03/02/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #266 - Rodrigo Huagha


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Brasília. Rodrigo Huagha é produtor audiovisual. Produziu curtas e longas de ficção, buscando realizar produções de baixíssimo custo, testando técnicas e a utilização de aparatos audiovisuais de fácil acesso e descomplicada finalização. Tem produções selecionadas para mostras e festivais nacionais e internacionais como Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Curta Cipó BH, Fantaspoa - Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, Mostra Sesc Cinema, BARS - Festival Buenos Aires Rojo Sangre,  MOTELX - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. Cocriador em 2010 da Websérie - Domingo. Produtor de quatro longas metragens; O projeto “O céu perdeu a cor” iniciou sua carreira em festivais em 2020, prêmio da crítica de melhor filme no Festival de Cinema de Caruaru, selecionado no V Ficca – Festival Internacional de Cinema do Caeté e Mostra Online do Aniversário de Brasília.  Também produziu os dois longas da série ‘A Capital dos Mortos’ que obteve ampla repercussão no mercado audiovisual independente de cinema de gênero, lançado comercialmente em alguns países e exibição em streaming e tv a cabo no Brasil.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Aqui em Brasília ainda resiste um incrível cinema de rua Cine Brasília, São quase 700 lugares e uma tela enorme. Espaço que acontece os principais festivais da cidade e um dos maiores e antigos do Brasil, festival de brasília do cinema brasileiro.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu sou da geração que assistia -durante as férias de meio e fim de ano - o cinema dos trapalhões, xuxa, angélica e trupe de artistas dos mais diversos. Passava férias no Rio de Janeiro e tive o privilégio de frequentar cinemas importantes daquele local, principalmente o Roxy em Copacabana. Que lugar incrível. Ainda hoje, quando tenho oportunidade passo por esse local. Respondendo sobre o primeiro filme nos cinemas que assisti, lembro bem da sensação em assistir De volta para o futuro 3 (Robert Zemeckis) e Lua de Cristal (Tizuka Yamasaki) são filmes que marcaram bastante.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Difícil termos um diretor que seja o preferido, só que sempre que me perguntam isso eu imediatamente lembro do Wes Craven e seu filme Pânico (Scream). Assisti alugado em vhs e nunca mais esqueci essa experiência. Adoro o sarcasmo que o filme carrega, esse olhar sobre o cinema de terror e o público que o consome, o que o Wes conseguiu realizar com o ótimo roteiro do Kevin Willianson foi muito importante, bom sempre ler como essa produção renovou o público jovem do cinema americano do Norte. Pois o sucesso financeiro e de crítica nessa indústria gerou a possibilidade de investimento em diversas obras que sucederam Pânico.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O primeiro que lembro é a obra prima do diretor Leon Hirzman, São Bernardo (1972). Esse filme é de uma cinematografia exuberante e atuação de Othon Bastos está  nas maiores que o cinema já teve. Precisa ser visto na maior tela e melhor qualidade possível. 

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Eu tento assistir pelo menos um filme por dia, tem períodos que consigo assistir mais que isso, mesmo quando acompanho uma série, paro o famoso binge e assisto um longa. Quando estou sem muito tempo assisto de uma lista que guardo pelo tempo de filme, adora produções com 70 minutos de duração. Assisto essas antes de dormir se for ter que trabalhar no outro dia. E ser cinéfilo é pesquisar, ler, procurar e caçar os filmes, temos a oportunidade de ter uma Internet inteira para isso. E depois poder falar sobre esses filmes que assistimos sempre é divertido.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Alguns cinemas aqui de Brasília conseguem manter uma boa programação, diversificada realmente.  Eu gosto de cinemas que exibam produções de diferentes épocas de produção, esquecemos que muitos filmes clássicos não assistimos nos cinemas, essa possibilidade de exibirem essas produções precisa ser melhor explorada. As salas de cinema não precisam apenas exibir o que é recente.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não, acho que as salas de cinema vão acabar, elas vão sofrer mudanças, já não são mais espaços exclusivos para filmes, passam jogos de diversos esportes, shows e...existe um público que sempre vai privilegiar as salas de cinema. Até mesmo as empresas de produção e exibição de filmes para o streaming possuem parcerias ou adquiriram salas de cinema para escoar essas produções.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Esse vou falar um filme que produzi, O céu perdeu a cor, assistam!  É ótimo! Agora mencionando um outro que por sempre caçar filmes de comédia para assistir consegui assistir recentemente, Four Lions (2010) do diretor Chris Morris, a premissa já vale a curiosidade, quatro homens-bomba viajam até Londres para organizar um atentado! Filme que colocou o ator Riz Ahmed em Hollywood.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sala de cinema e pandemia não combinam. Esperem a vacinação de todos e depois abram.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sempre assisti filmes brasileiros, na verdade meu início nesse universo cinematográfico foi principalmente com essas produções, como falei, foram esses filmes que eu assistia nas férias. Com o passar dos anos fui pesquisar sobre outras produções, outros realizadores, estudar, formar...não tem como questionar essa qualidade. Lembrando de algumas boas produções com uma enorme variedade de temas e de gêneros que assisti nesse último ano: Skull - A máscaras de Anhangá, Atrás da sombra, Terra e Luz, Babenco – Alguém tem de Ouvir o Coração e Dizer: Parou, Narciso em Férias...

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Vou falar alguns, gosto muito do Edmilson Filho, Wagner Moura, Tatá Werneck, Daniel Furlan, o diretor Ian SBF...

 

12) Defina cinema com uma frase:

Pra mim sempre foi necessário.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Estava no dia de estreia do filme Corpo Fechado (M. Night Shiamalan), lembro de que logo depois da sequência que o Senhor Glass tenta perseguir um homem em uma escadaria e com isso acaba caindo, quebrando diversos ossos. Logo depois dessa sequência o filme seguia com uma longa cena que o personagem do Samuel L. Jackson, Senhor Glass, conversava com o David Dunn, Bruce Willis, mas o Glass não tinha nenhum fratura da sequência anterior. Nada tinha acontecido. Foi estranho, me dei conta que aquele filme estava montado errado, ainda era o tempo das salas de cinema receberem as latas com a película do filme, os operadores de projeção precisavam colocar um rolo de película na outra, gerando a duração e sequência correta de exibição do filme. Nesse dia, o operador montou errado um dos rolos e o filme ficou fora de ordem. Quando revi o filme, percebi o quanto tinha sido estranho aquela montagem errada. Foi um bom motivo pra assistir esse incrível filme nos cinemas de novo. (E sim! O cinema confirmou a montagem errada das latas).

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Cinderela Bahiana, com o H mesmo como nos créditos que aparecem no filme, é isso e corta para alguma sequência de dança.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que está mais ligado a eles, diretores, serem e sempre criarem. Existem tantas possibilidades artísticas para gerar uma narrativa ou experiência fílmica. Acho válido que eles fujam menos da parte burocrática de realizar um projeto...mas isso é difícil, principalmente aqui no Brasil, com a questão de acúmulo de funções.

 

16) Qual seu documentário preferido?

Cinema brasileiro consegue realizar tantos documentários incríveis, basta ver um diretor como Eduardo Coutinho, sua obra só melhora com o passar dos anos, pois seus personagens contam muito sobre o Brasil, sobre nossa sociedade e política. Um documentário que me fez gostar de documentários foi O prisioneiro da Grade de Ferro (Paulo Sacramento), que mostra o real terror dos presídios. É assustador.

 

17) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não lembro de bater palmas em um filme. Lembro dos festivais, onde a plateia cria uma atmosfera em relação a obra na tela. Esse evento coletivo realmente influencia ao assistirmos um filme. Faz tempo mas lembro de enfrentar uma fila gigante para assistir Tropa de Elite 2 (José Padilha), dentro da sala, os espectadores aplaudiram várias vezes durante a sessão. Foi uma sensação de catarse.

 

18) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Nicolas Cage já esteve em tantos filmes excelentes último que eu gostei de assistir com ele foi Mandy (Panos Cosmatos) e possivelmente o primeiro que vi e acho excelente Arizona Nunca Mais (Coen Brothers)...e o show de atuação como gêmeos em Adaptação (Spike Jonze).

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Sempre olho o imdb, filmeB, cinemaemcena e o que mais gosto pelo tipo de filme que eles falam, na verdade é um jornalista chamado Felipe Guerra do filmesparadoidos.blogspot.com