04/10/2020

Crítica do filme: 'Inhebek Hedi'


Não há prazer em fazer aquilo que você não gosta. Escrito e dirigido pelo cineasta tunisiano Mohamed Ben Attia, estreou no circuito brasileiro anos atrás o ótimo Inhebek Hedi que aqui veio a tradução de A Amante. Ao longo dos cerca de 90 minutos de projeção, acompanhamos uma certa jornada pela solidão, percorrida pelo infeliz protagonista que acaba ganhando a chance de voltar a sorrir por conta de um verdadeiro amor. Fugindo dos clichês sobre cultura e tradição, o foco do roteiro é inteiramente na construção profundo de um impactante personagem principal. Um belo trabalho que foi exibido no Festival de Berlim em 2016.


Na trama, conhecemos Hedi (Majd Mastoura) um representante de vendas da Peugeot que vai se casar (em um casamento arranjado) com uma mulher que fala várias noites em seu carro, escondido de todos. Filho não favorito, se sente abandonado em seus desprazeres por uma vida toda comandada pelos objetivos da família, como marionete de sua mãe. Certo dia, após ser enviado a uma região onde precisa ficar hospedado em um hotel, acaba conhecendo Rym (Rym Ben Messaoud) uma carismática funcionária do lugar. A partir desse encontro, o protagonista precisará passar por escolhas que envolvem a todos ao seu redor.


O amor interrompe as barreiras não só da timidez mas dos sonhos. É bonito de assistir a forma como isso é mostrado no filme. Triste e perambulando dentro do seu carro, Hedi passa por uma desconstrução até a chegada de seus melhores momentos. No início não tem autonomia para nada em sua vida, as expressões do personagem dizem várias coisas, são entrelinhas óbvias e bastante nítidas. A arte sempre esteve presente em sua vida através dos desenhos que faz, praticamente expressa suas emoções para poucos através das imagens que produz. Quando resolve buscar sua própria história, mesmo ainda preso e em dúvida por conta das tradições, se arrisca e o filme ganha contornos de escolhas onde do lado de cá da telona ficamos torcendo para um final feliz. Mas o que seria um final feliz né?


Há tanto guardado dentro do protagonista que a cena impactante num dos diálogos com sua mãe, já em um dos arcos finais é de uma força impactante, fruto também da atuação primorosa do ator tunisiano Majd Mastoura. Um belo trabalho que merece ser conferido por todos que gostam de boas histórias.