26/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #60 - André Gevaerd Neves

O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é produtor cultural com experiência de duas décadas na indústria audiovisual. Criador e programador do ótimo Cineramabc Arthouse em Balneário Camboriú – SC, André Gevaerd é um grande cinéfilo e uma das mentes mais criativas no mercado exibidor nacional. Para nos contar um pouco sobre sua paixão pela sétima arte, convidamos esse querido cinéfilo à responder nossas perguntas!

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Tenho que dizer que é a Arthousebc, que além de ser a sala que idealizei e cuido da programação, é a única que exibe filmes autorais, independentes, europeus, brasileiros que são lançamentos e também grandes clássicos e alternativos.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Essa pergunta me transportou para muitos momentos em salas de cinema, mas o que fala mais alto foi a cópia restaurada de A Batalha de Argel no Espaço Itáu de Cinema… e claro, qualquer sessão que tive o prazer de ter participado no Astor, que era um prazer só o ato de entrar na sala.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Difícil escolher um, mas se é preciso, vou pelo meu clichê: Ridley Scott - Blade Runner.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tem um filme brasileiro, que me faz não acreditar muito na história que nos é contada sobre nossa cinematografia, ou ao menos o que nos é contado. Na minha opinião A Culpa de Domingos Oliveira, deveria ser uma obra obrigatória.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É se jogar para dentro de uma narrativa e ainda ser capaz de buscar reflexão sob a luz da projeção.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Jamais foi assim.

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Verão Lá Fora, de Friederik Jehn.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Cada vez mais abrangente e melhor.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Beto Brant.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Um filme é só um filme.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Em uma viagem ao Festival de Locarno, quando voltava ao Brasil e fazia um pit stop em Milão, tive uma ótima ideia, ir a uma sala de cinema de rua em pleno feragosto (época do ano em que os Milaneses estão todos de férias e a cidade fica bastante tranquila). Escolhi fazer uma caminhada e ir assistir um filme polonês do qual não tinha nenhum conhecimento, era Ida que viria a ganhar o Oscar. Chegando a esquina, pequena e simpática, onde ficava a sala de cinema, notei que não havia nenhum outro cinéfilo nas redondezas, ainda assim fui em direção ao caixa e pedi meus ingressos. O senhor que me atendeu logo falou que se não aparecesse outro cliente, não faria a sessão. Pensei: simpático ele. Esperei e para minha sorte, um minuto antes da sessão aparece um casal, segurando sacolas de supermercado, e também compraram ingressos. Ufa, a sessão estava garantida. Entro e me posiciono na parte da frente da sala e o casal fica ao fundo. O filme começa, o primeiro estranhamento foi escutar os personagens austeros, poloneses, socialistas, falando um estridente italiano mal dublado, mas em muito pouco tempo isso virou apenas um detalhe e se revelou um grande filme. O tempo passa. Lá pelo meio do filme começo a ouvir um barulho, cada vez mais alto. Um cheiro forte domina a sala. Era o casal… eles estavam devorando uma grande ave, poderia ser um frango inteiro, só que mais parecia um peru de natal… Foi um choque. Demorei alguns minutos para entender o que estava acontecendo. Pensei que não ia conseguir continuar vendo o filme, mas rapidamente fui sugado para dentro da narrativa. O filme acaba, espetacular. Sigo para a saída. O casal não estava mais lá. Alguns meses depois o filme foi indicado e depois venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro. Merecido.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras…

Oxênte!

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Do pouco que vi nessa vida, minha tendência é acreditar que tudo é possível. Acredito que para algumas pessoas que procuram o caminho da direção para uma carreira profissional isso não é uma obrigação afinal a inspiração, estilo, tema, podem ter origem em outros elementos, que não o cinema.