Ator, produtor executivo, roteirista e cinéfilo. Há mais de
30 décadas vivendo do mundo artístico que ama, principalmente os palcos do
teatro de todo o Brasil, Jorge Caetano
desde os tempos em que viu Fantasia
no cinema, nunca mais abandonou a paixão pelo cinema que ficou mais forte ainda
nos últimos anos quando escreveu e produziu Reviver e Fado Tropical
(esse rodado em Portugal e lançado no Festin em 2019) ao lado do amigo Cavi Borges, além de interpretar um dos
protagonistas em ambas as produções. Para falar um pouquinho sobre essa arte
que tanto amamos, conversamos com esse brilhante artista que tive a honra de
conferir de pertinho na excelente peça Edypop.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Qualquer sala do grupo Estação,
principalmente a de Botafogo. Frequento a rede há mais de 30 anos e há sempre
algum título que me interessa. O bom gosto da programação, somado as memórias
afetivas que carrego de noites incríveis no Estação nos anos 80, torna a sala
especial para mim.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Eu tive a sorte de ver FANTASIA
(1940) no cinema quando eu tinha uns 8 anos. Foi uma experiência
impactante, me iniciei logo com o filme mais experimental de Walt Disney, onde não há uma estória linear,
e sim, 8 músicas clássicas que serviram de inspiração para os animadores. Saí
de lá com a sensação de que para a animação não havia limites para a
criatividade, e que, junto com a música,
poderia nos levar a lugares inimagináveis. E foi nessa época, nos anos 70, quando
o filme foi relançado, no auge das experiências lisérgicas, que ele fez
sucesso. Até um pôster psicodélico - que tenho em meu escritório-, foi especialmente criado para esse
relançamento.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Adoro muitos diretores: Woody
Allen, Kubrick, Almodóvar, Tarantino... Mas Allan Parker, recentemente falecido, marcou minha juventude com o
musical Pink Floyd – The Wall
(1979). Um marco pra mim, pela experiência estética radical e pela forma
original do roteiro. O longa, além de trazer a estória do artista em crise,
trazia o rock do Pink Floyd, a
critica as instituições, animações fantásticas, poucos diálogos e um roteiro
todo fragmentado, porém coeso.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Bye Bye Brasil de
Cacá Diegues. O roteiro, brilhante,
com os três artistas ambulantes
atravessando o Brasil, apesar do ar lúdico, traz uma importante reflexão
sobre a transformação social que ocorria no país, sua “americanização” e o avanço
da TV.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Acho que existem vários tipos de cinéfilos, mas o mais
emblemático é aquele que procura saber tudo sobre seu filme preferido ou seu
diretor favorito. Lê biografias e acompanha os festivais e novos lançamentos.
Geralmente é um colecionador de filmes, e tem muito orgulho de mostrar a
coleção de “títulos raros” ou inéditos no Brasil. Resumindo: é ter paixão pela
sétima arte.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Não, com certeza não.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Acho que nunca. Apesar de todas as crises, o cinema e o
teatro nunca deixarão de existir. Nada se compara a experiência de se ver um
filme numa tela grande, em silêncio, junto ao público. É sempre uma outra
emoção. E sempre haverá o espectador que não quer perder o hábito, e o jovem,
sempre em busca de novas experiências e sensações.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
O Miradouro da Lua,
de Jorge Antônio (1993), a primeira
coprodução entre Portugal e Angola. O protagonista é um estudante de teatro, que
recebe um convite de seu pai, que não conhece, para encontrar com ele em Angola.
Ganhador do Prémio Um Certo Olhar no Festival
de Gramado.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
É bem delicado arriscar qualquer opinião nesse momento. Os
cientistas ainda estão tentando entender o vírus e suas consequências.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Acho que o cinema brasileiro tem se aprimorado bastante.
Apesar da tendência de produzir filmes de fácil degustação, com estética
similar à da TV, o Brasil tem lançado filmes importantes, com grande
repercussão internacional.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Domingos de Oliveira.
12) Defina cinema com
uma frase:
Sonhar de olhos abertos.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Vivenciei uma situação bem inusitada, durante uma sessão
lotada de um filme estrangeiro no Festival
do Rio, no Cine Odeon. As
legendas falharam e durante um bom tempo o filme continuou apenas com o áudio
em inglês. Uma senhora se levantou e repentinamente começou a gritar, exigindo
as legendas em português, porque ela não era obrigada a saber inglês. Ela fez
tamanha confusão, que os espectadores chamaram o segurança, que foi obrigado a
retirar essa senhora da sala à força.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras..
Já ouvi falar, mas nunca assisti. Tenho curiosidade...rs
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não necessariamente. Mas para isso o diretor tem que ser um
daqueles artistas geniais e sensíveis ao ponto de produzir uma bela obra sem
ter nenhuma experiência no assunto. É óbvio que ter uma cultura cinematográfica
razoável é uma grande vantagem para um candidato a cineasta. Mas acredito que
um verdadeiro artista, quando imbuído de força e vontade de criar, é capaz de
realizar algo interessante.