Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho. Depois de um
hiato de sete anos na direção de um longa-metragem, a cineasta alemã Maren Ade
volta à telona em grande estilo com a hilária e doce dramédia Toni Erdmann. Contando a história de um
pai cheio de impulsos cômicos na busca constante pela atenção de sua sisuda filha,
o projeto, indicado a muitos prêmios internacionais e um dos favoritos para
ganhar o próximo Oscar de Melhor filme Estrangeiro é um daqueles filmes imensos
(2 horas e 40 de projeção) mas que não desejamos que acabe nunca, sempre à
espera da próxima gracinha que Toni Erdmann vai aprontar.
Na trama, acompanhamos a árdua saga de Winfried Conradi (Peter
Simonischek), um dedicado pai que muito se entristece com o distanciamento na
relação com sua única filha Ines (Sandra Hüller), essa última, uma jovem em
ascensão na empresa onde trabalha o que a transforma em uma Workholic sem
limites. O problema é que Ines trabalha demais e pouco tempo de sua agenda é
dedicada à sua família. Quando o o cachorrinho de Winfried morre, ele decide
encarar o desafio de ter mais atenção de sua filha e para isso, entre outras
coisas, viaja para vê-la quando ela está a trabalho e desenvolve um personagem,
um Alter ego de nome Toni Erdmann.
Não é preciso nem dizer as inúmeras e hilárias que esses dois vão se meter ao
longo desse complexo processo de melhoramento na relação pai e filha.
Escolhido o Melhor Filme Estrangeiro de 2016 pelos críticos
de Nova York, um dos sinais de sua provável indicação ao próximo Oscar, Toni Erdmann navega pelo humor para
mostrar o cotidiano de um relacionamento conturbado entre pai e filha. De
personalidades completamente diferentes, os dois embarcam em uma jornada basicamente
de auto descoberta. Aos poucos, após uma quantidade absurda de insistência, Ines
vai conseguindo se reconectar com seu pai, o que provoca uma cena de desfecho
para lá de emblemática. Mesmo tendo quase três horas de duração o que dificulta
sua entrada no circuito de cinema brasileiros, talvez um dos pontos para
nenhuma distribuidora ter ainda comprado os direitos no filme no Brasil, o
filme é uma delícia de assistir e essas horas passam voando.
O foco no primeiro
arco é a personalidade forte de Ines em paralelo as trapalhadas e atos
incompreendidos de Winfried. Tudo começa a fazer mais sentido, praticamente a
virada na trama, quando chega o Sr. Toni
Erdmann, com sua peruca para lá de chamativa e dentes falsos para lá de
explícitos. Esse Alter Ego transforma demais a visão de Ines sobre a
personalidade cativante de seu pai. Assim, o longa-metragem cresce demais em
emoção, o inusitado começa a ter sentido e fica num tom cômico na medida
conforme as antes constrangedoras agora com sentido situações. Toni Erdmann, rouba a cena, transforma
o mais difícil dos conflitos paternos em uma aula de amor e afeto.
O filme, que não tem previsão de estrear no Brasil, ainda é
forte concorrente a alguns prêmios esse ano. Merece todos os prêmios, da
direção ao roteiro e atuações, a produção joga por música, mexe com nossas emoções
e transforma esse filme de quase três horas em algo obrigatório para todos que
amam o bom cinema. Bravo!