadas de 50 e 60, na época de Miles Davis, Stevie Wonder, Sarah Vaughan. Fala sobre o preconceito, sobre as diferenças para alguns sobre as classes sociais, os sonhos, as desilusões e como o amor pode provocar tamanhas mudanças em nossas vidas. Protagonizado pelos ótimos Tessa Thompson e Nnamdi Asomugha.


Na trama, na era forte do Jazz nos Estados Unidos, conhecemos Robert (Nnamdi Asomugha) um talentoso saxofonista, de origem humilde, que toca em grandes clubes noturnos em um quarteto bastante prestigiado. Para complementar a renda do que recebe pelas apresentações com a banda, resolve aceitar o emprego em uma loja de vinis e lá conhece Sylvie (Tessa Thompson), funcionária e filha do dono que possui um conhecimento avançado sobre música. Assim, os dois começam a se conhecer e a viver um relacionamento repleto de obstáculos e que ultrapassa o tempo onde os sonhos serão motores de apoio de um par ao outro.


A princípio, o longa-metragem parece ter um roteiro água com açúcar, mas ao longo dos minutos vamos percebendo estar dentro de assuntos profundos que vão desde as escolhas complicadas para nossas vidas até mesmo o protagonismo feminino em uma época cheia de preconceitos não só contra as mulheres mas contra os negros. Defensores da frase: Não cabe as estrelas definirem nossos rumos, mas sim a nós mesmos, os protagonistas não medem esforços para tentar estarem juntos equilibrando as idas e vindas desse amor.


Pra que jogarmos pedra para chamar a atenção se pudemos tocar um sax para chamar a atenção? Tendo como plano de fundo uma ótima trilha sonora ótima, papos sobre música e na maioria das vezes sobre Jazz são a cereja do bolo nesse drama com altas pitadas de romance que nos mostra de maneira bem delicada as escolhas e caminhos que podemos tomar quando nos enxergarmos dentro de um amor que se vê poucas vezes por aí.

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Amor de Sylvie'

05/01/2021

Pausa para uma série - Normal People


Quando o amor traduz as lacunas complexas do vazio existencial. Baseado no livro de grande sucesso da escritora irlandesa Sally Rooney, Normal People, disponível em algumas plataformas de streamings no Brasil, nos apresenta a saga de um platonismo as vezes reverso entre dois jovens, através de um período de tempo importante em suas vidas. Caminhamos junto com os personagens rumo às mágoas, as derrapadas, o pânico, o caos social, a maturidade precoce, a imaturidade tardia, são cerca de 30 minutos divididos em 12 episódios que desejamos que nunca acabem. A minissérie, envolvente, intensa, que conta com uma fabulosa trilha sonora, foi indicada a quatro Emmys, sendo alguns episódios dirigidos pelo competente cineasta Lenny Abrahamson (O Quarto de Jack, Frank).


Na trama, acompanhamos as idas e vindas de um relacionamento de amizade e algo mais de dois jovens de uma cidadezinha da Irlanda. Marianne (Daisy Edgar-Jones) é uma jovem solitária que possui muitas dificuldades em se relacionar com os que estão ao seu redor, principalmente sua família e seus amigos de colégio. Connell (Paul Mescal) é aquele queridinho de todos, amado pela mãe, pelos amigos, estrela do rúgbi do colégio. Marianne é de família rica, Connell não. Certo dia, os dois começam a conversar e aos poucos, e com inúmeras passagens de tempo para frente (época de faculdade etc), percebem que podem ter sidos feitos um para o outro mas que só isso não basta para ficarem sempre juntos.


Em quase 6 horas de material, contando todos os 12 episódios, percorremos uma longa linha de tempo entre os tempos de colégio e um começa de fase adulta já na época de faculdade. É primoroso como Normal People consegue aproximar o espectador de cada detalhe de sua poderosa história. Há muitos pontos a se analisar mas destaco dois que chamam muito a atenção: O papel importante da mãe de Connell, Lorraine (a ótima Sarah Greene), que sempre chega com lições sobre valores sociais e educação sempre no contraponto a mãe de Marianne, Denise (Aislín McGuckin) uma advogada que não consegue fugir de sua melancólica e distante relação com os filhos; As paredes ideológicas surgem em conversas com amigos diversos e nos é mostrado com muita inteligência e até mesmo com sarcasmo o modo de pensar dos protagonistas perante ao que escutam pela estrada da vida.


A grande virada de chave para a minissérie é a troca da cidadezinha para a cidade grande, onde há uma certa inversão de dilemas, sendo algo mais complicado pra Connell e menos para Marianne, ao contrário da época de escola onde se conheceram. Sempre em evidência, o êxtase da felicidade de encontros de descobertas entre duas boas almas, complementares em seus extremos, harmônicos quando estão juntos parece ser um terceiro protagonista levando o público a torcer para um final feliz dessa fácula moderna de amor mas que vamos precisar imaginar seu final (afinal, isso importa?!). Maravilhoso trabalho. Imperdível.

Continue lendo... Pausa para uma série - Normal People

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #236 - Adam William


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Adam William é apaixonado por cinema desde pequeno, principalmente por obras de terror, fantasia e super-heróis, começou a escrever de forma independente em 2016. Hoje, além do Instagram (@comentadam) e canal no YouTube (YouTube.com/c/adamwilliam), também possui seu produto site, o Salve Ferris (salveferris.com.br).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Infelizmente minha sala de cinema favorita de SP fechou no começo do ano, pouco antes do cenário atual de pandemia, que era o Cinearte que ficava aqui o Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Qualquer jornalista ou crítico que já participou da Mostra de Cinema de SP conhecia a sala e era maravilhosa. Hoje, minha favorita é o Petra Belas Artes. O principal é por que, além de serem cinemas de ruas, eles são um “escape” para fugir da programação padrão dos cinemas de shopping — que eu também amo, mas você pode ver em diversas salas sem dificuldade — e trazem obras que, dependendo da situação, talvez você nunca assistiria pela simples dificuldade de acesso.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Meu primeiro filme no cinema foi Tarzan, em 99 que já me “viciou” em cinema desde pequeno. Eu não lembro exatamente qual filme virou essa chave, mas diria que uma das sessões que mais me impactou enquanto uma pessoa que só “gostava de filme” e passou a enxergar cinema como algo totalmente maior, foi Garota Exemplar, do David Fincher. Foi uma experiência incrível ir dissecando aquela história pela primeira vez e mergulhando cada vez mais na mente daqueles personagens. Foi sem igual e acho que nunca mais enxerguei o cinema da mesma forma de antes.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eu elegi David Fincher como meu diretor favorito há uns 10 anos. Eu realmente curto a filmografia do cara e acho que ele se destaca bastante pelo estilo de câmera, identidade visual e por possuir filmes que mesmo tocando em um assunto semelhante (Se7en, Zodíaco e Garota Exemplar, por exemplo, giram em torno de crimes e criminosos), o faz de forma diferente entre si. E depois de muito tempo vendo e revendo seus filmes, acabei percebendo que meu favorito é A Rede Social. É uma obra incrivelmente distinta, surpreendente e divertida de assistir. Eu amo. E sempre aponto que se um diretor conseguiu fazer um filme tão bom sobre a história da criação do Facebook, é por que ele é um ótimo diretor.

 

Outro diretor que gostaria de destacar rapidamente aqui é o Wes Craven, que eu acho incrível e embora ele não seja necessariamente meu diretor favorito, ele é o responsável pelo meu filme favorito: Pânico, de 1996.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Não tem como: independente de quantos novos filmes do cinema nacional eu veja e ame, meu favorito — por questões emocionais e pessoais mesmo — é O Auto da Compadecida. É uma adaptação incrível, atemporal e que diz muito pra mim. Sempre me recordo de assisti-lo com pessoas da família, sei o filme de cor praticamente e ainda dou risada das mesmas piadas… Enfim, é um carinho muito único por ele.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinéfilo pra mim é a pessoa apaixonada por cinema, que assiste sem preconceitos pelo simples prazer de assistir, conhecer novas obras, novos cineastas, novos atores e atrizes. Acho que não existe um checklist para isso, mas com certeza envolve paixão.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Infelizmente fica claro que a curadoria de um cinema é voltada para a parte mercadológica e ao meu ver está tudo bem. Enxergo e concordo que exista um problema claro aí, mas eu entendo que para um dono de cinema, estamos falando de um negócio e, portanto, a programação vai girar em torno do retorno financeiro. É uma pena. “Salvam-se” os cinemas de rua, mais preocupados em disseminar obras menores e com acesso mais dificultado, mas para um público-alvo específico. Esses eu creio que possuem um cuidado maior na programação, embora questões mercadológicas também estejam envolvidas.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não. Acho que nada vai conseguir bater a experiência do cinema, que com certeza deve sentir um impacto e mudar nos próximos anos — seja pela pandemia, seja pelo modo como grandes estúdios estão tocando suas produções —, mas duvido muito que as salas de cinema acabem.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Encurralado (Duel) do Steven Spielberg. Eu acho bizarro como esse filme é bom, é de um diretor incrivelmente conhecido, mas não vejo ninguém comentando dele. É quase um test-drive para o que o diretor veio a fazer em Tubarão alguns anos depois.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Apesar de todos os protocolos e o problema financeiro que muitas salas estão enfrentando, eu não acredito que o público em sua maioria tenha maturidade para se comportar numa sala de cinema a ponto da experiência tornar-se minimamente segura. Portanto, não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Eu adoro cinema brasileiro, cada dia descubro novas obras incríveis que perpetuam. É um apanhado de produções realmente incríveis e que mostram como nosso país é plural, diversificado. Mas o problema recai no mesmo ponto mercadológico que citei, pois os cinemas populares sabem o que chama atenção de seu público-alvo e continua criando buzz em cima do mesmo estilo comédia-com-ator-global enquanto outras obras maravilhosas perdem-se nesse caminho. Mas para o espectador que busca com mais afinco, o cinema nacional se mostra uma verdadeira mina de ouro.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Lázaro Ramos. É um ator e uma pessoa maravilhosa, sempre gosto de ver seus trabalhos antigos ou novos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema “é para os tolos que sonham”, tal como Emma Stone canta em La La Land.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Sou um grande fã de quadrinhos desde pequeno, então, é meio impossível não-gostar do trabalho que a Marvel vem fazendo nos últimos anos. Tal qual um fã, estava super ansioso por Guerra Infinita e quase como aquelas histórias que vemos no cinema, fui um dos primeiros a comprar meu ingresso em uma das melhores salas de SP. Peguei o “melhor” assento e show, fui todo orgulhoso assistir o filme na pré-estréia.

Já na poltrona, praticamente extasiado esperando o filme começar, alguém passou por mim na fileira, apontou o dedo e disse (bem sério) “Você pegou meu lugar”. Em questão de segundos chequei a poltrona e ia mostrar o ingresso quando o cara completou dando risada “Eu sempre compro nessa poltrona, tu conseguiu ser mais rápido que eu” e saiu para um assento na mesma fileira, mas na lateral. Dei muita risada depois.

Coisa de fã né?

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um meme fortíssimo.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Faz bem, prova disso é o apelo que o cinema de Quentin Tarantino possui. Mas não acho que seja um requerimento, cinema (arte, no geral) é muito subjetivo para ter limitações como essa.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Esse ano teve um “bom” empate: 365 Dias e Megan is Missing, que viralizou há uns meses atrás. Fortes candidatos a piores filmes da vida.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Eu nunca fui muito de documentários e o filme que mudou isso foi Going Clear: Scientology and the Prison of Belief (algo como Cientologia e a Prisão da Crença). Bastante interessante (e chocante), me abriu os olhos para o gênero. Depois disso, assistindo a vários docs, vi o curta Ilha das Flores do Jorge Furtado, também impactante (de outra forma). Esses dois são os meus favoritos ainda hoje.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim! Apesar de não ter “lógica”, acho legal que o público esteja tão empolgado a esse ponto.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Gosto bastante de A Lenda do Tesouro Perdido, A Outra Face e Presságio. Mas no meu favorito com ele no elenco, eu não o vi, apenas “ouvi”, pois foi Homem-Aranha no Aranhaverso onde ele dubla o Aranha Noir.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Por muito tempo li o Omelete, hoje acompanho mais os textos do Marcelo Hessel por lá. Fora este, gosto bastante das críticas do Adoro Cinema, Plano Crítico e volta e meia estou lendo o Screen Rant e a Empire Magazine.

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #236 - Adam William

04/01/2021

,

Crítica do filme: 'Retrato de uma Jovem em Chamas'


Estar livre é estar só? Escrito e dirigido pela ótima cineasta francesa Céline Sciamma (do excelente Tomboy), Portrait de la jeune fille en feu, no original, aborda com sensíveis tons delicados um recorte sobre sentimentos e sensualidade em uma época de muitas limitações para as almas femininas. As memórias e as emoções colocam a iminência de um amor com data de validade marcada mas com uma intensidade para nunca se esquecer. O projeto conta com uma direção impecável com direito a uma arrebatadora sequência final, digna de aplausos. Impressionante filme francês, um dos grandes trabalhos dos últimos anos desse país que volta e meia nos brinda com ótimas produções. Indicado à Palma de Ouro do Festival de Cannes, também ao Bafta e ao Globo de Ouro.


Na trama, conhecemos a jovem pintora Marianne (Noémie Merlant) que é contratada por uma mulher (Valeria Golino) para pintar o retrato de sua filha Héloise (Adèle Haenel). Só que essa última não aceita o futuro casamento que já está entrelaçada com um homem em milão e assim, Marianne precisa disfarçar a princípio seus reais motivos do convívio diário durante algumas semanas com Héloise. Só que após muitas conversas, um interesse mútuo vira algo que transborda, transformando dramas em uma paixão arrebatadora.


O filme, que estreou no Brasil em janeiro (ainda antes da pandemia), possui um certo ar misterioso em seus primeiros arcos, acaba virando um grande pedestal onde diálogos sobre imposições da vida em uma época arcaica, cheia de ações nada progressistas onde a mulher não tinha direitos. Os diálogos sobre cultura e pintura e os paralelos com os dramas de uma sociedade reclusa nas tradições encaixam como uma luva no que vivem ou conhecem da vida as protagonistas. A coadjuvante Sophie (Luàna Bajrami), a empregada da casa de Héloise, tem papel importante com sua subtrama, mais uma vez mostrando o papel das tradições e até mesmo rituais em uma época muito distante da que vivemos.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Retrato de uma Jovem em Chamas'

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #235 - João Neto


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Bauru (São Paulo). João Neto é formado em jornalismo e mestrando em Comunicação Social pela Unesp Bauru, fundador do site Cineratus (@cineratus no Instagram).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Cidade no interior e poucas opções, se tratando de Brasil, são quase sinônimos. Mas o que acaba ajudando, para além dos multiplex, são as sessões de cinema do CineSesc, que tem uma curadoria bastante acertada. Acho que no fim acabo tendo a chance de rever boa parte de filmes clássicos na programação do Sesc e conhecendo alguns que ficariam fora do meu radar.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Acho que foi com o Superman do Richard Donner, numa sessão especial que tive a sorte de ir quando tinha meus 13 anos. Eu já gostava do personagem, mas descobrir esse filme, em tela grande, foi impactante. Fiquei emocionado, me marcou tanto que consigo lembrar do cheiro de pipoca daquele dia e do meu padrasto, sentado ao meu lado, também maravilhado. Saudades desse dia.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Acho que esse é o tipo de coisa que vai mudando ao longo da vida, mas hoje, sem dúvida alguma é Wong Kar Wai. A cinematografia dele, de forma geral, me agrada em tudo, não tem nenhum filme que seja minimamente interessante. Mas, Amor à Flor da Pele, é sem dúvida alguma o meu favorito. O trabalho tão delicado e ao mesmo tempo estilizado, me marcou profundamente quando vi pela primeira vez e ainda mexe comigo toda vez que revisito a obra.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Edifício Master do Eduardo Coutinho. Acho que esse é um daqueles casos que muda de tempos em tempos também, mas hoje, esse documentário é um dos trabalhos mais completos e significativos que eu vi. As entrevistas com aqueles personagens, tão diferentes, voltados para um cosmos próprio de dilemas e anseios, é um retrato diferente e profundo das vidas naquele edifício. Coutinho por si só é um mestre inegável do documentário, aqui, junto com Jogo de Cena e Cabra Marcado Para Morrer, ele tem as obras num equilíbrio notório.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É aquela paixão inexplicável pelo cinema. Acredito que não dá pra mapear quando esse amor acontece, mas no fundo a gente sabe quando foi tocado pela sétima arte e que não tem mais volta. Ser cinéfilo é ser amante de cinema de forma incondicional.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feita por pessoas que entendem de cinema?

Infelizmente não, mas eu entendo que cinema também é um mercado e que precisa vender ingresso para existir. É uma pena que não existam pessoas engajadas com o cinema lidando com grandes salas em cinemas de shopping, mas a gente vive uma lógica mercadológica que é inevitável. Ainda assim, de vez em quando surgem alguns filmes selecionados com um olhar mais artístico e menos mainstream, o que já ajuda um pouco.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não sei dizer, não gosto de ser fatalista. O cinema já morreu diversas vezes ao longo da história, ou pelo menos teve seu fim decretado e, entretanto, ainda temos ele vivíssimo. Acredito que a forma como consumimos cinema vai mudar, outra coisa que é inevitável, mas as salas não vão deixar de existir. Elas podem até diminuir, afinal a partir do momento em que há uma mudança nos hábitos isso se reflete no mercado, mas continuarão a resistir, muito por conta dessa camada cinéfila e, de certa forma, preciosista.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Angel's Egg do Mamoru Oshii é um desses filmes que acaba passando despercebido, mas que é absurdamente fascinante. Tem um esmero visual que é presente na carreira do diretor e tão vago, profundo e simbólico que até me estranha que não tenha se tornado um clássico cult de forma espontânea. É indispensável!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

É um tema complicado, né? Acho que se tivéssemos um governo sério e comprometido com a população a situação seria menos complexa. Falando por mim, eu não pretendo voltar ao cinema antes de uma vacina, mas não consigo ser contra a reabertura do cinema num momento em que praticamente tudo está funcionando dentro de uma certa "normalidade". Os donos de cinema também precisam comer, mas eu não me colocaria em risco nesse momento. Sinto falta de ir ao cinema, mas vou aguentando como posso. Que 2021 traga uma vacina!

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

É tão plural e tão robusto que é difícil falar de um cinema brasileiro, mas é preciso falar de vários. Eu gosto das variações de temática e forma que a gente tem num país como o Brasil porque revela a mesma diversidade de culturas, identidades e realidades que podemos observar do norte ao sul. Acho que hoje o maior problema seja a dificuldade em distribuir e exibir no país, tem tanta coisa que só vai para festival e não consegue chegar em grandes salas... Mas ao menos esse ano, com a pandemia e os festivais acontecendo de forma online, essa dificuldade acabou sendo minimizada.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Karim Ainouz. O último filme dele, A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, é uma preciosidade, sem falar em trabalhos anteriores. Acho que tem muita coisa legal sendo feita no Brasil, muito artista interessante, mas Ainouz me ganha a cada nova produção.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é vida!

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Uma vez, em algum filme de super herói, não lembro qual, alguém soltou um spoiler do final do filme. A revolta da sala foi tanta que o rapaz foi escorraçado da sala sob chuva de pipoca e refrigerante. Talvez até tenha gravação disso no YouTube, nunca tinha visto nada igual.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Hahahahaha... precisa de mais?

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que precisa entender de linguagem cinematográfica. Se considerar ou não cinéfilo não é necessariamente um requisito.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Que pergunta difícil, são tantos... Acho que vou de Samurai Cop, uma trahseira tão tosca que me deu uma vergonha sem tamanho.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Shoah, pesado, mas tão necessário e importante que é difícil não falar dele logo de cara.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Acho que sim, no momento de empolgação, a gente aplaude, assobia e até levanta para aplaudir em pé.  

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

A Outra Face. O curioso é que fui descobrir ele só recentemente e foi um desses casos em que a gente se pergunta porque ignorou o filme durante tanto tempo.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Acho que são três: a Revista Moviment, o Cinética e o Canto do Inácio. Recomendaria os três para quem se interessa por análises e críticas tão bem escritas que até assusta.
Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #235 - João Neto

03/01/2021

,

Crítica do filme: 'A Vastidão da Noite'


Quando as peças se encaixam, o brilhante salta da tela. Exibido no prestigiado Festival de Toronto de Cinema em 2019 e com uma narrativa simples e muito objetiva, A Vastidão da Noite prende o espectador do primeiro ao último segundo com uma misteriosa situação vivida por dois inteligentes e jovens personagens, na década de 50, em uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos. Em uma noite apenas, mesclando um clima extremamente tenso com o malabarismo do medo iminente, as questões lógicas sendo colocadas em cheque a todo instante, e uma estranha sensação de nostalgia transformam esse projeto em uma das pérolas do catálogo da Amazon Prime. Primeiro trabalho como diretor de Andrew Petterson. Já anotado na agenda para não perder os próximos filmes dele.  


Na trama, conhecemos dois jovens, um inteligente radialista chamado Everett (Jake Horowitz) que tem o sonho de fazer sucesso e sair da pequena cidade, e, também uma telefonista chamada Fay (Sierra McCormick) que ajuda sua mãe a cuidar de seu irmão pequeno. Em uma noite, com um badalado jogo de basquete na única quadra da cidade, fato que reúne a maioria das pessoas da cidade em um mesmo lugar, a dupla de protagonista acaba descobrindo situações estranhas como um som indecifrável complementado, além de relatos em um misterioso telefonema de um ex-soldado que conta as verdades do que está por vir.  


O baixo orçamento do projeto só coloca mais pontos positivos ainda na hora de analisarmos. O clima tenso é a base do filme, somos os olhos de Everett e Fay, essa dupla dinâmica (muito à frente do tempo em que vivem) que curiosos por si só, resolvem investigar todas as inúmeras evidências misteriosas que chegam até eles como se fossem pistas de jogos de detetive. Ambientado em torno do caótico início da guerra fria, as lógicas de qualquer estranheza na época em território norte-americano já levavam a pensamentos de acusação aos soviéticos, o longa-metragem (um dos melhores do catálogo da Amazon Prime) nos traz a lembranças de emblemáticos episódios do lendário seriado Arquivo X.

Continue lendo... Crítica do filme: 'A Vastidão da Noite'

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #234 - Tuna Dwek


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.


Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São Paulo. Tuna Dwek é atriz, socióloga, crítica de cinema, locutora, tradutora, intérprete. Com mais de 40 trabalhos no cinema como atriz, mais de 25 trabalhos nos palcos do Brasil, premiada no cinema e no Teatro, inclusive com o importante Prêmio Bibi Ferreira como Melhor Atriz Coadjuvante de Teatro na peça de Jô Soares, A Noite de 16 de Janeiro. Poderia escrever vários parágrafos, Tuna é um fenômeno, carismática e alegre, vive da cultura, sua grande paixão.


Obs: querida amiga Tuna, lembro que eu e minha esposa fomos em São Paulo lhe assistir em um teatro em Pinheiros, na peça A Tartaruga de Darwin, de Juan Mayorga, com direção de Mika Lins. Mais uma fantástica atuação e sua carinhosa recepção quando nos viu ficaram marcados em meu coração e da minha esposa. Continue nos brindando com seu carisma único, é uma fortuna ser seu querido amigo cinéfilo.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Sem desmerecer todos cinemas que frequento, de todos os circuitos, o Cinesesc é o Cinema que mais faz meu cinéfilo coração vibrar. Por ser Cinema de rua, é por si só acolhedor, a qualidade da programação e da projeção são impecáveis. Por ser independente de um circuito comercial, pode apresentar Retrospectivas específicas como por exemplo, as mais recentes, Luchino Visconti, Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Stanley Kubrick, além das mostras anuais, Os Melhores do Ano (onde voto também) e a completíssima Retrospectiva do Cinema Brasileiro. A programação abrangente ainda traz os filmes selecionados premiados ou não, de festivais como os do Rio, de Tiradentes, e alguns Internacionais. Suas parcerias com a produção independente também garante Mostras interessantíssimas de filmes produzidos na África, Oriente Médio, Ásia. Panorama do Cinema Suíço, In-Edit de documentários musicais, Mix Brasil Festival de Cultura da Diversidade, são alguns dos muitos exemplos que oferecem uma programação gratuita garantida pelas parcerias do Cinesesc com instituições culturais ou Representações Diplomáticas como Embaixadas e Consulados .Já passei noites inteiras no Cinesesc como por exemplo, quando o Cinema apresentou as 8 horas de Satantango, dirigido pelo húngaro Bela Tárr, ou as quase 6h de Do que Vem Antes, sem contar as 4 vezes em que vi O Cavalo de Turim também de Bela Tárr. E o Fausto, de Sokurov entre outras obras primas.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Já quebrei muito a cabeça pra tentar me lembrar do primeiro filme que vi, mas existe um filme que me marcou muito na infância, O Maior Espetáculo da Terra, e o universo do circo, Os Dez Mandamentos, porque existe obviamente o fator geracional. O Cinema era meu refúgio, era o grande lazer. Nas férias de verão na praia, por exemplo, a crianças iam ao Cinema Praiano e no Cine Guarujá e pegávamos a balsa para irmos ao cinema em Santos, era uma maravilha. No meu caso específico, era uma necessidade vital, a evasão máxima de um cotidiano que tinhas suas particularidades.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

 

A pergunta mais difícil do mundo para um cinéfilo!!!!!! Impossível! Porque veja eu amo alguns filmes, muitos e se eu começar não termino, quer uns exemplos dos filmes da minha vida? Preparado? Vou falar aleatoriamente: Les Enfants du Paradis (Boulevard do Crime), do Marcel Carné, Asas do Desejo (Wim Wenders), Ilha Nua (Kaneto Shindo) Vertigo ( Alfred Hitchcock), o Sétimo Sêlo ( Ingmar Bergman), Roma , Cidade Aberta(Roberto Rosselini) e por aí vai, West Side Story, O Leopardo, Clamor do Sexo, Rocco e seus irmãos, todos os filmes do Valério Zurlini sem exceção, Laurence da Arábia, O Poderoso Chefão, Contos da Lua Vaga, Festa de Babette, Mulher sob Influência, A Doce Vida, Oito e Meio, Persona, Noite de Estreia, A Rosa, o que aconteceu com Baby Jane, A Malvada, São Paulo S.A., Deus e o Diabo na Terra do Sol, Novecento, Apocalypse Now, Hamlet (versão russa), Fausto, Encouraçado Potenkim, o fundo do ar é vermelho, Cantando na Chuva; Desejo, Perigo,; A regra do jôgo, o Jardim dos Finzo Contini, As coisas da vida, O Céu que no Protege, Crepúsculo dos Deuses, Sertânia, A Nostalgia da Luz, Rebento, Cães Errantes, Limite, Jogo de Cena, Brincando nos Campos do Senhor, Cinema , Aspirinas e Urubus, Chuvas de Verão, os Bons Companheiros, A noite, A mulher do lado, Ascensor para o Cadafalso, Ladrões de Bicicleta, Nós que nos amávamos tanto, Guerra e Paz ( o do Bondarchuk), Cidadão Kane, A Noviça Rebelde, A Lista de Schindler, A Guerra do Paraguay, Jeanne Dillman, Limite , Visages, Villages, Noite e Neblina, Adeus, Meninos,  e claro que devo ter esquecido muitos outros. Nossa história de vida passa pelos filmes que nos marcaram. Um melhor filme não é necessariamente do diretor predileto.

Vou a muitas mostras de cineastas independentes, assim descobri o húngaro Peter Forgács, o americano Jonas Mekas, a belga Chantal Akerman, a tcheca Vera Chitilová e muitos outros. Devoro as mostras!

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Também outra dificílima. São mais recentes, mas há dois que amo incondicionalmente. E já até citei anteriormente. A Guerra do Paraguay, de Luiz Rosemberg Filho. É cruel e poético ao mesmo tempo, une História e Arte. Não se esqueça que sou atriz. Um soldado volta da Guerra do Paraguay e encontra atores pelo caminho. O Texto é primoroso, uma metáfora sobre a estupidez da Guerra. E vou falar de um filme que, ainda que falado em Inglês, tem atores brasileiros e foi feito pelo Babenco que adotou o Brasil como sua pátria cinematográfica, Brincando nos Campos do Senhor.. Um cinema sem heróis, Babenco aborda a questão humana e suas angústias sem mocinhos e bandidos, com sua lucidez poética.

 

Há algumas cenas do Cinema Brasileiro, indeléveis como por exemplo, Marília Pera amamentando Pixote, a cena final de Fernanda Montenegro em Central do Brasil, Paulo Autran em Terra em Transe, Norma Benguell na praia em Os Cafagestes de Ruy Guerra, Wanda Lacerda e Jofre Soares em Chuvas de Verão de Cacá Diegues, Guarnieri em Eles não usam Black Tie...

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ver tudo porque é Cinema, acompanhar a filmografia completa de diretores que têm algo a dizer, e de atores , na medida do possível. Ver muito, se conectar com os que amam o Cinema e aprimorar o olhar cinematográfico. Muitas vezes, temos  um critério afetivo em primeiro lugar, o racional vem depois, mas o cinéfilo atravessa a cidade para ver um determinado filme , no horário que for. É estar disponível internamente para descobrir o que o outro quer dizer, que história ele tem para contar. 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que muitos fatores comerciais tenham influência na programação. Os públicos são variáveis e muitas vezes o programador tem que escolher e, função do público. Em geral sim, e até entram em conflito porque gostariam de programar uma escolha pessoal mas existe uma necessidade de satisfazer a todos os segmentos do público. Tenho muito respeito pelos programadores, são escolhas difíceis e há questões de mercado que não necessariamente traduzem o perfil do programador nesse sentido e eles acabam sendo julgados e modo precipitado.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acabar não, mas lamentavelmente muitos estão destinados à falência.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Não sei se poucos viram pelo mundo mas há por exemplo , Thérèse Desqueyroux,(Relato íntimo) de Georges Franju com Emmanuelle Riva, Tio Vania em Nova York de Louis Malle. Quantas vezes não saímos do Cinema lamentando a plateia diminuta em filmes maravilhosos?

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Alguns reabriram e constatei em cabines de Imprensa protocolos rígidos de Segurança , distanciamento respeitado , poucas pessoas mas todas de máscaras. É uma questão polêmica. Os cinemas estão respeitando higienizam as salas, medem a temperatura, há alcool gel em todo canto, mas quero saber é se os espectadores estão se cuidando antes de entrarem no cinema.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente:

Excelente! Há um vigor, uma grande movimentação em curtas, médias, longas metragens, roteiros sendo inscritos em editais, festivas pelo Brasil inteiro, o Cinema Independente se mobilizando, o surgimento de vozes invisíveis, uma Resistência a todos os níveis contra as tentativas de aniquilamento de nosso Cinema. Como atriz tenho trabalhado muito e como crítica tenho visto uma produção incessante e um compromisso com a qualidade.

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Marcelo Gomes.

 

12) Defina cinema com uma frase:

A evasão necessária movida por uma paixão inexplicável desde sempre.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não é tão inusitada, mas peguei no flagra um espectador gravando um filme pelo celular, e arranquei da mão dele e levei para o Segurança. Me senti heroica!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Vou ficar devendo essa, não ví. 

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Ele precisa ter referências, um repertório. Algumas opções estéticas homenageiam grandes mestres por exemplo, mas há cineastas jovens muito talentosos que são cinéfilos e outros que não e conseguem bons resultados, mas o diálogo entre atores e diretores que assistiram às mesmas coisas é muito mais rico, certamente. Então, para dirigir um filme, não precisa, mas para dirigir um bom filme, acredito que a cinefilia seja de grande valia.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

É tão odioso que se eu escrever o nome, tenho medo até de atiçar a curiosidade. Vem da Sérvia ..Atroz.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Não há um só. O Fundo do Ar é Vermelho, de Chris Marker. Shoah de Claude Lanzman, recentemente Segrêdos do Putumayo, de Aurélio Michiles e Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski, Coraçôes e Mentes, de Peter Davis.  Os 5, já aviso, nada têm de leves .

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim! Antes do final até, em Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino quando Shoshana, interpretada por Melanie Laurent faz seu discurso de vingança na tela do Cinema.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Rumble Fish, de Francis Ford Coppola e Despedida em Las Vegas de Mike Figgis.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Cineweb, Blog do Miguel Barbieri Cineclick, Papo de Cinema, Adoro Cinema, Cenas de Cinema.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #234 - Tuna Dwek

02/01/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #233 - Marco Antonio Maneira


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Araxá (Minas Gerais). Marco Antonio Maneira tem 50 anos, especialista em Direitos Humanos, é professor de história, filosofia, sociologia, ética e cinema.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Aqui só existe as salas do Cinemais. Quando viajo procuro ver um bom filme, independente da sala que o projeta.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Tubarão do Spielberg.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Difícil demais... são vários, mas se é um, vamos de dois por que não consigo escolher entre: Luís Buñuel, O Anjo Exterminador e Ingmar Bergman, Morangos Silvestres.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Dona Flor e seus dois maridos (1976) de Bruno Barreto. Cara de Brasil, zoado, sensual, politicamente incorreto (apesar de ser baseado no romance de Jorge Amado), atuações sensacionais e muita risada gostosa.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Amar o cinema, estudar o cinema, procurar entender o cinema, respeitar o cinema e ter certeza que é a arte mais sublime de todas.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Quem faz a maioria das programações são os produtores e pessoas ligadas à empresas que visam a renda e não priorizam qualidade.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Infelizmente sim. Essa pandemia marcou o início do fim.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman.

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim. É tomar as precauções necessárias e não encher as salas, que por sinal já estavam se esvaziando mesmo.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Boa. A galera produz muito, mas estamos longe de produzir qualidade como os argentinos ou sul-coreanos. Apoio é complicado, fazer filme independente é uma guerra e conseguir dinheiro público só sendo amigo do “rei”.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Não tem nenhum.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Não é possível; seria enorme a frase e ao mesmo tempo maravilhosa.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Em uma sessão do Senhor dos Anéis, molecada jogou um copo de pipoca no rumo onde eu e amigos estávamos sentados. Um amigo mais nervoso gritou “joga a mãe” e o garoto respondeu “vaca não voa”. Risada geral, sem maiores problemas posteriores.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Filme de impressionante coragem; lixo levado a sério.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acredito que não. Se for competente para contar histórias e ter noção boa da técnica, manda ver.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Nu, lista é grande, mas lembro do Van Helsing, o caçador de monstros (2004). Das coisas mais escrotas que já vi.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Vários, impossível citar um. The Last Dance (2020) e a História do Jazz (2001) de Ken Burns.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Com certeza. Rocky Balboa que o diga.  

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

8mm (Joel Schumacher) empata com Coração Selvagem (David Lynch). O cara é bom, mas gasta demais e passa a fazer de tudo para pagar as contas. Aí... já viu né? Bombas e bombas....

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Belas Artes a La Carte, que é streaming mas também tem muita informação sobre os filmes. Leio pouco na internet, acompanho uma galera no Youtube e livros de cinema, que estou sempre lendo.

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #233 - Marco Antonio Maneira
, , ,

Crítica do filme: 'Deixe-o Partir (Let Him Go)'


Quando a vida é a linha de coisas que perdemos. Baseado na obra de Larry Watson, roteirizado e dirigido pelo cineasta Thomas Bezucha (em seu quarto trabalho em longas-metragens), Let Him Go é sobre sacrifícios que fazemos pelo caminho de nossas vidas e como nossas escolhas podem mudar trajetórias de muitos a nosso redor. Abordando também como é muito difícil lidar com a perda, muitas vezes dentro de impactantes momentos de alta tensão, o filme vai nos guiando rumo a conclusões explosivas em torno de um casal, há décadas apaixonado, que tem uma grande última missão em suas vidas: resgatar seu neto. Um surpreendente trabalho que pode pintar em muitas premiações. Destaques para as presenças de Diane Lane e Lesley Manville, ambas maravilhosas em seus respectivos papéis, não seria nenhum absurdo pensarmos nelas como uma das cinco indicadas ao próximo Oscar, de atriz e atriz coadjuvante.


Na trama, ambientada no início da década de 50, conhecemos um casal ainda apaixonado, Margaret (Diane Lane) e George (Kevin Costner) Blackledge, depois de anos de toda uma vida, vivem sua rotina na simplicidade e pequenos gestos de amor e carinho em uma casa/rancho em Montana onde vivem seus dias. Eles passam os dias com o filho, a nora Lorna (Kayli Carter) e o recém-nascido neto. Certo dia, de maneira inesperada, o filho deles morre em um acidente com um cavalo. O tempo passa e a Lorna resolve se casar com Donnie Weboy (Will Brittain), um homem sem delicadezas e que maltrata a agora ex-nora do casal e o neto deles. Quando Donnie e Lorna se mudam sem avisar Margaret e George, o casal embarca em uma road trip em busca de resgatar o neto deles, só que enfrentarão muitos absurdos pelo caminho, principalmente os provocados pela líder do clã Weboy, a maquiavélica Blanche (Lesley Manville).


Não comece o que você não pode terminar. A busca de um senso de justiça engajado nas ações dos protagonistas é uma representação profunda de cidades sem lei e ‘clãs maquiavélicos’ de décadas atrás, principalmente no interior dos Estados Unidos. Esse ‘new Western’ camuflado de drama possui força em suas ações, deixando clímaxs intensos nos altos picos de tensão provocados pelo embate do casal com os Weboy. Além dos iminentes conflitos, vemos cenas lindas de Margaret e George, reflexões sobre a vida que vivem juntos, os sacríficos que fizeram e poderão fazer, as tristezas das perdas, o último respingo de alegria com a chegada do neto.


Poucos filmes no último ano tiveram vilões tão bem exemplificados e terríveis/cruéis como os integrantes do clã comandado por Blanche, os diálogos entre eles e os protagonistas, além de uma falsa guerra fria instaurada deixam a carga explosiva no gatilho para cenas de tirar o fôlego provocadas com muito sentimento de ódio e justiça com as próprias mãos. Baita filme de Bezucha.

 

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Deixe-o Partir (Let Him Go)'

01/01/2021

Crítica do filme: 'Soul'


Se você pudesse ver toda sua vida até aqui e além disso refletir sobre ela, você viraria uma pessoa melhor? Lançado na plataforma Disney+ , ainda sem chances de tela de cinema, Soul é um inteligente drama com pitadas cômicas de aventura usando a técnica de animação. Emocionante, foca no inusitado universo das almas, o curioso espaço entre o físico e o espiritual. Não importa sua religião, esse é um projeto, dirigido pela dupla Pete Docter e Kemp Powers, que nos apresenta a esperança e a importância dos valores emocionais para qualquer ser vivo. É uma animação para grandinhos mas onde também a criançada pode aprender bastante de forma muito divertida. Não ganhou as telonas do cinema (ainda, quem sabe...) mas ganhou nossos corações.


Na trama, conhecemos o músico e professor de música no colégio Joe (Jamie Foxx – dubla na versão original), um homem solitário que tem a paixão pela música e mais especificamente o Jazz como motores de sua felicidade. Certo dia, consegue a grande chance de sua vida e tocar em um quarteto de uma grande diva do Jazz. Só que Joe acaba sofrendo um acidente e acaba indo parar em uma espécie de pré-paraíso, um mundo das almas, onde conhece 22 (Tina Fey – dubla na versão original) uma alma descrente sobre a vida. Enquanto seu corpo está respirando por aparelhos no hospital, Joe e 22 embarcarão em uma aventura para tentar levar Joe de volta a seu corpo e também fazer com que 22 muda suas ideias pré conceituais do mundo.


Há muitas portas abertas para se refletir sobre esse lindo projeto. Sonhar não mata fome de ninguém mas é imprescindível nessa vida louca e repleta de obstáculos que nós vivemos. O sonho é motor importante para o protagonista, as vezes um pouco ingênuo sobre as questões mundanas mas tendo a música como elemento que o integra de certo forma as relações sociais. Passando pelo universo das habilidades vamos caminhando em teorias animadas e bastante sensíveis sobre nossa existência, além disso, O filme pode se tornar uma bela e gratuita sessão de terapia para aquelas almas que ao assistirem a esse filme encherem seus corações de sentimentos variados. Vale a menção que esse é o primeiro filme da Pixar com um protagonista negro.


O roteiro é maravilhoso, dentro da narrativa existencial, surpreendentes paradoxos caminham com Joe e 22 e dão muito sentido ao que os personagens estão vivendo em suas reflexões, como o protagonista receber conselhos amorosos de uma alma que nunca nasceu. Soul é um projeto recheado de boas intenções que rouba nossos corações do primeiro ao último minuto. Viva a vida!

Continue lendo... Crítica do filme: 'Soul'

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #232 - Alexandre Costa


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Almograve/Vila Nova de Milfontes (Portugal). Alexandre Costa é um jovem realizador e argumentista de cinema de 23 anos, que respira cinema desde sempre e que deseja fazer a diferença em Portugal. Trabalhou nos últimos 5 anos como realizador, argumentista e assistente de realização em várias curtas-metragens e num longa-metragem. Colaborou com diversos atores de renome, como Mariana Monteiro, Cucha Carvalheiro, Eduardo Frazão, Mário Spencer e Sara Mendes Vicente, entre outros. Tem vários projetos pela frente. É gestor das redes sociais e crítico residente desde 2017 do site Cambada de Críticos.

 

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu não moro numa cidade, na minha região o cinema vive maioritariamente no Verão. Abre entre 3 a 4 meses durante o ano. Mas é uma sala de cinema recheada de História, um cantinho espetacular, o 1º cinema ambulante de Portugal. Podem encontrar a sala de cinema em Vila Nova de Milfontes, chama-se Algarcine Cinema Girasol. Todas as semanas passam 1 filme, pode ser blockbuster como cinema independente. O resto do ano faço muitos km’s e desloco-me para o Algarve, os cinemas NOS do MAR Shopping são uma excelente opção.

 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu consumo cinema desde muito jovem. A minha paixão veio essencialmente da minha mãe, que me pôs a ver grandes clássicos de muitos géneros diferentes, desde que me lembre. Logo, não consigo escolher apenas 1 filme. No entanto, destaco Back to the Future, Terminator 2 e as minhas experiências com Spider-Man de Sam Raimi e Harry Potter and the Chamber of Secret no cinema.

 

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Pergunta complicada. Diria Steven Spielberg e o seu 1º Indiana Jones - Raiders of the Lost Ark. Atualmente adoro o trabalho de Denis Villeneuve e o seu Blade Runner 2049 é uma obra-prima.

 

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Não devo ser o único a dizer isto, mas o cinema português é uma grande falha minha. Nunca fui habituado, e para não estar a mentir, nunca me senti fascinado por procurar e consumir mais. Contudo, saliento A Herdade, de Tiago Guedes. Um filme muito bom, contemplativo e com grandes atuações.

 

                                                                       

5) O que é ser cinéfilo para você?

Adoro esta pergunta. Penso que não haja uma definição universal, mas na minha opinião é pensar e amar cinema. É consumir muitos filmes e pesquisar sobre eles, através de behind the scenes ou entrevistas. Saber o porquê do filme ter sido feito daquela maneira naquele contexto histórico. Perceber como foi possível chegarmos aos filmes contemporâneos através de todos os clássicos passados. É ser aquela pessoa chata que não para de recomendar filmes aos amigos. A partir do momento onde entro totalmente numa obra, que me faz emocionar, rir e que me faz libertar durante 2h do meu quotidiano, faz de mim um cinéfilo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Lá, no fundo da minha consciência, quero acreditar que sim. Mas penso que não. Entre negócios e amor pela 7ª Arte há todo um mundo que os separa.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

O cinema é algo que evolui. Tal como a nossa geração. Passamos do preto e branco e de filmes sem falas para cores e diálogos. Passamos do 2D para o 3D. Em mais de 100 anos, apesar de todas as dificuldades, o cinema nunca demonstrou que iria acabar. Embora os preços e as concorrências das plataformas de streaming sejam cada vez mais evidentes, a magia de assistir a um filme numa sala de cinema é inigualável. É muito dinheiro em jogo e muitas receitas das bilheteiras. No pior dos casos, diria que o cinema independente poderá ter apenas as suas chances nas plataformas e os blockbusters vão continuar a dominar as telas gigantes (o que é pena).

 

 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

After Hours do genial Martin Scorsese. Um filme louco e muito pouco falado.

 

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim, sem dúvida. Não nos podemos esquecer que não são só os cinemas dos shoppings que existem. Todos os pequenos cinemas sofrem com as consequências da pandemia. Desde que as normas sejam cumpridas e haja segurança. Porque não?

 

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro é underrated, no sentido que não é o centro das conversas. Mas é aquele cinema que propõe coisas novas e pequenas pérolas inesperadas. Bacurau é um excelente exemplo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Não sigo nenhum artista brasileiro em específico. Simpatizo com o Wagner Moura e o Rodrigo Santoro transpira carisma.

 

12) Defina cinema com uma frase:

“Uma imagem vale mais que mil palavras.”

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

No meu serão de Logan, durante as publicidades antes do filme, entrou um homem apavorado na sala de cinema e sentou-se mesmo no meio. Passado alguns minutos (já o filme tinha começado) apareceram 2 agentes da polícia que foram ter com ele, algemaram-no e levaram-no fora da sala. Esse momento vai ficar comigo para sempre, porque fiquei com muitas perguntas sem respostas.

 

 14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Pelo que sei, tenho mesmo de ver esse filme.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não é regra fundamental. Mas qualquer realizador que seja cinéfilo ou tenha conhecimento daquilo que está a criar terá um muito melhor resultado.

 

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

The Happening de M. Night Shyalaman é forte candidato. Também detesto o clássico Gone with the Wind.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Jodorowsky’s Dune, de Frank Pavich é fantástico ou I Am Not Your Negro, de Raoul Peck.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

No momento de euforia em que a sala começa toda a bater palmas, é impossível não vibrar e fazer o mesmo. Já bati em Toy Story 3, Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2 e no recente Avengers: Endgame. Não me posso esconder. Faz parte da vida.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Adaptation. Escrito pelo meu argumentista favorito Charlie Kaufman.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Enquanto gestor das redes sociais do Cambada de Críticos, só vos posso aconselhar o nosso site. Críticas de filmes todos os dias. Letterboxd também tem sido o meu melhor amigo.

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #232 - Alexandre Costa

31/12/2020

, , , ,

Crítica do filme: 'Pacarrete'


A força da paixão do artista, da inigualável margarida em francês. Baseado em fatos reais, Pacarrete, dirigido pelo cineasta Allan Deberton conta a história de uma personagem feminina, uma mente iluminada de criatividade, incompreendida, ex-professora, vaidosa, amante da cultura francesa que nos faz acreditar do início ao fim que o palco é lugar onde bate mais forte o coração de um artista. Uma personagem tão forte quanto as mensagens do filme. Ficamos hipnotizados com o impacto a todo instante da presença dessa mulher sonhadora e tão carismática. Nunca fez tanto sentido que os gritos lá de fora não são mais fortes que as emoções que alguém pode carregar dentro de si. Uma atuação inesquecível de Marcélia Cartaxo, rimos e choramos com ela. Um dos grandes filmes nacionais de 2020.


Na trama, que possui uma bela trilha sonora, conhecemos Pacarrete (Marcélia Cartaxo), forte como um mandacaru, uma ex-professora que veio de Fortaleza para morar com a irmã Chiquinha (Zezita de Matos), moradora do município de Russas. Ela tem o sonho em se apresentar como bailarina em um grande evento da cidade, os 200 anos de Russas, mas acaba encontrando muitas dificuldades em ser compreendida. Ao longo dos quase 100 minutos de projeção somos testemunhas da determinação, sonhos, desilusões dessa personagem que vai ser difícil esquecermos. 


O belo, o bonito, está no desejo em se apresentar, no gesto da bailarina. Pacarrete é um recorte delicado e muito profundo de uma mulher batalhadora, guerreira cujo os sonhos parecem somente ter sentido para ela, muito criticada pelos outros ao seu redor. Dorme em sua rede todos os dias junto com seus sonhos junto a verdade de que uma artista nunca deve deixar os palcos.


Poderia até virar seriado, sendo esse belo filme a primeira temporada. Reflexivo, nos diz muito nas entrelinhas, nos momentos de pausas dos diálogos deixa uma certeza: o mundo é um lugar muito pequeno para o quanto grandioso podem ser nossos sonhos, mas mesmo assim nunca deixamos de sonhar e sonhar e sonhar...

 

 

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Pacarrete'