Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade.
Depois de um hiato de quatro anos depois de seu último longa-metragem Gwansang
(2013), o cineasta sul coreano Jae-rim Han volta as telonas com um filme
explosivo que abre feridas bastante expostas sobre a corrupção no submundo
jurídico/político de uma Seul repleta de polêmicas e grandes trocas no poder. The King (Deoking) é um daqueles filmes
onde a adrenalina toma conta de várias sequências, aproximando o espectador de
subtramas repleta de gângsters, chantagens e muita ambição. O filme, que
estreou no oriente em janeiro desse ano, ainda não tem data para desembarcar em
nosso país.
Na trama, conhecemos, em um primeiro momento mais jovem, o
brigão e relaxado Park Tae-su (interpretado pelo ótimo ator In-sung Jo),
nascido na periferia da capital coreana, de família pobre, sendo criado por um
pai trambiqueiro e que sempre arruma uma confusão. Estamos na década de 80 e
aos poucos, via imprensa e por testemunhar seu pai desesperado implorando para
um, cresce um desejo no protagonista em ser um promotor de justiça, cargo
carregado de poder e influência em uma coreia recheado de casos violentos e
corrupção em todos os escalões do poder. Assim, de preguiçoso e brigão, vira um
estudioso intenso e consegue passar para a prestigiada faculdade de Direito se
tornando um promotor. Chegando na nova função, nada do que sonhara (status,
fama, dinheiro e poder) chega rapidamente e depois de insistir em um caso de
abuso de um professor com uma aluna, acaba recebendo a chance de entrar para um
grupo de promotores protegidos comandados por Han-Kang Sik (Woo-sung Jung) que
exalam poder, fortuna e o controle do poder jurídico coreano. Vivendo agora do
jeito que sonhou, acaba tendo também que sentir na pele as consequências de um
lado sujo de sua profissão.
Tudo funciona muito bem no filme. O ritmo alucinante não
deixa nem bebermos nosso refrigerante durante a sessão. Dividido
milimetricamente em arcos poderosos, repleto de cenas com tons de humor
dramático mesclando com dramas violentos, o filme conta em um pouco mais de
duas horas a história do seu protagonista em décadas e toda a corrupção que a
Coreia do Sul vive nesse tempo. O projeto não deixa de ser uma grande crítica
ao sistema coreano mas que também pode ser ampliado a uma crítica mundial do
setor. A troca de favores de pessoas influentes no campo jurídico/político, a
escolha a dedo dos casos, a ligação com bandidos de alta periculosidade, tudo
isso sabemos que acontece em muitas partes do mundo.
O filme tem méritos também por não fugir das
responsabilidades do protagonista, e impor consequências severas pelos anos em
que foi submisso a uma vida de riqueza de bens mas sem uma gota de compaixão
humana. A transformação do personagem chega em torno de vingança, deixando o
último arco com surpresas e cenas sensacionais, de tirar o fôlego. The King (Deoking) , sem previsão de
estreia no Brasil (tomara que alguma distribuidora abra o olho para esse
filmão) é um daqueles filmes que podemos dizer ser um dos melhores trabalhos do
ano.