Quando o trágico encontra seu equilíbrio no cômico. Disponível na plataforma MUBI, Shiva Baby nos mostra segredos, famílias, mentiras. Todo tipo de drama se afunila no campo das surpresas, em encontros quase inimagináveis, além de situações mal resolvidas em um passado recente de uma jovem em grandes conflitos quando resolve ir com os pais a uma reunião tradicional após um funeral, parte da tradição judia. O confronto com seu modo de viver, do qual foi criada, essas tradições de sua família judia, vira rebeldia e parece que acompanhamos o clímax, da primeira cena até os acontecimentos dentro de um leque de situações constrangedoras que se juntam aos montes somadas a um eminente insucesso nas suas tentativas já frustradas de liberdade sem limites. Um grande filme, escrito e dirigido pela cineasta Emma Seligman, um dos melhores disponíveis pelos streamings aqui no Brasil.
Na trama, conhecemos Danielle (Rachel Sennott), uma jovem que se prostitui
sem que seus pais saibam de nada. Um dia, resolve acompanhar os pais (que a
bancam desde sempre), a um pós funeral de uma amiga da família judia que
pertence. Nesse dia, que é uma reunião em uma casa, acaba encontrando antigos
amores, conflitos com seus pais por conta dos seus objetivos na vida,
desconfiados olhares de conhecidos e uma surpresa ligada à sua vida na
prostituição. Prestes a chegar a um ataque emocional, vamos descobrindo todas
as fraquezas e inconsequências que acompanham a complexa protagonista. Lembra
um pouco, mesmo com inúmeras diferenças, a também ótima comédia britânica Morte no Funeral.
Parece que estamos olhando pelo buraco da fechadura no campo
das emoções da protagonista, um mérito de um afiado roteiro e uma lente
detalhista de Seligman. Há também um equilíbrio entre o trágico e o cômico. A protagonista
busca sua liberdade ser alguém à frente do seu tempo. Mas comete o erro, fruto
de sua imaturidade, de não buscar desenvolver alternativas para suas
inconsequências, como se estivesse em órbita somente com seus impulsos
esquecendo dos complementos vitais para um equilíbrio de felicidade e
dedicação.
Eminentes conflitos, um peso na consciência, buscando no
desespero de se sobressair, almejando uma perfeição por meio de mentiras, elementos
que obviamente levarão a personagem a um limite emocional, quase um divisor de
águas sobre sua vida. Há uma busca de reconhecimento de seus pais mas envolvida
em muitas mentiras e foco descontrolado sobre o que quer da vida, fora a
mordaça imaginária que se coloca que fica evidente quando se vê sem saída sobre
como resolver todas as situações que estão em descontroles na sua frente. Shiva Baby apresenta um complexo
cenário sobre abalos emocionais, reunidos com um certo clima de tensão, um
filme que todo psicólogo deveria assistir, além de todos que amam uma boa
história, um bom cinema. Bravo!