17/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #38 - Jorge Caetano

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Ator, produtor executivo, roteirista e cinéfilo. Há mais de 30 décadas vivendo do mundo artístico que ama, principalmente os palcos do teatro de todo o Brasil, Jorge Caetano desde os tempos em que viu Fantasia no cinema, nunca mais abandonou a paixão pelo cinema que ficou mais forte ainda nos últimos anos quando escreveu e produziu Reviver e Fado Tropical (esse rodado em Portugal e lançado no Festin em 2019) ao lado do amigo Cavi Borges, além de interpretar um dos protagonistas em ambas as produções. Para falar um pouquinho sobre essa arte que tanto amamos, conversamos com esse brilhante artista que tive a honra de conferir de pertinho na excelente peça Edypop.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Qualquer sala do grupo Estação, principalmente a de Botafogo. Frequento a rede há mais de 30 anos e há sempre algum título que me interessa. O bom gosto da programação, somado as memórias afetivas que carrego de noites incríveis no Estação nos anos 80, torna a sala especial para mim.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu tive a sorte de ver FANTASIA (1940) no cinema quando eu tinha uns 8 anos. Foi uma experiência impactante, me iniciei logo com o filme mais experimental de Walt Disney, onde não há uma estória linear, e sim, 8 músicas clássicas que serviram de inspiração para os animadores. Saí de lá com a sensação de que para a animação não havia limites para a criatividade, e que,  junto com a música, poderia nos levar a lugares inimagináveis. E foi nessa época, nos anos 70, quando o filme foi relançado, no auge das experiências lisérgicas, que ele fez sucesso. Até um pôster psicodélico - que tenho em meu escritório-,  foi especialmente criado para esse relançamento.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Adoro muitos diretores: Woody Allen, Kubrick, Almodóvar, Tarantino... Mas Allan Parker, recentemente falecido, marcou minha juventude com o musical Pink Floyd – The Wall (1979). Um marco pra mim, pela experiência estética radical e pela forma original do roteiro. O longa, além de trazer a estória do artista em crise, trazia o rock do Pink Floyd, a critica as instituições, animações fantásticas, poucos diálogos e um roteiro todo fragmentado, porém coeso.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

 

Bye Bye Brasil de Cacá Diegues. O roteiro, brilhante, com os três artistas ambulantes  atravessando o Brasil, apesar do ar lúdico, traz uma importante reflexão sobre a transformação social que ocorria no país, sua “americanização” e o avanço da TV.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Acho que existem vários tipos de cinéfilos, mas o mais emblemático é aquele que procura saber tudo sobre seu filme preferido ou seu diretor favorito. Lê biografias e acompanha os festivais e novos lançamentos. Geralmente é um colecionador de filmes, e tem muito orgulho de mostrar a coleção de “títulos raros” ou inéditos no Brasil. Resumindo: é ter paixão pela sétima arte.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não, com certeza não.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho que nunca. Apesar de todas as crises, o cinema e o teatro nunca deixarão de existir. Nada se compara a experiência de se ver um filme numa tela grande, em silêncio, junto ao público. É sempre uma outra emoção. E sempre haverá o espectador que não quer perder o hábito, e o jovem, sempre em busca de novas experiências e sensações.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Miradouro da Lua, de Jorge Antônio (1993), a primeira coprodução entre Portugal e Angola. O protagonista é um estudante de teatro, que recebe um convite de seu pai, que não conhece, para encontrar com ele em Angola. Ganhador do Prémio Um Certo Olhar no Festival de Gramado.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

É bem delicado arriscar qualquer opinião nesse momento. Os cientistas ainda estão tentando entender o vírus e suas consequências.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que o cinema brasileiro tem se aprimorado bastante. Apesar da tendência de produzir filmes de fácil degustação, com estética similar à da TV, o Brasil tem lançado filmes importantes, com grande repercussão internacional.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Domingos de Oliveira.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Sonhar de olhos abertos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Vivenciei uma situação bem inusitada, durante uma sessão lotada de um filme estrangeiro no Festival do Rio, no Cine Odeon. As legendas falharam e durante um bom tempo o filme continuou apenas com o áudio em inglês. Uma senhora se levantou e repentinamente começou a gritar, exigindo as legendas em português, porque ela não era obrigada a saber inglês. Ela fez tamanha confusão, que os espectadores chamaram o segurança, que foi obrigado a retirar essa senhora da sala à força.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras..

Já ouvi falar, mas nunca assisti. Tenho curiosidade...rs

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Mas para isso o diretor tem que ser um daqueles artistas geniais e sensíveis ao ponto de produzir uma bela obra sem ter nenhuma experiência no assunto. É óbvio que ter uma cultura cinematográfica razoável é uma grande vantagem para um candidato a cineasta. Mas acredito que um verdadeiro artista, quando imbuído de força e vontade de criar, é capaz de realizar algo interessante.