O desabafo em forma de verdades que precisam serem ditas. Dirigido por Maria de Medeiros, o longa-metragem caminha pelas linhas sempre cheias de conflitos sobre as relações familiares, aqui num recorte amplo e cheio de significado em embates entre mãe e filha. Por meio de subtramas que nos levam a mais reflexões vamos conhecendo várias partes de toda a carga emocional envolvida nessas personalidades cheias de medos, sonhos e pensamentos em conflitos. A maternidade em uma visão vinda de várias formas ganha variáveis emocionantes com verdades carregadas sendo expostas aos montes reproduzindo a força feminina por todos os lados. Há tempo também para trazer aos nossos olhos os desabafos emocionantes dos tempos de prisão na época da ditadura, que aqui acaba ganhando contornos profundos com a chegada na história de um jornalista que fora filho da parceira de Vera na prisão.
Na trama, conhecemos Vera (Marieta Severo), uma mulher recém divorciada que comanda uma ONG. Ela
é mãe de Tânia (Laura Castro), uma
mulher na casa dos 40 anos, casada Vanessa (Marta Nobrega) que tem o sonho de ter um filho com a companheira. Vera
sofreu traumas enormes durante a ditadura, principalmente no período em que
esteve presa. Ela não tem um bom relacionamento com a filha. Essa última passa
por uma fase muito difícil, estudando para concurso e tendo que lidar com os
conflitos no seu relacionamento, muitos desses provocados pelas tentativas de
gravidez. Essas duas estradas acabam entrando em choques as levando para um
caminho de questões que precisam serem debatidos.
A fortaleza e a fragilidade. Antagônicos dentro de uma mesma
personalidade, esse duelo acaba sendo uma das importantes questões do filme,
corre na força da narrativa alegórica, do escondido dentro de uma mensagem. Assim,
chegamos nos dois paralelos como foco nesse trabalho. Um deles é o de Vera, uma
mulher que sofrera os horrores da ditadura, época em que fora presa grávida
deixando traumas na sua vida até hoje. O outro é o de Tânia, filha de Vera, que
busca ter um filho com a esposa por meio de inseminação artificial enfrentando
as dificuldades de todo esse processo. As duas personagens mal se falam, são
distantes, fruto de um passado de brigas até mesmo dentro do confronto batido
do conservadorismo contra o progressivo.
As subtramas são excelentes. O roteiro navega em vários
temas que são diariamente discutidos na realidade, como a inseminação artificial,
adoção, os traumas da ditadura no Brasil, preconceito, direitos humanos. Também,
debates importantes sobre a questão do soro positivo (o HIV) ganham o caminho
dos personagens. Um fato que chama a atenção e que abre mais um leque para
reflexões é da violência urbana, na guerra que muitas cidades vivem. Muitas
situações chaves na história acontecem durante tiroteios entre bandidos e
traficantes.
Aos Nossos Filhos,
baseado na peça teatral (que teve Maria
de Medeiros como uma das protagonistas) escrita por Laura Castro, estreia
nesse mês de julho nos cinemas, um filme que fala tão profundamente de tantas
questões importantes que se torna um tocante retrato de muitas janelas abertas
por aí.