23/01/2022

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Crítica do filme: 'Eduardo e Mônica'


Existe razão nas coisas feitas pelo coração? Com uma tarefa árdua de transformar em filme uma das músicas mais emblemáticas da carreira da inesquecível Legião Urbana, banda de rock liderada pelo genial Renato Russo, o cineasta René Sampaio (que em 2013 adaptou Faroeste Caboclo para o cinema) consegue pegar uma estrada de emoções, escolhas, dentro de duas visões completamente diferentes do viver e o resultado é um filme emocionante que transpira muitas fases da vida. Gabriel Leone e Alice Braga estão em grande harmonia na pele dos protagonistas.


Na trama, conhecemos Eduardo (Gabriel Leone) e Mônica (Alice Braga). Eles não sabem mas vão se apaixonar perdidamente. Ele, um jovem que está perto de prestar o vestibular, joga futebol de botão com seu avô (com quem mora após o falecimento de sua mãe), tem o sonho de ser engenheiro, nunca se apaixonou. Ela, uma jovem já na fase final da residência em medicina, que faz experimentos visuais em festas e espaços, mora sozinha e anda de moto, gosta do movimento Nouvelle Vague, está antenada em manifestações e na luta por dias melhores para sua comunidade. Essas duas almas vão se encontrar em uma festa e o destino deles estará entrelaçado para sempre.


Assim como em Faroeste Caboclo, esse é mais um filme que dezenas de caminhos poderiam ser tomados quando pensamos em narrativa para contar essa história. Procurando ser bastante fiel aos ricos detalhes da letra de Renato Russo, Sampaio e companhia navegam na construção crescente do sentimento, sendo muito precisos nos conflitos que essa relação tende a enfrentar. A questão da diferença de idade nunca foi um grande tabu, nem epicentro desse amor, partimos então para as reflexões em torno de como já pensam sobre o mundo e sobre um do outro. A partir disso, conflitos vem as montes misturados com acréscimos em forma de crítica política. O maior exemplo desse acréscimo é o fato do avô de Eduardo ser militar e consequentemente no emblemático embate que acontece quando Mônica (que teve o pai exilado) vai conhecê-lo pela primeira vez.


Mas para sentirmos o filme como ele deve, precisamos falar sobre a construção do maior dos sentimentos. Para o amor, essa força pulsante que nos guia, ser recriado em uma tela de cinema vários elementos precisam estar em harmonia, não só os excelentes atores em cena. Há uma poesia de background em cada cena que os dois sonham e declamam seus sentimentos, em resumo podemos afirmar que a construção dos personagens é belíssima. Tudo faz muito sentido nessa difícil adaptação de uma letra de música para formato audiovisual.


Mesmo carente de um clímax, talvez falte aquela cena para ficar guardada nos corações cinéfilos, Eduardo e Mônica já pode ser considerado um dos ótimos filmes desse início de 2022. Será que Sampaio já está pensando em outra adaptação de alguma letra de Renato Russo? Ou ainda é cedo?