O refletir e os choques entre os sonhos e a realidade. O sonho de uma expedição até Marte em 2030 acaba sendo o pontapé de um lindo filme, que detalha os sonhos dentro de um contexto mais amplo, de esperança. Dirigido por Gabriel Martins, Marte Um nos mostra o cotidiano agitado de uma família dentro de um olhar urbano que caminha pelos relatos de uma sociedade que vive seus dias sem saber como será o amanhã. Há também um olhar delicado para o conflito de gerações quando pensamos nas formas de enxergar as mudanças, o sonhar.
Exibido no Festival de Sundance e no Festival de Gramado desse
ano, Marte Um, ambientado nos últimos
meses do último ano eleitoral (2018), conta a história de uma família que mora
na periferia de uma grande cidade mineira. Tem o pai, Wellinton (Carlos Francisco), que é porteiro em um
luxuoso condomínio e enfrenta com muita firmeza seus tempos de sobriedade após
problemas com a bebida. Temos a mãe, Tércia (Rejane Faria) super alegre e dançante que após uma pegadinha
traumática começa a ter sua rotina acompanhada por medos e aflições. Temos a
filha mais velha, Eunice (Camilla Damião),
uma jovem estudiosa que faz direito na Universidade Federal e está começando um
relacionamento com outra jovem e tem o desejo de se mudar mas ainda não tem coragem
de contar aos pais. Temos o filho mais novo, Deivid (Cícero Lucas) um jovem sonhador que gosta de futebol e adora
astronomia passando horas consumindo esse conteúdo pela internet. Assim, vamos
acompanhando a história de uma família batalhadora, que encontra suas respostas
entre erros e acertos, na esperança e no refletir.
Os sonhos de uns acabam sendo os sonhos dos outros. O filme
bate nessa tecla do sonhar. Deivid não quer ser jogador de futebol, sonho esse
de seu pai que acaba deixando o garoto em conflito. Ele quer ser astrofísico,
ser astronauta, embarcar em uma expedição de colonização de outro planeta anos à
frente do seu presente. Ao mesmo tempo Eunice tem suas dúvidas sobre como será
a reação dos pais quando souberem que namora uma outra jovem. O entendimento mais detalhado sobre esses
sonhos acabam passando no fortalecimento da relação dos dois irmãos.
Frustração e desilusão. Sorte e azar. Equilíbrio e
desequilíbrio. Cair e se levantar. Aqui nesses duelos acompanhamos sob a ótica
dos pais. Tércia parece viver em uma bolha de medo e apreensão provocada por um
trauma que ela não sabe quando será o fim, deixando o destino aprontar.
Wellinton luta pelo controle mas aos poucos percebe que o descontrole faz parte
das incontroláveis variáveis de todas as trajetórias. O alcoolismo, o desemprego,
o medo do preconceito, são outros temas que passam pelas linhas do ótimo
roteiro.
Como ficam nossos sonhos em um país polarizado politicamente,
ainda cheio de desigualdades sociais, transbordando ainda em preconceito? Os personagens
aqui estão à procurar o que todos estão buscando, a esperança. O resto...a gente dá
um jeito.