Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno
carnaval. Escrito e dirigido pelo cineasta parisiense Christian Vincent (Os Sabores do Palácio), A Corte fala sobre a rigidez e postura
de uma alma tímida e sem coragem para amar. Protagonizado pelo excelente
Fabrice Luchini e com uma atuação delicada mas profunda da atriz dinamarquesa
Sidse Babett Knudsen (Depois do
Casamento) o filme deve conquistar o público cinéfilo facilmente. Um dos
fatores mais intrigantes deste trabalho é o fato de ser difícil definir um
gênero para o filme. Alguns vão falar que é um drama leve, outros vão dizer que
é uma quase comédia romântica. O roteiro flutua em diversos gêneros e isso, sem
dúvidas, é um dos méritos deste belo trabalho que compõe a seleção deste ano do
Festival Varilux de Cinema Francês.
Integrante dos seletos filmes do último Festival de Veneza, A Corte conta a história de um
recluso e competente juiz, Michel Racine (Fabrice Luchini), que as vésperas de
mais um júri popular, que deverá julgar um pai acusado de homicídio da filha, reencontra
a enfermeira Ditte (Sidse Babett Knudsen), uma mulher com que o senhor juiz tem
um passado de amor secreto e unilateral. Assim, ao longo dos intensos dias no
tribunal Michel Recine precisará equilibrar toda sua emoção e continuar fazendo
justiça.
O que mais chama a atenção em toda a projeção é o
desenvolvimento do protagonista feito maravilhosamente bem pelo experiente
Fabrice Luchini. O Juiz Recine é odiado por muitos personagens mas com certeza
se torna amado por grande parte do público. O fato do amor renascer em sua
pacata vida leva o personagem a um curto e instantâneo período de transformação
que acaba até melhorando sua vida profissional. Essa questão do amor não correspondido
é muita bem inserida dentro da trama e conta com atuações acima da média para
que a magia aconteça na tela.
A Corte não é uma
história de amor, em muitos momentos é uma história narrada dentro de um
tribunal mas onde essa questão jurídica é totalmente deixada em segundo plano. Os diálogos entre Recine e Ditte são
esplendorosos, conseguimos sentir angústia, ansiedade e muito carinho que brota
entre os dois. A Corte poderia ser
um seriado, daqueles que causam uma boa impressão logo de cara, e esse
longa-metragem seu piloto. Os recortes de gêneros são feitos com muita harmonia
e simpatia. Uma história de amor? Um drama? Um filme de tribunal? Tudo isso e
muito mais neste belo trabalho.