O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, do Rio de Janeiro. Jonathan Freitas tem 21 anos, nascido e
criado na comunidade de Rio das Pedras, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Está
bacharelando no curso de Cinema & Audiovisual e já trabalha no ramo como
Diretor, Roteirista, Diretor de Fotografia, Gestor de Finanças e Fotógrafo. Em
2019 tornou-se sócio da produtora audiovisual Películas, que segue de forma
ativa no mercado trabalho. No fim de 2020 juntou-se com alguns amigos e
fundaram o site Cinema Alternativo,
onde atua como Crítico Cinematográfico, Redator, Gerenciador de Mídias Sociais
e Gerenciador do site.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Infelizmente, o cinema que trazia a programação que mais me
agradava fechou suas portas, devida à crise econômica agravada pela Covid-19. O
Cine Joia, localizado em Copacabana,
trazia uma diversidade muito rica em seu catálogo. Exibindo desde clássicos que
marcaram a história do cinema, até às artes contemporâneas extremamente
renomadas.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Percy Jackson e o
Ladrão de Raios (2010). Este filme foi uma das minhas primeiras
experiências em uma sala de cinema. Após assisti-lo, só tive contato novamente
com o espaço depois de anos, pois o hábito de ir ao cinema não era algo comum
onde cresci. Mesmo com o passar do tempo nunca esqueci daquele dia, foi um
momento extremamente marcante e que me trouxe uma sensação diferente de
qualquer outra coisa que já tinha experimentado antes.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Essa pergunta é sempre muito difícil de responder, pois,
particularmente eu nunca consegui definir com muita precisão um diretor
favorito. Neste exato momento eu acredito que o Pedro Almodóvar e o Krzysztof
Kieślowski tomam conta deste lugar, pois sou um amante do cinema que
abrange o lado mais introspectivo do ser humano. Porém, essa escolha está
sempre em constante mudança, ontem era o Aronofsky,
hoje são os dois e amanhã quem será? Descobriremos nos próximos capítulos. Em
relação ao filme, do Kieślowski é sem sombra de dúvida, Trilogia das Cores: Azul.
Já do Almodóvar é mais delicado, pois amo muito quase toda sua filmografia, mas
hoje vou de Dor e Glória.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Irei ter que ficar em cima do muro com duas obras: Rio, 40 Graus e Cidade de Deus.
Nasci e cresci na favela de Rio das Pedras, localizada na
zona oeste do Rio de Janeiro, obras que abrangem essa temática do subúrbio
carioca conversam sensorialmente de forma muito especial comigo, pois carregam
traços de uma parte extremamente marcante da minha vida. Quando temos filmes
nesse estilo sendo executados de forma extremamente primorosa, como é o caso
dos dois citados, fica difícil eu não me apaixonar.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Acredito que ser cinéfilo é ter prazer em amar a sétima
arte, pois assistir muitos filmes com certeza é um ato que muitas pessoas já
fazem independente de amarem ou não o cinema. Porém, se apaixonar por esse ato
é o que diferencia tudo.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Talvez. Alguns cinemas que seguem por um caminho como o do
já citado Cine Joia, boto bastante
fé que possuem amantes da sétima arte por trás das cortinas. Porém, eles são
minorias. O cinema além de ser a arte que tanto amamos, também é uma atividade
financeira, acredito que os grandes cinemas — que são a maioria em minha cidade
— possuem responsáveis que se encarregam desta etapa mercadológica e buscam o
lucro de bilheteria como finalidade. Então, é bem difícil responder esta
questão sem estar lá dentro para saber de fato como é tomada está decisão, já
que entendendo ou não sobre cinema, a meta é ter um certo retorno financeiro.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Logo no começo de 2021 eu assisti novamente o filme Quarto 666, dirigido por Wim Wenders e lançado em 1982. Trinta e
nove anos se passaram desde o lançamento da obra, porém o questionamento feito
nela ainda segue pertinente nas nossas cabeças, afinal, qual vai ser o futuro
do cinema?
Em 2020 tivemos um “bum” com todo o lucro feito com o
lançamento digital de Trolls 2, que
veio a instigar mais ainda essa dúvida. Por sinal, acredito que futuramente
esse marco de Trolls 2 vai ser uma ferramenta de estudo para os futuros
acadêmicos em cinema e audiovisual.
Por conta da experiência única que as salas de cinema nos
proporcionam, não consigo visualizar elas morrendo por definitivo. Porém,
devido a todos os avanços tecnológicos que geram cada vez mais uma maior acessibilidade
aos filmes, acredito que os hábitos das futuras gerações irão mudar e as salas
deixaram de ser uma programação recorrente no cotidiano das pessoas, fazendo
com que elas acabem possuindo um público extremamente nichado.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Como já devem ter percebido, eu sou péssimo em escolher
apenas uma obra. Então deixarei dois filmes recentes do majestoso cinema
nacional: Pendular (2017, dirigido
por Júlia Murat) e Los Silencios (2019, dirigido por Beatriz Seigner).
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Há alguns meses com certeza a minha resposta seria não.
Hoje, eu gostaria muito que minha resposta continuasse sendo não, porém, infelizmente,
nem tudo funciona da forma que gostaríamos. Tivemos medidas governamentais
repugnantes durante o período de pandemia, principalmente em seu estágio
inicial, e os métodos de assistência aos trabalhadores e as microempresas foram
quase nulos. Esperar que os funcionários que necessitam dessas rendas para
sobreviver não voltem ao seu trabalho e fiquem aguardando alguma espécie de
ajuda desse governo patético, é algo que vejo muito fora da realidade atual.
Então, se as salas e os espectadores estiverem agindo com segurança, seguindo e
respeitando todos os protocolos recomendados pela OMS, acho válido que a
reabertura siga acontecendo.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Uma vez me deparei com um vídeo do crítico de cinema Pablo Villaça, onde nele ele dizia a
seguinte frase:
“As pessoas que normalmente dizem que o cinema brasileiro e
os filmes brasileiros tendem a ser ruins. Elas não assistem cinema brasileiro.”
E particularmente eu assino embaixo, o cinema brasileiro é
magnífico e extremamente acima da média. Sim, temos problemas de comunicação
com o público geral devido às heranças deixadas pelas pornochanchadas — coisa
que não a torna menos importante, pois foi um movimento que também deixou
muitas marcas positivas e essenciais no cinema que fazemos hoje — e sim, temos
grandíssimos problemas com o quesito de distribuição por conta das dificuldades
orçamentárias que encaramos em nossa realidade. Porém, os anos passam e contra
tudo e todos o cinema brasileiro segue de pé, segue dando suas retomadas e
todos os anos produz uma enxurrada de filmes que me faltam palavras para dizer
o quão sensacionais eles são.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Karim Aïnouz.
12) Defina cinema com
uma frase:
Como mergulhar sobre uma profundeza de sensações inesperadas
e inexplicáveis, o cinema é uma viagem flutuante, incontornável e apaixonante
pelas linhas do mundo, da humanidade e de tudo que compõe a vida.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.
Fui assistir Mãe!, dirigido
pelo gênio Darren Aronofsky, e
devido ao fato de o filme ter sido vendido de uma forma totalmente diferente do
que ele é de fato, grande parte do público estava exatamente assim enquanto
assistia:
“Que por*$%, é essa?”.
Lembro que tinha um grupo de senhoras que estavam sentadas
ao meu lado e suas reações eram bem engraçadas, tão engraçadas que me fizeram
nunca esquecer desta sessão.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
É O TCHAN!!!!!!!!!!!!!!!
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não necessariamente, não vejo como um pré-requisito a pessoa
ter que assistir uma grande gama de filmes para se debruçar sobre o cinema,
afinal, liberdade total pra cada um fazer o que bem-quiser. Porém, os filmes
além de serem espetáculos para serem sentidos, também são ferramentas de
estudos para compreensão da formação da linguagem cinematográfica. Então,
também seria ingenuidade da minha parte falar que ser cinéfilo não influencia,
pois acredito que respirar o cinema como um todo pode te trazer novos
horizontes e percepções na hora de formular uma obra.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
The Show (Está é Sua Morte) – 2017.
17) Qual seu
documentário preferido?
Cabra Marcado Para
Morrer do mestre Eduardo Coutinho.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, em uma sessão que estava exibindo o clássico Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick. Este filme foi
essencial na minha decisão de escolher viver de cinema e assisti-lo em uma sala
foi algo tão incrível que os aplausos se tornaram algo simplesmente
inevitáveis.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Senhor das Armas.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
O site que mais leio é o Cinema Alternativo, site cujo tive o prazer de fundar junto de meus
amigos. (www.cinemaalternativo.com).