Se apaixonar é uma forma socialmente existencial de
insanidade? Depois de apresentar ao mundo uma versão peculiar da tristeza por
meio de metáforas e universos inimagináveis, no longa-metragem Onde
Vivem os Monstros, o diretor norte-americano Spike Jonze volta aos
cinemas, quatro anos depois, com um projeto audacioso que fala sobre o
diferente relacionamento no futuro entre um homem e uma máquina, Ela.
Com muita suscetibilidade aplicada nas ações dos personagens, o famoso diretor
precisava de um ator completo para executar o complexo protagonista. E
acreditem, não havia escolha melhor do que Joaquin Phoenix. O porto-riquenho de
39 anos conquista o público, já nos primeiros segundos, com um maravilhoso
monólogo.
Na trama, conhecemos Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um
escritor de cartas melancólico sem muitos amigos e que vive pacatamente sua
rotina de trabalho. Sua restrição social é provocada pelo rompimento com sua
ex-mulher Catherine (Rooney Mara), de quem não consegue se libertar. Certo dia,
caminhando pelas ruas vê o anúncio do primeiro sistema operacional com
inteligência artificial e resolve levar para casa. Para sua surpresa, esse
sistema é uma entidade intuitiva que entende Theodore por completo. Em uma
rápida busca, um nome entre 180 mil encontrados foi o escolhido, e a dona desse
nome vai mudar sua visão do mundo para sempre, e a dos cinéfilos também já que
quem faz a voz do tal sistema operacional é a musa Scarlett Johansson.
É muito difícil perder alguém que a gente gosta. Aos poucos
Theodore começa a entender que amar também é deixar ir embora. A melancolia do
personagem é maravilhosamente bem interpretada pelo ótimo ator Joaquin Phoenix.
Conseguimos sentir toda a tristeza, sentimentos e em certos pontos nos
identificamos com Theodore. Muitas vezes com sua emblemática camisa de cor
salmão, o inteligente personagem, escrito por Jonze, tem um pensamento triste e constante de que já sentiu tudo que
deveria sentir na vida e não sentirá nada de novo, só versões menores do que um
dia já viveu. Sair dessa melancolia, sem a ajuda do Lars Von Trier, é uma
caminhada muito bonita que acompanhamos atentos em cada detalhe, cada atitude
do personagem.
A esquisita relação de amor entre um homem e uma máquina é
brilhantemente bem explorada ao longo de todo o filme. Uma coisa nunca antes
imaginada, se torna para Theodore uma experiência grandiosa de auto descoberta,
renovação de seus sentimentos e da sua vida. A visão que todos os outros ao seu
redor possuem sobre essa relação também é um ponto interessante, existem muitos
apoios para que ele continue, principalmente por conta das mudanças positivas
que o personagem passa ao longo desse relacionamento.
Ela é um filme sobre momentos, experiências, atitudes, formas
de viver. Um projeto diferente, inovador e deveras inteligente. Esse é um
daqueles filmes que pode fazer você realmente mudar sua visão sobre o mundo em
que vive. Abra seu coração. Você, ela e todo mundo precisam conferir essa fita
e deixar de vez viva uma das premissas mais verdadeira que existem, a de que o
passado é só uma história que nós contamos. Bravo!