O trivial propósito de viver, para alguns, é simplesmente viver.
Dirigido por Uberto Pasolini (calma, ele é apenas o sobrinho do grande
Pasolini), Uma Vida Comum está longe
de ser um filme que estamos acostumados a assistir nos cinemas. Foca na vida de
um homem comum que transborda tristeza em tudo que gira ao seu redor, e isso
meus amigos é a grande chave, o ingrediente nada secreto, que faz desse filme
uma pequena joia rara em meio aos blockbusters debiloides que entram e saem do
circuito de cinema aqui no Brasil constantemente ao longo dos anos. A atuação
do britânico, quase desconhecido por aqui, Eddie Marsan é maravilhosa e eleva a
qualidade desse trabalho.
Na trama, conhecemos o sereno John May (Eddie Marsan). Um
homem que trabalha a mais de 20 anos na mesma empresa, onde exerce a função
inusitada de ser o encarregado de encontrar o parente mais próximo de pessoas
que morreram sozinhas. Meticuloso e detalhista em suas pesquisas, não é visto
com bons olhos pelo restante do departamento. Assim, quando há uma mudança na
estrutura onde trabalha, é demitido mas pede para resolver o último caso que
vai levá-lo a uma viagem de descobertas e amores buscando encontrar um sentido
para sua própria vida.
John May foi construído de maneira genial por Eddie Marsan.
Simples, meticuloso, prático e objetivo, deixa o público perplexo quando entendemos
que ele busca sua maneira de viver a partir do elo de convívio com as histórias
dos falecidos, que volta e meia enchem sua mesa de trabalho. Quando embarca na
transformadora viagem em seu último caso, abre mão da solidão e descobre o
amor. Poético né?
Exibido na 37ª Mostra Internacional de Cinema em SP, Uma Vida Comum se encaixa em um
daqueles casos onde ou você ama ou odeia o filme. É compreensível tais
julgamentos sobre o filme. A lentidão em algumas sequências podem incomodar o
público mas para alguns esse caminho nada mais é do que aproximar o público da
realidade que o personagem vive. A história gira em torno de seu personagem
principal e as mudanças, ou inflexões dele, levam o espectador a diversas
reflexões sobre a própria vida. É um filme muito bonito com um final pra lá de
emblemático.