Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a
comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um
humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando
para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da
sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo
ou não.
Nosso convidado de hoje é o que podemos chamar de bíblia cinéfila. Carioca de Bonsucesso, do Morro do Adeus, formado pela UFRJ, Rodrigo Fonseca completa 20 anos como crítico de cinema em 2020. Roteirista da TV Globo, escreveu o programa dos Trapalhões e o Encontro da Fátima Bernardes, além de ter sido pesquisador das séries Segunda Chamada e Sob Pressão. É autor do Blog P de Pop do Estadão e escreve críticas pro site C7nema.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Espaço Itaú e UCI Norte Shopping. Ambas são pautadas pela
diversidade e pela qualidade da projeção. O mesmo vale pro Cine Joia.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Os Trapalhões no
Reino da Fantasia, em 1985, em Olaria.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Paul Thomas Anderson,
Sofia Coppola e Christopher Nolan
são a minha trinca favorita, seguidos por Fatih
Akin e Beto Brant. Meus xodós: O Mestre, Encontros e Desencontros e Dunkirk, seguidos por Do Outro Lado e Ação Entre Amigos.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Bar Esperança, O
Último Que Fecha, do Hugo Carvana,
pois nunca uma estética foi tão política quanto a amizade.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É imergir na imagem, sonhar com ela e usar o espaço de
transcendência das telas como lugar de revolução.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Nem de longe. Raras são as salas que tem uma programação com
curadoria, seja numa linha de risco, seja numa onda mais comercial. O Estação
Botafogo e o Espaço Itaú são belas exceções de excelência.
7) Algum dia as salas de cinemas vão acabar?
Jamais, pois a cultura da cinefilia é autorregenerativa. A
necessidade da troca, o sentimento do coletivo... Isso é maior do que qualquer
aposta na acomodação caseira. Vamos ter um boom da streamingosfera. Mas os
espetáculos fílmicos à lá Bohemia
Rhapsody sempre vão mobilizar a massa.
8) Indique um filme que
você acha que muitos não viram mas é ótimo:
O Príncipe, de Ugo Giorgetti, e Coisas Para Se Fazer Em Denver Quando Você Estiver Morto, do Gary Fleder.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Desde que haja um sistema de segurança que respeite os
protocolos. Tenho muito orgulho da cultura do drive in que voltou à baila. Foi
uma reação vívida de sociabilização. Espero que as grandes estreias estejam
nesse rodízio também. Mas tomara que as salas se regulem logo com normas de
segurança adequada. O respeito aos protocolos é uma essencialidade. Saúde,
saúde, saúde.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Um país que gera um Bacurau,
que toma a Berlinale de assunto com um bonde de longas, que tem uma cineasta da
ousadia da Sabrina Fidalgo quebrando
paradigmas e que tem documentaristas como Susanna
Lira, Petra Costa, Emília Silveira e Joel
Zito Araújo desafiando as convenções do Real só pode se sentir honrado de
existir. De quebra existe um poeta do desenho como Marão fazendo seu primeiro longa. É nóis.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Vou responder essa citando um filme... o filme brasileiro
mais dilacerante e provocador que vi em muito tempo: M8: Quando a Morte Socorre a Vida, do Jeferson De. O que a Mariana
Nunes faz ali é de lavar a alma.
12) Defina cinema com
uma frase:
"O Bem vence o Mal,/ Espanta o temporal,/ O azul, o
amarelo,/ Tudo é muito belo".
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Estive na sessão de Cruising
(Parceiros na Noite) em Cannes e
ouvia uma risada compulsiva atrás de mim, de alguém que ia a júbilo com o
filme. Era o Tarantino, de mãozinha
dada com a namorada.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Laroiê!!