O Spielberg frustrado que virou um ícone da música brasileira. Com exibição de dois episódios no Festival do Rio 2022, a série documental Vale Tudo com Tim Maia, já toda disponível na Globoplay, consegue por meio de uma ótima edição e montagem contar a trajetória de um dos artistas mais peculiares da história da música popular brasileira, por ele mesmo. Dirigido por Nelson Motta e Renato Terra, com manchetes de jornais, vídeos da vida pessoal, entrevistas na televisão, imagens inéditas, até mesmo uma passagem de um curta-metragem da década de 80 do cineasta Flávio Ramos Tambellini, e também gravações na antiga TV Tupi, o projeto nos mostra vários momentos do eterno síndico.
Caçula de onze irmãos de uma família tijucana pobre dos anos
50, Tim Maia andava muito entre as famosas ruas do bairro da zona norte do Rio
de Janeiro, Haddock Lobo e Rua Matoso, por aí começou sua trajetória. Com uma
série de entrevistas e papos com amigos, histórias dos tempos que entregava
marmita (inclusive na casa do Erasmo
Carlos) estão presentes. Já perto dos 12 anos iniciou o fascínio pela
música com um violão de presente dado pelo pai, dali formou um conjunto ‘Os
Tijucanos do Ritmo’, na igreja onde frequentava. Depois os Sputniks, já com Roberto Carlos.
No final da década de 50 ele foi para os Estados Unidos com
um grupo de padres, após a decepção com o término dos Sputniks. Lá ele morou na
cidadezinha de Tarrytown, em Nova Iorque, onde trabalhou como enfermeiro,
mordomo, trabalhando cerca de 12 horas por dia mas sempre tendo a música em
paralelo. No final da década de 60, alguns artistas começaram a gravar suas
composições, como Elis Regina que
gravou ‘These are the Songs’. Logo começou a aparecer no cenário musical
chegando inclusive a ter música em trilha sonora de novela, com ‘João Coragem’
música de ‘Irmãos Coragem’, novela escrita por Janete Clair.
A relação de seu profissionalismo (que às vezes ficava de
lado, faltando muitos shows) e a irreverente genialidade musical, ele que não
sabia escrever música e tentava transmitir aos maestros o que precisa sair de
som para entrar sua voz, marcam presença no projeto. Há relatos curiosos sobre
composições marcantes, um deles: o dia que na parede de um lugar onde estava se
sentindo sozinho, viu um retrato de uma moça na parede e um mar por trás, assim
surgiu o sucesso ‘Azul da Cor do Mar’.
Algumas polêmicas também não faltam por aqui, seu
envolvimento com uma curiosa seita, seus problemas com os vícios, com a lei. Ao
mesmo tempo, também conferimos trechos de apresentações arrepiantes de um dos
criadores do Soul brasileiro que chegam mais presente no desfecho, no último
episódio. Vale Tudo com Tim Maia ativa
nas nossas memórias sobre esse cantor especial, contador e protagonista de
muitas histórias.