Veja os problemas como pequenos milagres que podem
trazer-lhe sabedoria e mudança. Baseada na obra A Long Way Home, de Saroo Brierley (protagonista da história), Lion: Uma Jornada Para Casa é um filme
que comove mesmo com alguns problemas no seu confuso roteiro. Dirigido pelo
cineasta australiano Garth Davis, em sua primeira aventura em longas de ficção,
o filme foi indicado ao Oscar 2017 nas categorias Melhor Filme, Melhor Ator
Coadjuvante (Dev Patel), Melhor Atriz Coadjuvante (Nicole Kidman), Roteiro
Adaptado e Fotografia. Mesmo com essas indicações todas, talvez seja um dos
filmes mais fracos na forte lista de filmes da principal premiação de cinema do
mundo.
Na trama, conhecemos a incrível história de Saroo Munshi (Sunny
Pawar na fase criança e Dev Patel na fase adulta), um menino que com cinco anos
acaba se perdendo de seu irmão mais velho em uma estação de trem na Índia e
acaba vivendo dias intensos fugindo de diversos obstáculos e tendo a sorte de
conseguir encontrar um lar bem longe dali, na Austrália, através da adoção do
casal John (David Wenham) e Sue (Nicole Kidman). Quando mais velho, acende
dentro dele um enorme desejo de reencontrar sua família na Índia e assim, com a
ajuda do Google Earth, consegue bolar um plano para tentar encontrá-los mesmo
que isso mexa demais com sua atual vida e principalmente com seus relacionamentos
com a família e a namorada Lucy (Rooney Mara).
O primeiro arco da fita é muito interessante e nos dá uma
grande base de informações para entendermos parte da incrível história mostrada,
acompanhamos todas as dificuldades e desafios, com muitas pitadas de sorte, que
o jovem protagonista enfrentou até conseguir ser adotado por uma família
australiana. Mas a partir do segundo ato, já na fase adulta do personagem
principal, tudo se confunde, há uma espécie de metáfora embutida em algumas
cenas, um paralelo com as emoções de Saroo, não muito convincentes. Parece que
na segunda parte do filme, o roteiro buscou a fórmula dos blockbusters
hollywoodianos e fez uma grande confusão de referências, além de personagens importantes
praticamente nulos na trama (como o pai e a namorada do protagonista
interpretada por Rooney Mara).
O filme não é ruim, longe disso. Algumas cenas são
comoventes e exploram com muita eficiência toda a emoção que transborda,
principalmente nas diálogos entre mãe e filho, méritos também para as boas
atuações de Kidman e Patel nesses momentos. Mas falta ao roteiro um pouco mais
de informação ao público sobre algumas lacunas que ficam sem respostas. Lion:
Uma Jornada Para Casa, estreia no Brasil nas próximas semanas e pode ser
que agrade boa parte do público. É um filme que fala sobre família, sofrimento,
redescobertas e uma busca constante em encontrar respostas para se seguir em
frente.