Não quero que pense em mim sem motivos, mas que faça de mim
o motivo dos seus pensamentos. Depois de dirigir o excelente Polissia, quatro anos atrás, a cineasta
e atriz francesa Maïwenn volta para trás das câmeras dessa vez para dirigir um
intenso drama que em pouco mais de 120 minutos de projeção encara a difícil
missão de mostrar a vida de um casal com temperamentos diferentes que quando se
juntam uma série de inconsequências acontece levado ambos a um extremo destrutivo.
Impressionante a atuação da dupla de protagonistas, Emmanuelle Bercot venceu o
prêmio de melhor atriz em Cannes em 2015 por esse papel.
Na trama, acompanhamos a trajetória de Tony (Emmanuelle
Bercot) e Giorgio (Vincent Cassel), um casal que briga mais do que faz amor,
muito por conta do jeito possessivo de ser do segundo. O filme traça e mostra
um paralelo sempre na visão de Tony, onde no primeiro andamento está se
recuperando de uma grave lesão ortopédica e paralelamente vamos conhecer sua
história e todo o começo da relação conturbada com o futuro marido. O público
acompanha de perto todo o trajeto dessa história que emociona e toca profundamente
nossos corações.
São duas visões completamente diferentes sobre o
relacionamento. Georgio é um saudosista da liberdade, da inconsequência, ano
após ano muda muito pouco mesmo que comece a entender melhor o mundo ao seu
redor e sua família. Já Tony é a parte que mais sente todo o desenrolar da
trajetória do casal. Antes uma confiante mulher, começa aos poucos a perceber
que seu marido é um homem desequilibrado que em muitos momentos deixa seu lado
egoísta dominar a relação dos dois. Tony sofre demais, explora suas tristezas
mais profundas e tenta a todo tempo dar a volta por cima (a construção de
desconstrução de Tony é feito com maestria por Bercot que mostra todo seu
talento em cena), contando com a ajuda de seu irmão Solal (Louis Garrel), o
único que percebe logo de cara que Georgio levaria sua irmã ao limite.
O paralelismo que acontece, mostrando duas fases na vida de
Tony é uma das grandes sacadas do roteiro, escrito pela própria diretora e pela
roteirista Etienne Comar. Impressionante como as duas fases se encontram no
final fazendo tudo um grande sentido para o público entender mais profundamente
todas as transformações que passou a protagonista. Meu Rei, que será exibido no Festival Varilux de Cinema Francês
deste ano é uma pequena obra-prima que o cinema francês brinda todos nós
cinéfilos. Bravo!