As lições e consequências de escolhas pela sobrevivência. Criado pela dupla Ashley Lyle e Bart Nickerson, Yellowjackets chegou ao catálogo da Paramount Plus sem muito alarde. Ao longo de dez fortes episódios que envolve uma grande tragédia, duas linhas do tempo, uma seita, canibalismo, abalos após traumas, entre outros ingredientes podemos afirmar que esse projeto é um dos mais impactantes do universo dos seriados nos últimos anos. O roteiro dessa primeira temporada, que teve seu último episódio exibido no início de janeiro de 2022, é primoroso, possui uma sagacidade entre caminhar uma linha tênue entre o concreto e a suposição.
Na trama, conhecemos quatro mulheres na fase adulta que por
mais que sigam suas vidas com suas respectivas famílias foram marcadas por
acontecimentos trágicos quando eram adolescentes (cerca de duas décadas atrás)
e viajavam de avião para um jogo importante já que eram do time de futebol
feminino conhecido em toda a cidade delas chamadas de Yellowjackets. Assim, ao
longo de 10 intensos episódios vamos conhecendo Tai (Tawny Cypress), Shauna (Melanie
Lynskey), Misty (Christina Ricci)
e Natalie (Juliette Lewis) e os
segredos que esconderam durante todo o tempo em que estiveram perdidas após um
grave acidente de avião.
A narrativa, que segue duas linhas temporais, consegue
compor uma série de subtramas que de alguma forma estão relacionadas, seja no
presente, ou nos acontecimentos misteriosos do passado. Os mistérios são
revelados aos poucos, bem presos ao passado temos que ser ambientados aos
acontecimentos após o acidente, como era a rotina delas nos longos dias que se
passaram praticamente presas em uma região de difícil acesso. No presente,
questões saem da normalidade, fogem dos segredos escondidos como se alguém
quisesse revelar o mundo verdades não ditas. Há uma harmonia muito grande,
pensando em linhas interpretativas, entre o elenco mais jovem e os que interpretam
os personagens 25 anos depois. Não é preciso definir quem é a protagonista,
todas ganham seu destaque.
O trauma aqui é visto por várias óticas, e em alguns casos
acaba encostando em vários paralelos com o luto. Tem personagem ligado à sua
fé, tem a questões de simbolismos místicos, tem jovens que não conseguem
entender aquilo tudo que estão passando, tem amores que nascem a partir das
dores de uma vida fora dali, há uma série de conflitos explorados nessa
primeira temporada que dão margem para mais explicações em temporadas futuras.
Há tempo para o amor surgir, há tempo para conflitos
eminentes explodirem, como se estivessem em um Big Brother surpreendente
conhecendo lados/facetas desconhecidas das amigas de time. Por serem adolescentes
na época da tragédia, muitas descobertas se tornam precoces dentro de uma imaturidade
tamanha para lidar com o que sabem até ali e sobre o que precisam fazer para
sobreviver.
O desfecho super aberto, em um eletrizante último episódio,
deixa uma enorme margem para novos elementos e a abertura de novas
possibilidades com sua última cena bombástica. Agora é aguardar, Yellowjackets tem ainda muito a nos
contar.