“Eu não te amo.” “Eu também tão pouco.” Ouvir esse pequeno
diálogo já causaria certo espanto de qualquer pessoa que preza pelo carinho,
pelo amor. Saber que isso é fruto de uma discussão entre uma mãe e seu filho
causa espanto, causa dor. Vem da Venezuela um dos filmes mais
impactantes dos últimos tempos quando pensamos em relações familiares, Pelo Malo. Dirigido pela cineasta Mariana Rondón, o
longa-metragem venezuelano é uma excursão rumo ao mundo dos sonhos daqueles que
possuem uma realidade dura, cheia de preconceitos. Nesse caso, o sonhar é
viver.
Na trama conhecemos Junior e Marta, filho e mãe que nunca se
entenderam. Junior tem nove anos e acha que tem cabelo ruim, e por isso quer
alisá-lo para sua foto no álbum de formatura principalmente para ficar parecido
com um cantor famoso. O problema é que isso gera mais conflitos com sua mãe,
uma mulher sofrida que sofre por angústias e atos do passado. Quanto mais
Junior tenta melhorar o visual pelo amor da mãe mais ela o rejeita. Até que a
criança é forçada a tomar uma decisão
extremamente dolorosa.
Olhando da sacada do conjunto habitacional onde mora, Junior
observa os vizinhos, brinca com sua realidade e sonha. O jovem tem um inusitado
desejo de se tornar um cantor de músicas dançantes e de cabelo liso. Seus
lapsos de alegria ocorrem quando encontra sua vizinha e quando visita sua avó:
alisando o cabelo, cantando e dançando ao melhor estilo Simonal. O olhar do menino para sua mãe é um olhar de
medo, apreensão, em busca sempre de qualquer tipo de aprovação.
A mãe é uma figura importante na trama. Desiludida com a
vida que leva, recém-desempregada, viúva, parece muitas vezes descontar todas
suas angústias em seu filho mais velho. Ela possui um grande preconceito para
com esse filho (pensa que o menino tem tendências homossexuais), e ao mesmo
tempo que tenta combater esse sentimento, se sente culpada por não poder ser
uma figura materna mais presente na vida dele. A atriz Samantha Castillo está
espetacular neste papel, passa uma frieza absurda e deixa o público com o
sentimento dividido de raiva e pena.
Andando pelas tumultuadas ruas de Caracas, mãe e filho
tentam buscar uma solução para essa relação tão instável. A morte de um sonho,
dá um ponto final emblemático e chocante a essa história, deixando apenas os
créditos finais dizerem, com uma espécie de final alternativo, o quanto crua e
fria pode ser uma relação entre mãe e filho.