Quando começou essa fase louca de nossas vidas em 2020, acredito, que ninguém esperava um impacto tão grande em nosso cotidiano. Uns estão conseguindo se recriar como pessoas, outros piorando como ser humano...alguns nem aí. Nenhum cinéfilo pensou algum dia que todas as salas de cinema do planeta fechariam suas portas por conta de uma epidemia que só fora visto algo parecido naqueles filmes tensos de infecções generalizadas ou até mesmo nos filmes de zumbis que sempre aparecem ano após ano. Algumas pessoas enlouqueceram ao ponto de virarem corajosos guerreiros virtuais apontando dedos e não respeitando a opinião dos outros. A indústria cinematográfica em completo caos, somado, aqui no Brasil, a um governo que parece ter riscado cinema ou qualquer arte de suas prioridades. Ah! Mas tem os streamings, mas é a mesma coisa? Tudo muito confuso, tenso e cheio de discordâncias. Mas aqui vamos tentar falar um pouquinho daquele sentimento gostoso de sentar em uma sala de cinema e ver um filme e o que quanto isso faz falta em nossos dias tão nublados.
Qual o impacto para alguém que ama estar em uma sala de cinema
muito por conta do seu impacto calmante? O que fazer sem sua dose certeira de
um certo oásis em meio caos diário de nossas rotinas repletas de emoções? Não
dá pra descrever! Anos 90 sem a banda Raça Negra, Nicolas Cage sem filmes
ruins, a banda Roupa Nova sem fazer parte de trilha de novelas... estar sem
cinema hoje é tão enlouquecedor quanto pensar nesses paralelos verdadeiros. Para
os mais intensos cinéfilos, a falta das salas de cinema está fazendo muito mal.
Bravuras políticas, invejosas, ou não, nunca vistas em suas realidades antes
aparecem pelos meios perigosos e as vezes sombrios das redes sociais onde se
tornou nessa pandemia em um imenso faroeste onde atiram frases soltas sem
remetentes tentando mirar quem veste a carapuça para assim se começar brigas
que poderiam nem se iniciar caso o respeito pela opinião do outro fosse respeitada.
A verdade nesses casos, é que esses valentes da internet que transmitem gostar
e entender mais de cinema do que os outros são na verdade pessoas tristes que
sentem falta de sua forma de sonhar, a tela enorme de um cinema. Ali, numa sala
de cinema, a cada interpretação que faz do que acontece na tela, vira um
reflexo do pensar, acalma, isso acaba sendo um antídoto contra babaquices em
uma zona virtual. Sem o antídoto, já viram né...vira loucura. Mas o cinema é
democrático, até gente chata pode gostar dele.
Me solidarizo com os profissionais audiovisuais que estão
sem trabalhar, ou que vivem de alguma forma dessa indústria que entrou em um
quebra-cabeça complicado de resolver. Ver seu ganha pão acabar de uma hora para
outra é angustiante. Mesmo sabendo que muitos da alta gerência, que tomarão decisões
sobre reaberturas e tal, passam longe de gostar de assistir a um filme numa
sala de cinema. Anos atrás, quando entrei nessa indústria cinematográfica com a
força e vontade de um amante da sétima arte em mudar toda uma dinâmica, percebi
logo que são poucos os que entendem e amam cinema a ponto de quererem mudanças profundas
em uma indústria dominada por grandes empresas. Alguns dos que amam cinema
realmente e trabalham nessa indústria, tem medo de represálias por expressarem
opiniões ou quererem mudanças, isso ficou óbvio com o desespero, a meu ver
precipitado, no movimento dos exibidores em abrirem as salas de cinema, com
venda de comida, em um mundo ainda sem vacina.
E os streamings? Netflix, Amazon, Mubi ou qualquer outra
ótima ferramenta dos novos tempos NUNCA irão substituir assistir a um filme em
uma sala de cinema. Seja ela qual for e do tamanho que for. A mágica existe
dentro do cinema, os filmes são feitos pensando em serem exibidos naquela
imensa tela (mesmo poucos conseguindo a façanha). Os streamings são
complementos, janelas secundárias que uma corrente que vem crescendo rapidamente
luta para torná-la muito competitiva com a sala de cinema o que de fato deve
acontecer em breve, fator que vai reduzir demais as salas que temos.
Com toda essa loucura espalhada para qualquer pensamento que
tenhamos, inclusive pra mim, escrevendo esse texto às quatro da manhã após
acordar de um pesadelo que mais parecia um filme, uma coisa é certa: seja
chato, valente das redes sociais, gente boa, coração bom, coração triste e
outras combinações de emoções que você tenha ou possa futuramente ter, nós
cinéfilos, estamos todos nos sentindo presos, olhando para uma ampola cheia de ajustes
nas regras sociais, higiênicas e médicas, contando os minutos para nos
encontrarmos com nosso refúgio mais próximo do sonhar. Mesmo cheios de
propagandas insuportáveis, que inclusive cortam as possibilidades de serem
exibidos curtas antes dos filmes (era lei isso não?), mesmo com algumas programações
feitas por pessoas que não conseguem adequar cinema de qualidade com o
capitalismo necessário e insistem na robótica de abocanhar o mercado sem
qualidade e nenhum pingo de criatividade, uma sala de cinema sempre será o
nosso lugar preferido. Seja ela qual for.