O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevista de hoje é cinéfila, brasileira, paulista,
mas que mora em Los Angeles. Júlia
Câmara é uma escritora, roteirista e cineasta brasileira. Trabalhou por
anos como tradutora de português para legendagem de filmes e televisão. Ela
escreveu e dirigiu vários curtas-metragens premiados. Em 2018, Júlia fez sua
estreia na direção de longa-metragem com o filme experimental In Transit, filmado quase todo em um
dia e com diálogo improvisado. O filme ganhou o prêmio de Melhor Filme
Experimental em quatro festivais diferentes.
Júlia também escreveu o filme de ficção científica Área Q, estrelado por Isaiah Washington, Murilo Rosa e Tania Khalill,
o filme de estrada Angie (Open Road), estrelado por Andy Garcia, Juliette Lewis, Camilla Belle, Carol Castro e Christiane Torloni, e o premiado filme de ficção científica Habitantes (Occupants), estrelado por Robert
Picardo da série Star Trek: Voyager).
Habitantes foi selecionado em mais
de 150 festivais de cinema em todo o mundo e ganhou mais de 100 prêmios,
incluindo o Telly Award pelo
roteiro.
Júlia ensina criação de roteiro na UCLA Extension. Em Abril de 2020, Júlia começou oferecer o
novíssimo curso Inclusive Screenwriting,
que tem o objetivo de facilitar o desenvolvimento de histórias sobre grupos
marginalizados pela sociedade.
Os artigos de Júlia sobre roteiros e cinema podem ser lidos
no blog WeScreenplay, Luz Collective e
nos arquivos do site Ms. In The Biz.
Em 2020, Julia publicou o eBook That’s What She Wrote (Foi o
Que Ela Escreve), o livro é uma coleção de entrevistas e matérias sobre a
criação de roteiros e a indústria de cinema.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Eu tenho várias salas que adora por motivos diferentes.
Apesar de não ir ao cinema há mais de sete meses devido à pandemia e os cinemas
continuarem fechados aqui em Los Angeles. Minha única experiência com cinema
desde março foi um drive-in no qual levamos a minha filha de 6 anos pra curtir
o filme infantil.
As salas que eu gosto aqui na minha vizinhança de Los
Angeles são: O Archlight em Downtown
Culver City, o AMC em Howard Hughes
e Landmark na Pico Boulevard.
Eu sinto um carinho especial pelas salas que já passaram
filmes em que eu trabalhei. Estes cinemas também costumam passar filmes
independentes assim como os filmes dos grandes estúdios.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Com certeza todas as minhas experiências dentro de uma sala
de cinema moldarem a minha visão do mundo e meus sonhos para o meu futuro. Eu
não acabei aqui em Los Angeles por acaso. Não sei se existe um momento
específico em que me apaixonei pelo cinema, mas tenho muitas memórias ótimas de
passar grande parte da minha infância dentro de um cinema.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
No meu caso é uma diretora! Ava Duvernay. Ela já faz vários filmes maravilhosos, mas um dos
meus favoritos é o primeiro filme que ela fez chamado I Will Follow. Muito bem feito com pouco orçamento. Um drama
sensível sobre uma mulher lidando com a perda de uma pessoa querida e começando
uma nova fase da vida.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Um dos filmes nacionais que mais me marcou foi Que Horas Ela Volta?. Achei o filme
super honesto e sensível. Mostra bem a realidade do conflito de classes sociais
no Brasil.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Ser cinéfilo é trocar qualquer outra atividade por um filme.
Ser cinéfilo é esperar até o filme acabar para ir ao banheiro porque você não
quer perder nem um segundo do filme. Ser cinéfilo é assistir um filme e
analisar a história, roteiro, atuação, direção ao mesmo tempo.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Não, o cinema é uma indústria. As salas são programadas
depois de várias negociações são feitas entre estúdios, distribuidores, e
gerentes. Praticamente nada dessa negociação inclui a arte do cinema ou o
mérito do filme. É sempre a respeito de quanto de bilheteria o filme está
lucrando e por quanto tempo vai poder ficar naquela sala. Coisas como prêmios
(Oscar ou outro assim) influenciam isso pois sempre que um filme ganha algum
prêmio ganha também mais atenção e publicidade.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
A pandemia colocou várias redes de cinemas em risco de
falência, mas o fato dos cinemas drive-in terem entrado com tudo para ocupar o
espaço deixado pelas salas de cinema me diz que sempre vai existir alguma
versão de cinema.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
O primeiro filme da Ava
DuVernay que falei acima, I Will
Follow.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não. Mas eu sou uma das pessoas que está completamente
isolada há mais de sete meses. Eu só tenho contato com as pessoas que moram na
minha casa e mais ninguém. Acho que um risco desnecessário no momento.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
O cinema Brasileiro está sempre crescendo. Quanto mais
filmes nacionais, maior o mercado e maior fica a vontade da plateia de ver
coisas novas feitas pelo nosso talento nacional.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Tem muitos que admiro.
12) Defina cinema com
uma frase:
O cinema é um lugar onde tudo é possível e não existem
limites.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Me lembro de ir ao cinema nos anos 90 e a sala estar tão
lotada que as pessoas estavam sentadas na escada e no chão na frente da tela.
Coisas que cinemas não podem fazer hoje por regras de segurança em caso de
incêndio, mas que na época o pessoal adorava. Melhor do que perder a sessão.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras…
Não vi o filme. Não tenho o que dizer.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não confie em um diretor ou diretora de cinema que não ame o
cinema. Não faz o menor sentido você simplesmente não amar esta arte. Eu só
comecei a fazer cinema porque amava assistir filmes e queria ver os filmes que
existiam só na minha cabeça. Pra mim, se você não é absolutamente obcecado com
cinema deve fazer outra coisa como profissão.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Nossa, já vi muitos filmes que não são muito bons. Mas o que
eu sempre digo é que ninguém decide fazer um filme ruim, isso simplesmente
acontece. E sabendo o quanto é difícil fazer qualquer tipo de filme, sempre
aplaudo qualquer pessoa que tenha conseguido completar um projeto de cinema.
17) Qual seu
documentário preferido?
Absorvendo o Tabu
é um dos meus favoritos.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, algumas vezes sim. Mas só costumo fazer isso em uma
sessão em que os cineastas estão presentes. A minha fazia sempre isso quando eu
era criança e ía ao cinema com ela, e eu morria de vergonha. Anos depois, eu já
adulta, a levei para uma sessão em que os cineastas estavam presentes e as
pessoas aplaudiram no final. Ela ficou super confusa. Acho que a diferença é
mostrar às pessoas envolvidas em fazer o filme que você admira e respeita o
trabalho delas.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
The Family Man (Um Homem de Família) é um dos meus
favoritos que ele já fez.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Eu leio Hollywood
Reporter, Deadline e Variety.