O luto e as maneiras que o protagonista encontra para passar por essa situação acabam sendo o grande ponto de partida do projeto que foi exibido no Festival de Locarno, Festival do Rio 2022 e foi o filme de abertura do Nono Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo, Última Dança. Escrito e dirigido pela cineasta suíça Delphine Lehericey, o filme possui um leve toque de comédia mas não chega às barreiras do melodrama, leva o público por um caminho bastante objetivo encontrando soluções lógicas para os conflitos, além de refletir sobre a aproximação da arte através da saudade.
Na trama, conhecemos o ocioso Germain (François Berléand), um homem já com certa idade, beirando aos 70 e
poucos anos, que gosta de escrever e vive dias tranquilos com a esposa em uma
casa confortável. Quando ela é chamada para uma remontagem de um espetáculo de
dança, dias antes de começar os ensaios, acaba falecendo. Seus filhos se
mobilizam para ajudá-lo a passar por essa perda tão recente. Germain fica
arrasado e para lidar com o luto, passando por todos os seus estágios, resolve
participar do espetáculo no lugar da esposa. Só que ele faz isso escondendo a
informação dos filhos, situação que gera mais alguns conflitos.
Há um certo romantismo durante esse recorte sobre o luto,
também nas maneiras que o corpo pode representar os sentimentos. Esse
rompimento do vínculo do amor, da pessoa que está mais próxima de Germain
durante toda sua vida, é a força dessa história. O roteiro explora o abstrato (buscando
encontrar sentidos), amor, a ausência, uma redescoberta do viver, também a
saudade em alguns momentos. Há um protagonista em conflito, confuso, que usa de
sua teimosia para cumprir com o desejo da esposa. A sua caminhada chegando pela
arte no combate ao ócio é uma questão existencialista que fica implícita.
Delphine Lehericey conduz com muita delicadeza essa história que esbarra nos clichês mas sem deixar de lado um carisma contagiante. O desabrochar para o fascinante universo da dança não deixa de ser uma inspiração. Germain, que antes de ter coragem para convidar a futura esposa para sair pela primeira vez, trocou cartas com a amada por um ano, era um acomodado, descrente, que acaba descobrindo na dança uma maneira de sempre estar com as lembranças presentes de um alguém que nunca deixará de amar.