Não é a altura, nem o peso, nem os pés grandes que tornam
uma pessoa grande, é a sua sensibilidade sem tamanho. Depois de um hiato de três
anos desde seu último trabalho, o excelente Amantes Eternos (2013), o veterano cineasta norte-americano Jim
Jarmusch volta às telonas com o sensível longa Paterson. O filme, grande sucesso de crítica e público pelos
lugares onde já fora exibido, como em Cannes ano passado, é uma grande jornada
emocional com recheios poéticos onde atravessamos e somos testemunhas de uma
alma quase solitária que busca em seu rotineiro cotidiano, sem grandes eventos,
formas lindas de ver a tão pacata vida.
Na trama, com cortes que vão se segunda a segunda,
conhecemos Paterson (Adam Driver), um simpático e tímido motorista de ônibus
que mora na cidade onde nasceu, Paterson (sim, o nome da cidade também é Paterson),
onde vive uma vida simples com sua esposa Laura (Golshifteh Farahani). O
protagonista tem um hobby que é escrever poesias todos os dias, geralmente com idéias
que chegam para ele pelos papos e personagens diferentes que circulam sua vida
constantemente, entre uma viagem e outra.
Ainda não teve esse ano personagem tão amável quanto esse
motorista que conquista todos nós por sua sensibilidade sem tamanho.
Interpretado com grande maestria pelo ótimo ator californiano Adam Driver (Star Wars: O Despertar da Força),
Paterson, é especial, bom amigo, um homem correto de alma sensível. Expressa seus sentimentos através das palavras,
mesmo essas não tendo som, é escutado de alguma forma pelo universo. Somos
testemunhas ao longo das quase duas horas de projeção de encontros peculiares
com personagens fascinantes, vendo as reações dele quando algo que estava em
seu particular ganhar forma de certa maneira com situações e pessoas. Seu
cotidiano é pacato, quase silencioso, e mesmo assim Paterson transforma sua
vida em um lindo livro cheio de emoções e pensamentos que vão do amor às
grandes forças da natureza.
Sua relação com a esposa, bastante explorada pelo roteiro, é
causadora de pequenos momentos cômicos – muito por conta da excentricidade dela;
seja nas pinturas preto e branco e circulares dos vestidos, das cortinas, das
almofadas, seja nos dois sonhos de ser empreendedora no mercado de cupcakes e ser
uma cantora country de sucesso começando com um violão (das cores que gosta)
que gastou centenas de dólares comprando pela internet. A relação dos dois
possui muito amor e compreensão, Paterson demonstra, às vezes, não gostar de
uma coisa ou outra mas sempre elegante e carinhoso busca as melhores das
palavras para encantar seu amor. Os dois vivem juntos com um lindo cachorrinho
mas levada pra caramba que apronta talvez o mais terrível dos absurdos para uma
alma tão sensível como a do motorista.
Paterson chega
aos cinemas brasileiros no próximo mês de abril. Mais um presente de Jarmusch
para todos que amam as delicadezas que encontramos na nossa forma de amar a vida.
Afinal, como dizia o eterno poeta português Fernando Pessoa, o poeta é um
fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que
deveras sente.