23/08/2022

Crítica do filme: 'The Humans'


As reflexões sobre a vida por meio das frustrações das relações. Buscando trazer à luz um engenhoso e instigante abrigo para conflitos familiares, o cineasta e dramaturgo Stephen Karam nos apresenta uma família beirando ao disfuncional em uma reunião repleta de momentos chave. O filme pode ser definido como um recorte intimista, duro, intenso, marcante sobre as relações interpessoais de uma família que chegam em um ponto de erupção de suas emoções cada qual nos seus dramas individuais que de alguma forma afetam como um todo. Disponível no ótimo catálogo da MUBI, o projeto é baseado numa famosa peça da Broadway, onde inclusive a atriz Jayne Houdyshell ganhou um Tony (o Oscar do teatro norte-americano) por sua atuação.


Na trama, acompanhamos a reunião de uma família para comemorar o dia de ação de graças no novo apartamento duplex do casal Brigid (Beanie Feldstein) e Richard (Steven Yeun) no centro de Manhattan. Novo porque eles estão a pouco tempo lá, porque o local está precisando de vários concertos, com fiações expostas e outros problemas. Assim conhecemos Erik (Richard Jenkins), um esforçado pai de família que recentemente cometeu um grave erro no seu trabalho, Deirdre (Jayne Houdyshell) a mãe que passa por frustrações e tem um relacionamento complicado com sua filha Brigid, Aimee (Amy Schumer) uma mulher buscando recomeços em várias partes de sua vida. Tem também Momo (June Squibb) a vovó que a família cuida. Ao longo de uma noite fria, intensa e cheia de situações que beiram ao inexplicáveis, vamos percorrendo à curta lembrança de todas essas gerações que se chocam refletindo sobre a vida uns dos outros.


Há uma parábola na narrativa quando pensamos na associação do espaço com os sentimentos. Nessa mensagem indireta, enxergamos o apartamento quase caindo aos pedaços em alguns pontos se tornando um paralelo para enxergamos o desabrochar das emoções dos personagens de forma lenta e até mesmo cíclica. Seguindo nessa linha e mais focado na ótica de Erik e sua busca constante em descobrir maneiras de consertar os estragos ao seu redor (emocionais e estruturais do apartamento), já que ele é o paizão e na cabeça dele ele deveria encontrar as melhores saídas para os conflitos que cada um passa, os olhares pela janela e a translucidez se tornam o seu próprio paralelo.


Uma das filhas com seus inúmeros problemas e uma relação que não consegue suportar o fim, a outra buscando sua independência e fugir do mimo da família encontra no novo companheiro uma nova jornada de esperança. Esse último um novo membro da família que busca antes de qualquer coisa ser aceito por todos. Cada qual no seu conflito, alguns mais profundamente apresentados, outros nem tanto assim. Você como um exercício de reflexões pode acompanhar somente um ou outro personagens pelos quatro cantos do primeiro e segundo andar desse apartamento mas a jornada para ser mais completa é tentar enxergar as brechas que o roteiro deixa para você tirar as conclusões dos conflitos como um todo, algo em estado constante, cíclico, igual a muitas famílias e seus conflitos do lado de cá da telona.