O ego é dotado de um poder, de uma força criativa, conquista
tardia da humanidade, a que chamamos vontade. Até que ponto a tecnologia irá se
sobrepor nas decisões dos seres humanos num futuro bem próximo? Dirigido pelo
bom cineasta norueguês Morten Tyldum (do excelente Headhunters), um dos primeiros blokbusters de 2017 a chegar no
circuito brasileiro de exibição, Passageiros,
é uma fábula sobre as fragilidades do egoísmo aliada à um poder tecnológico bastante
imaginável nos tempos atuais. O roteiro, escrito pelo nova iorquino Jon Spaihts
(que fez parte da equipe de roteirista de Doutor
Estranho e Prometheus) possui
seus méritos apesar de não envolver o público com a trama como poderia. Além de
preso a clichês hollywoodianos a história beira ao óbvio com protagonistas
pouco inspirados. Um fato curioso é que Andy Garcia parece 10 segundos na fita,
já no fim. Será que terá uma sequência já planejada? Bastante arrojado por
parte dos produtores.
Muitos e muitos anos a frente de nossa geração humana, uma
incrível nave espacial faz um longo caminho pelo universo levando cerca de
5.000 tripulantes para uma nova colônia, um planeta distante bastante parecido
com a nossa Terra. Nessa peculiar invenção tecnológica voadora todos os seres
humanos estão dormindo em câmeras projetadas para acordarem seus respectivos
quando faltaram quatro meses para a chegada nesse novo planeta. Porém, durante
o trajeto, cerca de 30 anos após o início da jornada, um imprevisível acidente
acaba acordando um dos passageiros, o engenheiro mecânico Jim Preston (Chris
Pratt) que acordara cerca de 90 anos antes do previsto. Após passar um ano
aproveitando todas as regalias da nave parque de diversões que está ele começa
a se sentir muito sozinho e com medo de morrer sem nunca mais ter uma interação
com outro humano. Assim, resolve acordar uma passageira, a escritora Aurora
Lane (Jennifer Lawrence) para lhe fazer companhia. Logo surge uma paixonite
entre eles mas segredos precisam ser revelados quase ao mesmo tempo que a nave
em que estão precisa ser consertada com urgência.
Quando você pensa, ao final do filme, em tudo que foi esse
projeto, fica um sentimento de que a ideia era excelente mas foi mal executada
e principalmente se prendeu a vícios hollywoodianos, algo cansativo em vez de
dar o efeito esperado ou simplesmente repetitivo (conhecido também como
clichê). Chris Pratt, um dos protagonistas, tenta envolver o espectador com
todo seu carisma, já visto em outros gigantescos lançamentos nos últimos anos,
mas acaba se perdendo em cena. Quando chega Jennifer Lawrence e sua forte
personagem, o filme parece que vai crescer mas apenas algumas pontas de
brilhantismo conseguimos enxergar nessa fórmula de bolo sem cereja.
Os rápidos momentos de brilho chegam em diálogos entre Jim e
o robô garçom Arthur (interpretado pelo sempre excelente Michael Sheen). Esse
último mostra um certo lado humano dentro da inteligência artificial
implementada um processo cênico bem interessante. As questões vitais
emocionais/existenciais fruto dos pensamentos a longo prazo dos dois pombinhos
protagonistas tem partes interessantes, juntamente com o desfecho dessa
história.
Passageiros estreia
por aqui no Brasil nas primeiras semanas de janeiro de 2017. Mesmo sendo um
filme muito longe da perfeição , você que curte filmes de ficção científica
pode até achar mais pontos positivos do que esse mero cinéfilo que vos escreve.