08/08/2013

Crítica do filme: 'Flores Raras'

Como contar uma história de amor em forma de poesia? O cineasta carioca Bruno Barreto (Última Parada 174) teve a difícil missão de mostrar na tela grande um amor – polêmico para a época – entre duas fortes e diferentes mulheres. Flores Raras é uma história de outro tempo, onde todas as emoções viravam poesia. As atrizes principais, em seus respectivos papéis, dão um show em cena, valorizando cada segundo do bom trabalho de Barreto atrás das câmeras.

Com um roteiro de Carolina Kotscho (Quebrando o Tabu) e Matthew Chapman (A Tentação), o longa mostra a conturbada e emocionante história que caminha a passos curtos rumo a um triângulo amoroso entre uma poetisa tímida e inteligente norte-americana (Elisabeth Bishop), uma arquiteta brasileira de prestígio (Lota) casada com uma norte-americana radicada no Rio de Janeiro. Essa relação contém amor, carinho, compaixão e loucura, levando os personagens reais a um desfecho repleto de melancolia.

Dissolvendo a dor em doses de álcool, Elisabeth Bishop é interpretada pela excelente atriz australiana Miranda Otto (Guerra dos Mundos, 2005). A serenidade da artista estrangeira chama a atenção. Consegue com peculiar leveza desenvolver sua personagem. A depressiva poetisa e sua busca pelo amor ganham vida na bela interpretação da artista australiana. Seus problemas com o alcoolismo começam a afetar sua relação com Lota (Glória) e isso as leva para o fundo do poço.

Glória Pires (É Proibido Fumar, 2009), em sua melhor performance no cinema, interpreta a corajosa Lota de Macedo Soares. Um primoroso trabalho de doação carnal e emocional da veterana atriz de novelas. Não seria um absurdo dizer que tanto Glória, quanto Miranda tem reais chances de uma indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante e Melhor atriz, respectivamente, no ano que vem.

A mudança cultural é muito bem apresentada no filme. Bishop chega a uma terra nova, cheia de novidades e perigos. Não espera se apaixonar mas acaba caindo em tentação quando vê seus sentimentos correspondidos. Desse amor surge livro, histórias, vícios e muita dor. Sua relação com Lota nunca foi bem estabelecida por conta disso há um descontrole eminente escondido em cada verso dessa poética história.

Por conta da intensidade desenfreada da relação apresentada, a trama acaba se arrastando em seu desfecho. Há um descontrole do roteiro para as definições dos desfechos de cada personagem. Fato negativo do projeto. Uma história de amor intensa, repleta de felicidade e aflições precisava ter tido um carinho maior com o seu encerramento. Mas nada disso supera as outras dezenas de qualidades que o filme possui.


Quando a espera da melhoria num relacionamento é insuportável, o ser humano é levado ao limite. Todos já lemos, escutamos, vimos no cinema, inúmeras histórias de amor. Essa é mais uma. Só que dessa vez, bem rara. 
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Coletiva do filme: 'Rio Eu Te Amo'

Para falar de amor em uma das mais românticas cidades do mundo nada melhor que reunir diversas visões cinematográficas sobre a cidade maravilhosa. Na última segunda (05), a imprensa carioca foi chamada para a coletiva do filme Rio Eu Te Amo, que correu no Theatro Municipal. O trabalho seguirá a linha estrutural do sucesso Paris, Te Amo (2006) – que faz parte da franquia Cities of Love - e contará com onze seguimentos que serão filmados em diversas partes da cidade maravilhosa.

Para apresentar o planejamento dessas filmagens foram reunidos artistas, produtores e diretores. Conversaram com a imprensa Denise Gomes da Bossa Nova Films, Pedro Buarque de Hollanda, Leonardo Barros e Dan Klabin, esses últimos da Conspiração Filmes. Além dos diretores Carlos Saldanha (Rio), Im Sang-soo (A Empregada, 2011) e os atores Rodrigo Santoro(Uma História de Amor e Fúria, 2013), Tonico Pereira (Cores) e as atrizes Roberta Rodrigues (Vamos Fazer um Brinde, 2011) e Bruna Linzmeyer.

Carlos Saldanha, que deu uma breve pausa na pós-produção de Rio 2 para participar do projeto escolheu como sua locação o Theatro Municipal e terá Santoro e Linzmeyer  como seus protagonistas. Eles começam a filmar ainda nesta semana. “Eu sempre gostei do Centro da cidade, é uma das partes mais marcantes da cidade pra mim. Toda a história do Rio de Janeiro começou por aqui. Quando estava fazendo o primeiro filme Rio, queria recriar o municipal pelo computador mas vimos que isso é impossível”, declarou Saldanha.
Rodrigo Santoro comentou o fato de ser um bailarino no segmento de Saldanha. “Tivemos pouquíssimo tempo de preparação. O ator trabalha o tempo todo com o corpo. É um universo muito particular. Precisa de muita dedicação, concentração e de perfeição”, falou rapidamente o ator.

Em seguida as filmagens no Theatro Municipal, começa a ser rodado o seguimento do grande diretor sul-coreano Im Sang-soo (A Empregada, 2011). Seu primeiro longa metragem foi recorde de bilheteria na Coréia do Sul e escolheu fazer o seguimento sobre amor e escolheu os atores Tonico Pereira e a atriz Roberta Rodrigues. “Eu não sei nada do Rio (risos) mas quero conhecer melhor e fazer um grande filme sobre essa cidade”, comentou Sang-Soo.

No final de agosto, mais três seguimentos serão filmados no Rio de Janeiro. O diretor australiano Stephan Elliott (Priscilla, a Rainha do Deserto, 1994) – que ficou muito tempo sem filmar – e tem muita relação com o Brasil e por isso escolheu que seu segmento fosse filmado no Pão de Açúcar. A diretora libanesa Nadine Labaki (E Agora Onde Vamos?, 2011), um dos grandes nomes femininos do cinema mundial, escolheu como locação a Gamboa. E o diretor brasileiro Fernando Meirelles (360) que elegeu como locação para seu segmento o bairro mais famoso do Rio de Janeiro, Copacabana.

Na segunda parte do projeto, que será filmado em outubro, três diretores já foram contratados. O cineasta mexicano Guillermo Arriaga (roteirista de Babel, 2006) que escolheu Santa Teresa para filmar, o diretor do novo RoboCop: A Origem (2014) José Padilha (Tropa de Elite 2) escolheu rodar sua história na Pedra Bonita e o diretor Andrucha Waddington (Lope) no segmento Centro da Cidade. Leonardo Barros, produtor da Conspiração Filmes, anunciou que mais três diretores estão em negociação para dirigirem seguimentos no projeto mas não adiantou os nomes.

O diretor Vicente Amorim (Corações Sujos, 2012) estará a cargo das cenas de transição, uma das características dos filmes da franquia “Cities of Love”. “O grande objetivo das transições é criar um senso de unidade, cada diretor tem o dom criativo e suas particulariedades. Terei a tarefa de fazer essas historias se unirem, virando um filme. É um exercício de você se apropriar dos personagens e da dramaturgia de outros diretores.”, explicou Amorim.

Esses onze diretores (três ainda não foram anunciados) representam uma variedade geográfica muito grande o que se caracteriza como um diferencial no projeto. Esses nomes importantes da indústria cinematográfica contam com uma qualidade artística mundial e inquestionável. Somado a isso, Gilberto Gil será o responsável pela trilha sonora que promete emocionar os corações mundo à fora.



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Crítica do filme: 'Tabu'

Falando sobre a descoberta de um passado e as profundezas da melancolia dos relacionamentos, o diretor português Miguel Gomes (Aquele querido mês de agosto) apresenta seu novo e corajoso trabalho, Tabu. Com tamanha ousadia e uma estética que impressiona os olhos mais rígidos, o realizador português, que iniciou sua longa carreira no cinema como crítico, apresentou este belo trabalho no último Festival do Rio.

A história é dividida em arcos dramáticos, com prólogo, duas partes e um Epílogo. Conhecemos primeiro Dona Aurora, uma idosa temperamental que divide o andar de um prédio em Lisboa com uma mulher nascida em Cabo Verde e uma outra vizinha de bom coração. Quando há o falecimento da primeira personagem apresentada, as outras duas descobrem segredos do passado dela como uma história de amor vivida no continente africano.

O grande destaque do filme é a direção - praticamente impecável - do cineasta português. Consegue com muita simplicidade encontrar o tom certo de cada diálogo, cada plano sequência, cada momento de emoção que o filme se propõe. A estética eleva a qualidade do trabalho que deve ser elogiado por público e crítica. O plano em preto e branco é algo de destaque mostrando a coragem do diretor de produzir um filme tão longe dos padrões comerciais.

Escrito por Miguel Gomes e Mariana Ricardo, o roteiro percorre um passado também de Portugal. A própria nostalgia do império africano perdido em citações de livros antigos se mostra como sendo a juventude dos tempos atuais. Esse contraponto é deveras interessante e pode ser utilizado como ferramenta de estudo por estudiosos da área de sociologia, psicologia e antropologia.


Taxado como um projeto Cult, o longa deve fugir dos grandes cinemas aqui no Brasil. Uma pena. Por isso, como no teatro, o boca a boca pode ser a única solução para quebrar esse tabu de que filmes de artes não podem ser um bom divertimento.  
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05/08/2013

Crítica do filme: 'Augustine'

Escrito e dirigido pelo jovem talento francês Alice Winocour, Augustine tinha tudo para ser somente um filme angustiante, próprio para quem tem estômago forte. Mesmo abusando de extremismo, em cenas complexas, a estreante em longa metragem consegue o mérito de explorar as melhores características da sua dupla de protagonista - o experiente Vincent Lindon (A Criança da Meia-Noite) e a quase desconhecida Soko (As Melhores Amigas, 2006) – transformando este trabalho em um fenomenal retrato da medicina experimental.

Ambientado no final do século XIX, Augustine mostra a vida e os difíceis estudos do professor Charcot (Lindon), que trabalha no prestigiado Hospital Pitié-Salpêtriere. Dedicando a vida a resolver os problemas duvidosos da medicina, acompanhamos seu mais novo estudo, a histeria. Entre muitos testes e experimentos, a jovem Augustine (Soko), torna-se sua cobaia favorita e o professor passa de objeto de estudo para objeto do seu desejo.

As impactantes sequências ocorridas durante os experimentos executados pelo protagonista chocam parte do público. As mãos seguras da diretora conseguem capturar todas as emoções e reações dos envolvidos nessas cenas, fazendo o contraponto entre tensão e realidade. A sensibilidade encontrada pela diretora, em meio aos angustiantes episódios de experimentos é a chave do sucesso desse belo trabalho.

Os protagonistas, em seus respectivos papéis complicados, valorizam o roteiro até a última linha. A relação apresentada e que muda a todo instante – entre médico e paciente – joga o espectador em um interessante jogo com ar misterioso deixando o desfecho em aberto, o que faz o público ficar com os olhos atentos para não perder nenhum detalhe. Uma das grandes características das produções francesas é essa: prender a atenção do espectador com histórias ricas em emoção.


Não precisa ter sangue frio, nem estômago de aço. Há sofrimento e cenas difíceis mas como abordado nos parágrafos anteriores o filme é muito mais que isso. A elegância da dor de maneira raramente vista no cinema transforma essa produção num prato cheio para todo tipo de cinéfilo. Bravo!
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03/08/2013

Crítica do filme: 'Vulcão'

Como reconstruir quando você só destrói? Falando sobre a busca da felicidade de um homem, o jovem cineasta islandês Rúnar Rúnarsson – em seu primeiro longa-metragem -  transforma um conflito pessoal em uma obra de arte. Vulcão é o tipo de filme que você nunca ouviu falar mas que certamente vai querer debater sobre ele.

Na trama, conhecemos Hannes (Theodór Júlíusson) um rabugento fumante de idade avançada que leva a vida de maneira triste e sem novos grandes objetivos. Faz questão de ser a pessoa mais inconveniente dos lugares onde passa, sendo assim, visto por todos como um infeliz que não gosta de ninguém. Certo dia, após retornar de uma falha tentativa de suicídio, uma certa conversa que escuta desperta nele um sentimento de mudanças.

O que mais chama a atenção no longa é a descontrução do personagem - absurdamente bem feita. A lentidão apresentada neste trabalho -característica de alguns filmes de arte europeus - é extremamente necessária para captar todos os elementos que caracterizam o universo familiar que o protagonista vive. Méritos total do diretor, que também escreveu o roteiro.

Theodór Júlíusson – o ator que interpreta o protagonista da história - tem uma atuação fabulosa. Não perde um segundo o foco de seu difícil personagem, o que facilita a exposição dos conflitos para o espectador.  Toda a dor, angústia, aflição, insegurança e desespero são mostrados com uma verdade que impressiona. A todo instante, o público interage com a trama e sai do cinema sem saber se Hannes é o vilão ou o mocinho dos fatos.

A cena mais importante da película, a do travesseiro, expõe o tão longe do seu limite emocional o protagonista ja se encontrava. A dor dá lugar à compaixão, podemos interpretar não como uma despedida mais um ato de socorro de quem quer recomeçar mais escolheu muito tarde essa opção. É uma parte tocante, uma espécie de clímax desta dramática história.

O filme é de 2011 e infelizmente deve estar jogado nas locadoras que ainda restam, atrás dos blockbusters que são lançados a cada minuto pela indústria mais forte por trás do cinema. Esse belíssimo filme de arte precisa de pessoas como eu e você para ganhar força e ser usado como ferramenta de estudo dos campos da sociologia e do direito, principalmente.


Diretamente das lindas paisagens geladas da Islândia uma pérola cinematográfica brota. Vejam, não há como se arrepender. Fabuloso. Bravo! 
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Crítica do filme: 'Praga'

Como curar um sofrimento provocado por duas pessoas casadas? Praga, o trabalho do diretor dinamarquês Ole Christian Madsen (Flammen & Citronen) é o retrato sobre um casamento em ruínas onde nenhuma das partes envolvidas é inocente. A direção é competente tentando encontrar formas diferentes de mostrar essa situação. O roteiro atrapalha a harmonia e cansa o espectador, transformando lindas imagens em um sonífero dos mais poderosos.

Na trama, acompanhamos o casal interpretado pelo astro dinamarquês Mads Mikkelsen e a atriz Stine Stengade (Flamen & Citronem) que viajam rumo a uma terra desconhecida por ambos, a princípio, para cuidar da papelada e resgatar o corpo do pai de um deles. Aos poucos vamos descobrindo segredos sobre esse tumultuado relacionamento, fato que leva os personagens a um clima de dor e desespero.

O sofrimento e a vontade de se torturar do personagem Christoffer (Mikkelsen) são escancarados na telona, provocando muita dor e angústia inflamados pelos diálogos calorosos com sua companheira Maja (Stengade). Os personagens vão ao limite de suas emoções, fica claro para o espectador. Porém, os atores que os interpretam parecem estar perdidos no meio da inconsequência emocional que se instaura. A tentativa de recriar a realidade vai por água abaixo quando há um descontrole dos atores sob os seus respectivos papéis.

O roteiro é o grande problema dessa película dinamarquesa. O objetivo dos personagens é perdido quando acontece a mudança de foco. A ida para Praga não era somente para buscar o corpo do pai, era para provocar um grande ultimato em um relacionamento doloroso que foi se construindo ao longos dos anos que passaram juntos. O filme explica essa mudança de maneira confusa o que dificulta a relação do espectador com a história.


Se encararmos como uma peça de teatro, o formato se encaixaria bem melhor. Dois atores em cena, diálogos intrigantes que chegam ao limite, poucos cenários e uma boa direção. No formato cinema, outros elementos são necessários e nesse caso, toda essa sustenção cinematográfica é terrivelmente executada. Uma pena.
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22/07/2013

Crítica do filme: 'Querida, Vou Comprar Cigarros e Já Volto'

Em apenas uma hora e vinte minutos de filme, o diretores Gastón Duprat e Mariano Cohn (O Homem do Lado) conseguem reunir elementos hilários para contar uma fábula da idade moderna sobre sorte e tentação. A nova comédia Querida, Vou Comprar Cigarros e Já Volto deve cair no xodó dos cinéfilos que tiverem a sorte de ter esse filme passando em sua cidade. Lançado em 2011 lá fora, a hilária saga de homem rumo a troca de seu destino merece ser visto pelo público brasileiro.

Na história, um senhor de idade chamado Ernesto leva uma vida simples e muito chata trabalhando como agente imobiliário. Quando, por uma sorte (ou não) do destino, encontra um espanhol que se tornou imortal faz tempo fica em dúvida em relação a uma questão: Será que ele deve voltar dez anos no passado e receber um milhão de dólares quando voltar ao presente?

Trama inusitada? Sim, bastante! Quem nunca sonhou em ganhar na loteria e/ou voltar ao passado? Fazer essas duas coisas transforma essa deliciosa história sobre escolhas em um dos grandes destaques deste mês. Será que podemos evitar erros ou previnir nosso destino de eventuais situações constrangedoras? O personagem principal, interpretado pelo carismático Emilio Disi, faz sua escolha e comicamente acompanhamos os densenrolares deste fato.

O roteiro é brilhantemente dosado para não se exceder, principalmente para não conter os famosos clichês e encheções de linguiça que muitos cineastas norte americanos adoram adicionar em seus filmes. As produções argentinas cansam de dar um baile nos ‘produtos hollywoodianos’ quando o quesito  é objetividade da trama. Esse longa não foge a regra.


É o tipo de filme que você ri, se emociona, fica encucado com as escolhas feitas pelos personagens. Muitas emoções reunida em um tornado de situações. Vale a pena conferir!
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Crítica do filme: 'Renoir'

Um grande retrato de uma família que nasceu para brilhar no mundo das artes. Não tem outro resumo que melhor define o novo trabalho do diretor Gilles Bourdos (Depois de Partir), Renoir. Passando por belas imagens e pinturas que marcaram uma geração de amantes das belas artes, conhecemos um pouco mais a fundo o trabalho do famoso pintor que dá nome ao filme. Pena que a maneira como tudo isso é misturado na tela acaba se tornando uma grande chatice.

Nesse novo drama francês, conhecemos o final de vida do pintor Pierre-Auguste Renoir. Gênio que marcou época, vive seus últimos dias rodeado de mulheres que entraram e nunca mais saíram de sua vida. Uma delas, a sua nova modelo de corpo, começa a ter uma intensa história de amor com um dos seus filhos que acabara de voltar da guerra, o futuro cineasta Jean Renoir (A Regra do Jogo).

A direção de arte é impecável complementando as boas atuações do elenco. Cada detalhe – palavra muito usada pelo próprio pintor – é muito bem captado pelas lentes do diretor. O figurino chama a atenção pelas cores, parecem completar a aquarela do grande gênio da pintura. A fotografia é esplendorosa , todas as sequências exaltam as belas paisagens da riviera francesa naquele verão no início do século XX. O trio de protagonistas realiza um trabalho competente e contribuem para que o sono provocado pela lentidão da história não chegue antes da metade do filme.

Michel Bouquet – do excelente Como Matei meu Pai – interpreta o pintor Renoir. Suas expressões marcantes e os diálogos com pitadas de sarcasmo caem como uma luva ao personagem. Christa Theret (Lola) aparece nua em grande parte do filme mas sem nunca exceder à vulgaridade. Uma atuação corajosa da jovem atriz. Cabe a Vincent Rottiers (A Espuma dos Dias) interpretar o cineasta Renoir. Consegue passar os desejos e paixões do ainda recém adulto soldado.

Mas nem tudo são flores. Uma grande decepção para os cinéfilos fica por conta da não exploração do início da trajetória de Jean Renoir. Somos apresentados apenas a um breve início de como começou sua vontade de entrar na indústria cinematográfica, inusitadamente, por uma obsessiva paixão.

O longa ultrapassa o bom senso em relação a sua duração. É deveras longo para tudo que é abordado em seu roteiro. No mínimo, uma meia hora de fita deveria ter sido cortada. Soninhos profundos, roncadas profundas e ansiedade para o término serão reações presentes nas salas de cinema, mesmo com alguns pontos positivos que o filme possui.  

Esse filme acaba se tornando um quadro que o verdadeiro Renoir não gostaria de pintar. Você compra o ingresso para ver um filme mas acaba indo parar em uma disputa para ver quem dorme primeiro.


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19/07/2013

Especial: Top 10 Dia dos Amigos

Mario Quintana já dizia “há 2 espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos". Se existe um dia que merece ser comemorado é o dia dos nossos chatos prediletos. Muitos dirão que o dia do amigo é todo dia mas sempre é bom ter uma data certa para comemorar.

Como somos uma editoria de profissionais que se conheceram e viraram amigos nas maratonas de cinema do nostálgico Cine Odeón, no Rio de Janeiro, nada mais justo de comemorarmos esta emblemática data com uma lista das 10 melhores história de amizade para você leitor conferir nesse simpático dia.

10. Conta Comigo (Rob Reiner, 1986)
Dirigido pelo nova iorquino Rob Reiner (Louca Obsessão), a aventura com grande carga emocional, Conta Comigo, conta a história de um grupo de amigos que se unem para buscar o paradeiro de um corpo perdido na mata de uma cidadezinha do interior nos Estados Unidos. Baseado no conto O Outono da Inocência de Stephen King, a produção fez um tremendo sucesso entre os adolescentes da década de 80 e consegue a proeza de se tornar um filme atemporal, pois, renova esses fãs a cada década.

09. E.T., o Extraterrestre (Steven Spielberg, 1982)
Um dos maiores e mais poderosos filmes de todos os tempos, quando falamos em bilheteria, E.T., o Extraterrestre foi o filme que consagrou o diretor norte americano Steven Spielberg (Lincoln). Narrando a história de um jovem de uma família classe média norte americana que faz uma amizade com um carismático ser de outro planeta, a mega produção é um filme inesquecível na mente dos cinéfilos de todo o planeta.

08. Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore, 1989)
Um dos mais emocionantes filmes da história do cinema, Cinema Paradiso conta a história de de um cineasta bem sucedido que relembra sua infância e a descoberta pela paixão ao cinema após descobrir que um velho amigo falecera. O vencedor do Oscar, o italiano Giuseppe Tornatore, consegue explorar muito bem a relação de amizade contido no contexto da história, tornando este trabalho uma experiência inesquecível!

07. Sempre ao seu Lado (Lasse Hallström, 2009)
O que dizer de uma amizade entre um lindo cãozinho e um homem? Sempre ao seu Lado levou às lágrimas plateias de todo o mundo mostrando uma história real de maneira profunda e objetiva. Na trama, estrelada pelo astro Richard Gere (A Negociação) e dirigida pelo sueco Lasse Hallström (Um Porto Seguro), conhecemos a incrível história de amizade entre um cãozinho chamado Hachiko e um professor universitário. O desfecho dessa fantástica história é de partir o coração. Recomendado para corações fortes!

06. Toy Story 3 (Lee Unkrich,2010)
Uma das mais famosas animações da história do cinema, teve seu desfecho há três anos atrás e deixou uma saudade imensa nos corações cinéfilos. Os carismáticos Woody e Buzz Lightyear são personagens que jamais sairão do imaginário cinéfilo. As lições de amizade, de educação, de família que são abordados durante os três filmes da trilogia são os grandes destaques desta premiada animação.
05. As Vantagens de Ser invisível
Dirigido e roteirizado por Stephen Chbosky, As Vantagens de ser Invisível tinha tudo para ser mais uma historinha sobre adolescentes e muita bobagem. Engana-se quem pensou isso. Dessa vez, os cinéfilos foram brindados com uma fita muito verdadeira sobre as experiências de jovens em busca de descobertas e realizações. Tem cenas cativantes e canções que marcaram outras gerações. É uma visão madura e divertida sobre a adolescência, seus mistérios e suas surpresas. A busca pelo infinito vai de baladas românticas até uma homenagem à The Rocky Horror Picture Show, esse último uma das grandes passagens do longa.

04. Mary e Max: Uma Amizade Diferente (Adam Elliot, 2009)
Em seu primeiro longa metragem como diretor, o australiano Adam Elliot consegue a proeza de cativar a todos com a maravilhosa animação Mary e Max: Uma Amizade Diferente. O longa usa a técnica de animação denominada Claymation - baseada em modelos de barro ou material similar - e conta a história de uma garota de oito anos que mora na terra dos cangurus e Max, um homem de meia idade que vive na metrópole Nova Iorque e sofre de Asperger. Os risos e as emoções provocadas pelas maravilhosas sequências são as marcas registradas deste belo trabalho.

03. Intocáveis (Olivier Nakache, Eric Toledano, 2011)
Uma amizade improvável de duas pessoas que vivem em dois mundos diferentes. Intocáveis - o novo trabalho da dupla de diretores franceses Olivier Nakache, Eric Toledano - colecionou recordes de bilheteria ao redor do mundo. Com uma narrativa leve e descontraída o filme foge a todo tempo do clima pesado - que poderia facilmente ter -, assim, agradando a todo tipo de público. É uma história bonita, muito bem estruturada e adaptada para o mundo do cinema. Se você pensa que é um drama, esqueça. É um filme que transborda alegria em vez de lágrimas.

02. Meu Melhor Amigo (Patrice Leconte, 2006)
No longa europeu Meu Melhor Amigo, conhecemos um homem de negócio que só pensa em trabalho 24 horas. Até que um dia, percebe que não tem amigos e, a partir de uma aposta com uma amiga encrenqueira, adota um taxista como seu melhor amigo. O longa é uma comédia reflexiva, com ótimas atuações de Daniel Auteuil (A Filha do Pai) e Dany Boon (A Riviera Não É Aqui). Bom enredo, divertido e emocionante.  Um filme feito para se refletir sobre a vida!

01. Os Goonies (Richard Donner, 1985)

O número 1 da lista, um filme que atravessou gerações, óbvio que estamos falando do longa dirigido por Richard Donner (Maverick) e produzido por Steven Spielberg, Os Goonies. Na divertida trama, acompanhamos a saga de um grupo de amigos que partem em busca de um tesouro do lendário Willy Caolho se metendo em diversas confusões para chegar neste objetivo. O elenco é o início de carreira de muitos atores que hoje fazem sucesso no cenário hollywoodiano, como: Sean Austin (Trilogia Senhor dos Anéis), Josh Brolin (Oldboy). A voz desse último, na dublagem brasileira é feita pelo ator e diretor Selton Mello (O Palhaço). 
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15/07/2013

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Crítica do filme: 'Turbo'

Em seu primeiro trabalho como diretor, o desconhecido cineasta David Soren consegue com muita criatividade criar uma linda jornada através do sonho, estamos falando da divertida animação Turbo. Os pontos positivos se enumeram aos montes. Além de valores como amizade, trabalho em equipe que são perfeitamente abordados ao longo dos 96 minutos de fita, há uma louvável homenagem aos empreendedores, esses que também são sonhadores e acreditam nos seus respectivos negócios.  

Na trama, conhecemos um caracol de jardim que gosta de ser chamado de Turbo, um sonhador, aficionado por corridas de automóveis. Certo dia, após uma série de acontecimentos tristes, ganha super poderes e acaba encontrando uma turma que vai ajudar esse amante da velocidade a ficar mais perto de um grande desejo.

A vida de um caracol não é fácil. A cada bom dia, uma nova perda. Enfrentam perigosos corvos, jardineiros e suas máquinas de última geração, além de tomates gigantes. Sem limite para a sua vivacidade, o protagonista é um sonhador que não quer acordar. Seu cotidiano é mostrado na telona de forma divertida e gostosa de assistir.  

A particularidade dos personagens que giram ao redor do protagonista ajudam a criar todas as pontes entre os diálogos e os objetivos de cada um deles. O dono da loja de Tacos, Tito, possui um carisma fascinante. Quando aparece pela primeira vez em cena dá a impressão de que será um dos vilões da história mas logo percebemos que debaixo de tanta excentricidade há um coração que vai cativar a todos.

A qualidade da técnica de animação é um dos pontos altos da aventura. A Dreamworks, produtora de Turbo, acerta em cheio na interação que as imagens geram com o público. Os olhos dos pequenos cinéfilos ficarão brilhando e sorrisos brotarão no rostinho de cada um destes. Os papais também não podem deixar de conferir, vão se divertir, é um filme para todas as idades.


Nenhum sonho é grande demais e nenhum sonhador é pequeno demais. Os sonhos dão informações muito interessantes a quem quiser compreender seu simbolismo, e no caso de Turbo, esse simbolismo exala carisma de uma ponta a outra da telona!  Imperdível!
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08/07/2013

Crítica do filme: 'O Concurso'

Quem nunca teve o sonho de passar em um concurso público? Com essa ideia na cabeça, o roteirista e produtor LG Tubaldini Jr. resolveu criar uma história ao melhor estilo Os Trapalhões sobre um grupo de pessoas atrás desse objetivo tão complicado. Para tal, chamou o inexperiente diretor Pedro Vasconcelos e um elenco de nomes pouco conhecido do público de cinema. Resultado?  Piadinhas sem graça, a mesma historinha mal executada e uma verdadeira confusão cinematograficamente falando. Esse é o resumo da nova e terrível comédia, O Concurso.

Nessa versão brasileira de Se Beber, Não Case, somos rapidamente apresentados a quatro geniais mentes, cada um de uma parte do Brasil,  que se classificaram para a fase final do concurso público para Juiz Federal. Quando chegam na cidade do Rio de Janeiro com antecedência para fazer a prova, resolvem aproveitar  o fim de semana e acabam em muitas confusões.

O roteiro é linear mas tem falhas na sua execução, o que acaba gerando erros de continuidade entre uma cena e outra. As escorregadas na realidade e as situações impossíveis passam perceptíveis até ao olhar mais desatento: bancas de jornal fechadas às 7:45 da manhã de uma segunda-feira, um trânsito que não existe em pleno dia de semana pela manhã, um sequestro bizarro de um dos personagens por um grupo de travestis, entre outros pequenos absurdos.

As excêntricas personalidades dos personagens provocam uma grande confusão na telona. Os exageros são inúmeros.  Diálogos forçados, Sabrina Sato com um personagem sem função na trama, sequências mal dirigidas e situações impossíveis mostrando que todos os atores, o diretor e o roteirista parecem estar sem inspiração.

Fabio Porchat (Vai que Dá Certo), a grande esperança de tirar risos da plateia, é praticamente um Titanic (começa bem e naufraga), cenicamente falando. Algumas risadas são provocadas com sua mais forte qualidade, exageros em formato Stand Up Comedy. Porém, muito menos risos do que o esperado.  Talvez Porchat deva aprender a desenvolver seu Stand Up na tela grande com o Paulo Gustavo, ator que deu um show na comédia recém lançada Minha Mãe é uma Peça.


Ao longo do filme somos sentenciados a escutar a frase: “Perante a lei, todos são iguais”. Assim, ao término do longa (que graças a Deus não é muito grande), o adorador da sétima arte tem vontade de pegar um megafone e gritar: “Perante ao bom senso cinéfilo, ainda tem muito filme nacional que me irrita”!
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