O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, escritor, roteirista
e crítico de cinema. Cadu Moura é
autor de dois livros - Descobrir Filmes
- Um Guia de Filmes Pouco Lembrados de Grandes Diretores (2018) e Guia dos Mochileiros do Cinema - os
melhores filmes sobre qualquer assunto” (2020), além de colecionador de
filmes em DVD e blu-ray, com acervo de mais de 2 mil filmes.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Estação Botafogo,
pois foi lá que eu realmente comecei a abrir minha mente para cinemas para além
do circuito hollywoodiano que ocupa a maioria de nossas salas.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Mesmo não sendo uma das minhas primeiras experiências no
cinema, acho que ver Cabo do Medo
com meu pai no saudoso Condor Copacabana
foi a primeira vez que deu um estalo e entendi o papel da sala na minha
experiência. Tinha dez anos e provavelmente aquele foi o primeiro “filme
adulto” que vi no cinema (mas antes já tinha visto outros filmes do perfil
sempre com meu pai, via VHS).
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
É a pergunta que o cinéfilo mais sofre para responder, e sou
dos que acham que esse nome muda sempre. Então digo que, atualmente, meu
cineasta predileto é o Robert Altman,
e meu filme preferido dele seja Nashville.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Eles Não Usam
Black-Tie, do Leon Hirszman.
Pela temática política da conjuntura, e como isso se relaciona na relação de
pai e filho, um tema recorrente para mim por motivos sentimentais.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Parece genérico, mas acredito que seja gostar de cinema. Mas
gostar mesmo, de tudo, sem dividir, questionar gostos adversos ou colocar seu
gosto intocável para opiniões alheias. Até porque o cinema cresce muito com os
debates, como qualquer outro braço da cultura, e gostar de cinema para mim
inclui aceitar essa diversidade e ter maleabilidade para acessar tudo.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Sim, porém acredito que as prioridades na programação não
passam por curadoria e sim por retorno comercial, e o próprio mercado da forma
que é regulado e organizado justifica isso.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Não, mas com certeza será algo muito nichado. Por diversos
motivos acho que as novas gerações cada vez menos associarão o cinema a uma experiência
bacana de entretenimento ou cultura. Pelo que a tecnologia oferece a eles, e
pelo nível de concentração que eles não possuem e não são estimulados a ter,
formando uma geração meio disléxica, pouco interessada em conteúdo e mais em
atrativos sensoriais mesmo que vazios.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Vou indicar o mais recente que vi, para me facilitar: Walker – Uma Aventura na Nicarágua
(1987), de Alex Cox (mesmo diretor
de Sid e Nancy e Repo Man). Uma verdadeira aula de
comédia sobre o imperialismo norte-americano e como o discurso liberal serve de
ponte para regimes autoritários.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
De jeito nenhum. A razão vem sempre antes da paixão.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Enquanto as políticas de sustentabilidade vigoraram, estava
ótima. Dava gosto ver tanta diversidade de cinemas no nosso país, com o
regionalismo bem presente e orgulhoso de si. O cinema nordestino contemporâneo
nos lembrou que a origem do Cinema Novo veio de lá também, a população cinéfila
é sem memória assim como o povo brasileiro em geral.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Já foi o Beto Brant,
mas atualmente está sendo o Cláudio
Assis.
12) Defina cinema com
uma frase:
Vamos de Welles:
“O cinema é um fluxo constante de sonhos”
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Foi na cabine de imprensa do ótimo filme canadense Antologia da Cidade Fantasma, onde no
início do último ato a tela começou a ser tomada por uma tela verde que ia
ocupando a tela até não conseguirmos mais ver nada do filme, e aí do nada o
nosso colega e amigo Mario Abbade
levantou e se dirigiu à sala de projeção e literalmente pegou o problema nas
mãos e resolveu, voltando o filme ao ponto que começamos a perder a imagem e
ver da forma apropriada. Acho que foi minha única experiência de autogestão
numa sala de cinema.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Cinema popular.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acho uma importante qualidade para incrementar sua visão e
criatividade através de boas referências, às vezes pouco conhecidas e que seu
filme pode ser um veículo de aprofundamento ao espectador. Para mim não existe
um bom contador de histórias que não conheça várias boas histórias, referencial
é tudo na busca pela evolução.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Essa resposta é tão difícil quanto escolher o melhor, então
vou citar um péssimo filme visto recentemente: Incendiário (2008).
17) Qual seu
documentário preferido?
Cabra Marcado Para
Morrer (1984), de Eduardo Coutinho.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Apenas mentalmente.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Coração Selvagem (1990),
de David Lynch.