01/07/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #460 - Paula Witchert


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São Paulo. Paula Witchert tem 42 anos. É cineasta, jornalista e cantora nas horas vagas. Bacharel em jornalismo com MBA em cinema, trabalhou como jornalista em diversos sites e revistas no setor cultural, além de assessoria de imprensa, produção de eventos musicais nacionais e internacionais e programas de webTV. Foi professora de técnica vocal e cantora da noite paulistana com bandas covers de rock. Participou de mais de 20 curtas-metragens como diretora, roteirista, produtora, assistente de direção, produção e direção de arte, áudio e fotografia. Dirigiu o longa "Às Escuras", que está em fase final de pós-produção. Atualmente trabalha na criação de séries e longas de ficção;  roteiros institucionais e publicitários, tais como: "O que os heróis têm a nos ensinar?" - TV Moments apresentado pelo Nissan Kicks e TNT para o canal TNT e  "Be a Chef" apresentando pela Red Ballon e Cartoon Network para o Instagram oficial da Cartoon. Além disso, também oferece consultoria para roteiristas iniciantes e criação de conteúdo em geral para empresas e agências de comunicação.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Sempre gostei das salas do Espaço Itaú, na Rua Augusta e imediações, pois há mais opções de filmes mais profundos, que são a minha escolha na maioria das vezes.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro filme que eu vi no cinema foi Batman (1989), porém, o que me fez me apaixonar pelo cinema não foram as salas, mas sim os estudos de linguagem cinematográfica e roteiro. Entrei neles por pura curiosidade e me apaixonei a ponto de desejar o cinema como profissão.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eu sempre transitei entre dois preferidos: Martin Scorsese e David Lynch. Depois de Mother!, o Darren Aronofsky entrou na lista. Sempre gostei dos filmes dele, mas em Mother! ele me mostrou que tipo de cineasta quero me tornar. Do Scorsese, meu preferido é Shutter Island (Ilha do Medo) e do Lynch, Mulholland Drive (Cidade dos Sonhos).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Nossa! É tão difícil escolher um só! Vou citar Cidade de Deus (depois de quase meia hora pensando), porque tudo nele é muito bem feito: roteiro, atuação, direção, fotografia, arte, edição... O fato de mostrar uma realidade muito forte no Brasil por mais de um ângulo também é muito importante. O filme entretém, mas também faz refletir. Gosto muito desta mescla e acho essencial que os filmes tragam isso.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser apaixonado por cinema, independentemente do estilo. É gostar de assistir de tudo um pouco pelo prazer de consumir cinema, de querer aprender mais dessa arte tão maravilhosa.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Jamais! O que manda na exibição é o dinheiro. Se há verba para distribuição ou alguma grande distribuidora por trás, o filme fica em cartaz em diversas salas por muito tempo. Tem muito filme bom que mal entra em cartaz e já fica indisponível ou nem entra. Isso é bastante injusto, mas é fruto do sistema capitalista em que vivemos.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito nisso. Da mesma forma que o livro impresso não acabou e nem a música em formato físico. Quem gosta da experiência da sala de cinema vai continuar frequentando as salas. O que deve acontecer é uma adaptação da indústria para cobrir o vácuo deixado pelo público que migrará para o streaming - como ocorreu com outras formas de cultura - e uma diminuição na quantidade de salas, como já vem ocorrendo, inclusive, em função da pandemia.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Suspeito da Rua Arlington. Eu assisti despretensiosamente uma vez pela TV e me apaixonei pelo enredo, que tem várias reviravoltas e um final surpreendente, algo que prezo muito nas produções que assisto. Para quem gosta de suspense, é uma boa pedida!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Já reabriram, mas sou contra. Embora seja apaixonada por cinema e uma das milhares de pessoas afetadas pela queda das produções pela pandemia (além do desmonte proposital do setor), as salas são ambientes fechados e,  por mais que sejam implementadas normas rígidas de segurança, não acho que sejam suficientes para evitar a proliferação do vírus. Entendo a necessidade de reabertura, o certo era termos uma vacinação rápida e eficiente, mas não foi o que aconteceu.

 

10) Como voce enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro caminhava em uma boa crescente até meados de 2016. De lá pra cá, o setor foi sucateado por fatores políticos: a Ancine está abandonada e vemos filmes sendo barrados no lançamento por questões ideológicas. Isso é censura! No mais, o brasileiro é muito criativo e há muitos bons cineastas no Brasil. Em termos técnicos, ainda vejo problemas da influência de roteiros "novelísticos" no cinema, repleto de diálogos e situações expositivas e não é isso que se espera de um filme, pois são linguagens e produtos diferentes. Também percebo que muitos diretores focam apenas na direção geral das produções e não dirigem atores, o que considero uma falha. Muitas instituições de ensino de cinema/audiovisual formam críticos de cinema e não cineastas e esse é um dos grandes gargalos, mas há esperança se houver engajamento dos agentes-chaves e também dos artistas que se propõem a dar vida à sétima arte. É um trabalho que precisa voltar a ser construído, pois não faltam talentos.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Eu só tenho isso com o Scorsese, o Lynch e o Aronofsky, ninguém mais. Por uma questão estilística mesmo! Mas, há vários artistas brasileiros que me motivam a assistir filmes: Camila Morgado, Fernanda Montenegro, Wagner Moura, Selton Mello, Lázaro Ramos... Vou citar também o Meirelles, a Laís Bodanzky e o Bráulio Mantovani, pois sempre que vejo os nomes deles nas produções, fico mais interessada.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a conexão de todos os sentidos em uma única arte.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Eu estava assistindo Os Simpsons e comecei a rir tanto com a cena do "porco-aranha" que engasguei com o refrigerante e quase vomitei no meio da sala.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Eu não vi esse filme, não posso opinar. Vi péssimas críticas sobre e fiquei com vontade de assistir para ver se é tão ruim como dizem, mas a minha lista de filmes e séries para assistir é imensa e ele sempre fica para depois.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Eu sou diretora e não me considero cinéfila. Assisto muuuuitaaaa coisa, mas seleciono também, devido ao tempo. Mas, para quem quer ser um BOM cineasta, é fundamental ter muitas referências e não apenas do que gosta ou do estilo que se quer trabalhar, mas sim um pouco de tudo. De uns anos pra cá, eu me forcei a assistir comédias e romances, por exemplo, que eu costumo não gostar, mas são importantes para incrementar meu repertório.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Era tão ruim que meu cérebro deletou o nome, mas se o título aparecer na minha frente, eu reconhecerei na hora! hahaha

 

17) Qual seu documentário preferido?

Professor Polvo.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não, mas já tive vontade.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Existe? kkkk Piadas à parte, gosto de Coração Selvagem, do Lynch.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não leio nenhum em específico. Me informo por meios de grupos de Facebook e WhatsApp compostos por profissionais do mercado, além das notícias da imprensa em geral. Sigo muitos cineastas, produtoras e majors no Instagram, então fico sabendo de muitas coisas por lá também.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Atualmente a Amazon Prime, que está com um catálogo bem interessante. Mas também vejo muito Netflix e, de vez em quando, a GloboPlay.