A maternidade é um fato, a paternidade é uma incógnita.
Explorado o universo das artes, cortes de arcos citando passagens bíblicas e um
humor para lá de peculiar o experiente cineasta nova iorquino Eugène Green
volta às telonas brasileiras após o ótimo La Sapienza, dessa vez falando sobre
a paternidade e todos os seus caminhos. Ao longo de quase duas horas de
projeção, com direito a curtas aulas sobre artes e ampliando nossa visão sobre
a cultura, Green volta a todo vapor com mais esse belo trabalho.
Na trama, conhecemos o tímido adolescente Vincent (Victor
Ezenfis) que colocou em sua cabeça que quer conhecer o pai. Vivendo com sua mãe
Marie (Natacha Régnier), uma enfermeira que trabalha meio período, Vincent
embarca uma jornada bastante peculiar em busca do paradeiro de seu pai. Nessa
caminhada acaba encontrando por acaso o desiludido Joseph (Fabrizio Rongione),
que por acaso é o irmão de seu verdadeiro pai, assim começa uma amizade
bastante paternal.
A cultura, a bíblia, a alta sociedade, Eugene Green e sua
visão peculiar do planeta dão tons de filme nonsense a essa interessante fita. A
trama inicial se transforma em grandes ensinamentos para o jovem protagonista
que se desenvolve e se constrói através dos poderosos diálogos com Joseph que
bem poderia ser seu pai, mas não é. A questão da decepção acerca de seu
verdadeiro pai, um editor metido, machista e egocêntrico interpretado pelo
ótimo ator Mathieu Amalric, é aliada a chegada de Joseph à trama. Essa
substituição no universo de Vincent o transforma em uma pessoa mais tranqüila acerca
do assunto da paternidade.
Nos arcos inicias, Green busca mostrar o cotidiano de
Vincent, seja com os estranhos amigos que estão em sua rotineira vida, seja com
as dificuldades de expressar seus sentimentos à sua mãe. O roteiro como um todo
é bastante interessante, se transforma em um recorte em forma de analogia com
muitas histórias da vida real mesmo com o método particular ‘Eugene Green’ de
criar uma obra na telona.