Ação, drama e aventura em um enorme aulão sobre a imposição de autoridade de uma cultura sobre outra. Uma das maiores surpresas do mundo do cinema nesse ano de 2022, o longa-metragem indiano RRR: Revolta, Rebelião, Revolução indicado à duas categorias no Globo de Ouro 2023, tem uma narrativa dinâmica, pulsante, que apresenta ao público dois heróis que lutam quase na contramão contra um mesmo inimigo em uma Índia dominada pelos ingleses nos anos 20. Tem drama, tem surpresas, tem musical, tem cenas de ação de tirar o fôlego, numa história empolgante que gira em torno da amizade de dois lutadores pela liberdade da Índia nunca se conheceram na vida real.
Na trama, ambientada na década de 20 em uma enorme região da
Ásia meridional colonizada pelos ingleses (que hoje conhecemos como a Índia)
conhecemos uma jovem, integrante de uma pequena tribo, que é levada por um
governador britânico e sua esposa contra vontade da família. Um integrante
dessa tribo, o guerreiro gente boa Komaram Bheem (N.T. Rama Rao Jr.) jura a sua tribo ir até o poderoso palácio de domínio
inglês e resgatar a jovem sequestrada. Em paralelo a isso, conhecemos a história
de um integrante do exército britânico, de origem indiana, chamado Alluri
Sitarama Raju (Ram Charan Teja) que
está num presente em busca de maior reconhecimento para seus feitos no exército.
Quando alta cúpula britânica descobre que Komaram Bheem quer resgatar a criança
sequestrada, uma mobilização é feita como proteção ao governador e essa pode
ser a chance de Alluri Sitarama Raju em se destacar. Só que as surpresas nessa
história estão em todo lugar, Komaram Bheem e Alluri Sitarama Raju acabam de se
tornando grandes amigos sem saberem dos segredos guardados de um e do outro.
A revolução e o contexto do colonialismo. Dirigido pelo
cineasta S.S. Rajamouli, RRR: Revolta, Rebelião, Revolução tem
seu alicerce no contorno político muito conhecido do período onde a Índia (com
o Paquistão inclusive) era dominada pelos britânicos desde o século XVIII. A
partir daí, uma pitada de fantasia, mencionando verdadeiros revolucionários
contrários ao colonialismo e que sempre buscaram a independência indiana (mas
que nunca se conheceram), é inclusa nas linhas do roteiro assinado por Vijayendra Prasad, Sai Madhav Burra e Madhan Karky. O filme foca numa
espécie de prelúdio da pré-independência desses dois aqui carismáticos
personagens que possuem qualidades e defeitos nas resoluções dos conflitos que
aparecem. Essa questão do herói é um
ponto fixo dentro da narrativa, há uma luta entre heróis e vilões. Essa reta maniqueísta
simplifica, até mesmo esteriotipa, as linhas do roteiro mas consegue alcançar profundidade
pelo contexto geopolítico amarrado nos conflitos.
O dinamismo do roteiro chama a atenção. Em um generoso
espaço de tempo (afinal são mais de três horas de duração de fita), o projeto
consegue detalhismo na força de um país muito rico culturalmente, com enorme
biodiversidade, diversidade linguística, que tem a segunda maior população do
planeta e ainda é o berço de quatro das principais religiões do mundo:
hinduísmo, budismo, jainismo e siquismo. RRR:
Revolta, Rebelião, Revolução leva também ao mundo a força do cinema de Tollywood
(cinema indiano dedicado à produção de filmes na língua telugu), se tornando o
primeiro filme indiano a arrecadar mais de 100 milhões de dólares em bilheteria
pelo mundo desde a chegada da COVID-19. O filme está disponível na Netflix.