Será que o Golpe de 64 poderia ter sido dado em 54? O novo
trabalho do diretor brasileiro João Jardim, que dirigiu o ótimo Amor?, é uma viagem histórica até a
década de 50, onde uma figura taxada por muitos como ditador, enfrentava seus
últimos minutos de vida defendendo com unhas e dentes suas ideias, seus ideais.
Getúlio (que teve a maioria de suas
locações no palácio do Catete, onde o presidente residiu e comandou o país) entre muitas coisas, mostra que temos
um dos melhores diretores de fotografia do mundo (Walter Carvalho) e um dos
grandes atores em atividade, Tony Ramos.
Na trama, acompanhamos os últimos dias de governo do ex-presidente
Getúlio Vargas, tumultuados por grades acusações de corrupção e uma tentativa
de assassinato do jornalista Carlos Lacerda (seu grande inimigo político) pelo
chefe de segurança presidencial Gregório Fortunato. Nesse furacão de
informações, surpresas e dificuldades, o espectador faz uma verdadeira jornada
pelos bastidores da política brasileira pré-golpe militar e pela vida pessoal
de um homem que gravou seu nome na história do Brasil.
Getúlio pegou o trem de Porto Alegre até o Rio de Janeiro para
se sentar no maior cargo deste país. Sua trajetória durou 15 anos, todos esses
sem saber amarrar seus sapatos. O longa-metragem tenta preencher certos
contextos complexos de forma mastigada, trivial para o público, méritos do
roteiro de Jardim e George Moura. Para dar vida a essa figura emblemática de
nosso Brasil, somente um grande ator como Tony Ramos para dar conta do recado.
A elegância, emoção, dedicação e lucidez que o global aplica em seu personagem
causa uma reação instantânea verossímil de empatia desde o primeiro olhar nos
primeiros segundos de fita.
O filme fica em cima do muro em relação a muitos assuntos
políticos daquela época. Isso é, de certa maneira, uma forma inteligente de
dizer ao espectador que os argumentos pesquisados serão apresentados mas quem
define quem foi o certo ou o errado somos nós mesmos. Um exemplo disso é o
quarto poder se manifestando quase que por completo na figura de Lacerda. A
manipulação da informação, levava o povo a apoiar ou desgostar de uma figura
pública a cada nova manchete (fato que ocorre, se bobear de forma bem pior, até
os dias de hoje).
Um ditador que
enfrentou tudo e a todos? Uma figura carismática, aclamada e jogada nos braços
do povo? Um pai e político importante que de repente se viu encurralado por militares?
Acompanhando passo a passo desta rica história, o público chega às suas
próprias conclusões no desfecho. Getúlio
chega aos cinemas brasileiros no dia 01 de maio e merece ser conferido por todo
mundo que ainda acredita que o cinema nacional sempre pode surpreender
positivamente.