A guerra no pensamento e a pátria no coração. Em seu segundo longa-metragem como diretor, o moçambicano João Nuno Pinto encontra dentro de uma fórmula de um roteiro não-linear, fragmentado, para contar o começo, meio e o fim de uma jornada inclusa dentro de uma guerra que encontra pelo caminho o medo, as incertezas e figuras que fazem o protagonista pensar sobre a própria existência. Mosquito passa pela dura realidade da guerra e termina dentro de lições em busca de uma dignidade. Nos sentimos dentro de uma poesia embaçada, explicando as mais diversas formas de ativação do espírito de sobrevivência. Um trabalho muito interessante que provavelmente não chegará ao complicado circuito exibidor brasileiro. Um belo trabalho, sem dúvidas.
Na trama, conhecemos o soldado Zacharias (João Nunes Monteiro) que por vontade
própria se alista no exército português e assim é enviado a Moçambique, na
África, com a missão de defender a colônia portuguesa da invasão alemã. Seu
pelotão acaba o abandonando porque o protagonista contrai malária. Esse se cura
e resolve de maneira inconsequente ir atrás do seu pelotão que está a dias na
sua frente. Enfrentando vários tipos de problemas e esbarrando com muitas
pessoas, há momentos de silêncio e solidão onde o protagonista precisará
encontrar forças para lutar contra sua mente e invocar assim um espírito de
sobrevivência. O roteiro de Mosquito
é baseado na história real do avô do diretor, que foi um dos soldados mandados
a Moçambique na guerra.
Os diálogos se tornam rodadas construtivas sobre inflexões
da vida e indagações sobre, desde já, um presente incerto. O fator fé chega
forte nos momentos de perda da razão. Há um mix de elementos interessantes que
contornam esse drama camuflado de filme de guerra (poucos tiros são disparados
inclusive) em um grande espetáculo visual. Filme feito para ser visto em salas
de cinema, com certeza a experiência que produz será ampliada, pena que nesse
ano de 2020 nossa única oportunidade de conferir esse é pela ótima programação
da Mostra SP. Uma pergunta importante seria sobre o mercado audiovisual por
aqui. Porque filmes portugueses (ou de países co-irmãos de mesma língua da
nossa) insistem em não chegar no circuito exibidor brasileiro? É falta de olhar
dos distribuidores? Temos sempre que aguardar um festival que role por aqui
para termos acesso.
Atualização (03.11): um amigo disse que o filme tem distribuidora no Brasil. Tomara que essa consiga a janela cinema para esse bom filme. Vamos torcer.