Nosso convidado de hoje é um grande cinéfilo carioca que tem
como um de seus ídolos Elvis Presley. Dono de um texto sobre cinema cheio de
argumentações e inteligentes colocações, Octavio
Caruso é escritor, crítico de cinema, ator, roteirista e cineasta
independente. Sempre com grandes comentários em suas postagens pelas redes
sociais, é polêmico esse tijucano mas sempre em busca da defesa da sétima arte.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Sem dúvida, o Cine
Joia, a minha "casa" enquanto cineasta independente, local que
acolheu meu sonho desde o início. Já virou tradição anual exibir meus curtas
lá.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
O filme que me despertou a paixão foi Ben-Hur (1959), visto em VHS na infância, mas não foi o primeiro
que vi. Eu creio que o primeiro tenha sido Branca
de Neve e os Sete Anões, na sala de cinema, com minha mãe. Todo o ritual me
encantou, a sala escura, a tela gigantesca (aos olhos da criança), foi mágico.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Woody Allen é o
meu diretor favorito por sua produtividade invejável, ele sempre tem algo
relevante a dizer. Gosto muito dele como escritor também, um gênio. O meu filme
favorito dele é Hannah e suas Irmãs,
seguido de perto por A Última Noite de
Boris Grushenko.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
O Pagador de
Promessas, de Anselmo Duarte. Eu
gosto tanto, que meu primeiro texto como profissional da crítica, em 2008, foi
sobre a inveja dos colegas cinemanovistas com a consagração de Anselmo em Cannes. É um roteiro focado, com simbologia, mas emocionalmente
eficiente, uma obra que prova que o maior refinamento é a simplicidade.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É apreciar a arte como algo atemporal, valorizar a memória
cultural, entender que a REVISÃO é fundamental. Quem vê o filme apenas uma vez
enxerga o cinema como um passatempo pueril, facilmente substituível por uma partida
de gamão. O amor urge pelo reencontro. Enxergar a beleza única de cada gênero
cinematográfico, sem preconceito, sem ser raso e imediatista. O cinéfilo
entende o filme como oxigênio, algo existencialmente precioso. Fonte de estudo
e prazer.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
É raro, o Cine Joia
trabalha assim, curadoria é importante, mas na maior parte atendem somente o
público mainstream, qualquer animal adestrado poderia fazer o mesmo trabalho.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Sem ritual, a arte perde relevância, creio que o cinema
sempre irá se reinventar, sem perder o essencial.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Toda semana descubro pérolas obscuras, vou citar uma que vi
recentemente, Tatuagem, com o Bruce Dern e a Maud Adams.
9) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Durante décadas, qualquer projeto que não atendesse a
cartilha progressista não era sequer considerado, eu vivi isso na pele quando
tentei produzir uma websérie anos atrás com o Carlos Miranda, o eterno
"Vigilante Rodoviário". O esquema refletia nos temas abordados e na
qualidade dos trabalhos, uma indústria encabrestada não evolui. Há guerreiros
na seara independente, mas vai demorar muito tempo para que consigamos reverter
décadas de aparelhamento estatal.
10) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Atualmente, difícil. Vejo todos, mas não me sinto
emocionalmente atraído (no sentido da pergunta). A minha paixão é rever os
grandes do passado, Humberto Mauro, José
Mojica, os filmes da Cinédia, Vera
Cruz, Atlântida. Troco qualquer produção nacional atual por uma comédia com
o Mazzaropi.
11) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é vida.
12) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Eu vivi algumas curiosas como crítico, em exibições para
imprensa, como por exemplo, um colega veterano dormindo a sessão inteira de um
filme do Cláudio Assis, mas dando
nota máxima em seu texto (rs), tudo para agradar a "companheirada".
13) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
O resultado fraco do trabalho de uma equipe criativa que
tentou, como todas, o seu melhor.
14) Você é um grande
fã do Elvis Presley. Quais filmes você indicaria dele?
Sim, fui curador em uma mostra de filmes dele no Cine Joia, cantei seu repertório antes
de cada sessão. Eu indico Balada
Sangrenta, O Prisioneiro do Rock,
Louco por Garotas, Viva Las Vegas, Estrela de Fogo e Viva um
Pouquinho, Ame um Pouquinho.
15) Além de ser
crítico de cinema você é ator, diretor, roteirista. O cinema é a sua vida? Você
sempre recebeu o apoio de amigos e familiares para seguir nessa carreira do
audiovisual?
Sim, eu produzi de forma independente 6 curtas até o
momento, selecionados em festivais de Portugal (Figueira Film Art e FESTin). Eu
respiro filmes e livros desde pequeno, o título do meu primeiro livro, lançado
em 2013, é Devo Tudo ao Cinema, nem
preciso dizer que o cinema é minha vida. Não recebi apoio, porque durante muito
tempo neste país, trabalhar com arte (sem berço de ouro, sem grana) era
equivalente à querer ser astronauta. Não há artistas na minha família, então
não foi fácil para meus pais entenderem minha opção profissional. Hoje, mudou
bastante, a internet possibilita uma democratização nesta área.